O melhor café você conhece pelo cheiro

sábado, 30 de agosto de 2008

Aqui

Eu, eu, também sou assim. Pronto e forte tendo em cima do armário um caminhão pipa. Logo, somos viajantes.

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Manifesto-Me.

Escrevo este manifesto
Para manifestar a mim mesmo
Para expor-me em defeitos
E procurar nisso
Um conserto
Um concerto

Uma harmonia das partes
Que não o todo
A sintonia que cabe
Não só no bolso
Mas em todo o corpo.

Cansado, extenuado, destruído.
Adjetivos são poucos para o meu crime
E meu castigo.

Manifesto-me
O desejo de ser outrem
O desejo de reparação
A vontade
Dotada de alma e galochas
de reconstrução.

Estou pronto para acabar
E nisso, confesso
Pronto também para se refundir

Buscando na fossa a embarcação
Achando por entre migalhas
Um todo um pão

Eu estou manifestando-me
E espelhando-me em putrefação
Minhas cores e dores são agudas
E são ajustes da minha condição
Não posso mais
Nem me enganar
Nem te ferir
Nem magoar o pêssego
Que seja!

Eu me manifesto hoje agora dessa maneira
Como desejo maior
Como caralho, desejo, de mudança!

Como germinar
A semente e nutrir seu ventre de glória
Assim
Fazer crescer é antes do que o acaso
É, sobretudo,
Sobretudo,
O meu querer.

O rumo de minhas confidências
O tremor de minha indecisão
Hoje para mim crescer é até mesmo
Saber-se salvo em solidão.

Alguém me escuta?

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Essa noite comerei teu cadaver.
Frio.
Essa noite desmacharei seus sonhos.
Vazios.
Essa noite chorarei em um canto.
Sozinho.
Essa noite podarei suas flores.
Solitárias.
Essa noite destruirei seu desejos.
...

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Chega

Vou andando, não paro. Seguindo, perdido, cego cego cego. Não é treva não. É tudo claro demais, tudo branco nem naquele livro que não li. Paro, dou um giro e continuo. Agora na ponta do pé. O caminho é muito tranqüilo e muito trsite.
Quanto ao teatro: ser assistido por outros artistas e sair pra tomar cerveja com eles depois. É só isso? Se for, não vejo um pingo de graça.
Quanto ao amor: desde o primeiro homem beijei venho escutando: "Não queria te machucar..." Seá que é assim com todo mundo? Essa frase vem repetindo. É ela que machuca. Vem ganhando novos sentidos, novos sabores. Vou me acostumando, fazendo que sim com a cabeça. Essas coisas. Bom, agora que seja tudo de qualquer maneira. A poesia não deu em nada esse tempo todo. Ela.
Pensei que...mas...não...quase...juro...não quero ir hoje mas não tenho o direito aquiaquiaqui...me...segura...lugar nenhum. Frio. É isso. Sinto frio. Neste momento só tenho vontade de fechar os olhos.

Mas agora são 01:07, e estou um pouco mais tranqüilo e enxergando caminhos.

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sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Saudade II - A revanche.


E mais. Eu volto sempre porque você me completa. Queria ser menininha que gosta de menininha. Ou menininho que gosta de menininha. E queria ficar do seu lado. Um dia não encontro alguém assim. Isso é uma declaração de amor. Eu amo de maneira estranha. Assim é melhor. Melhor que amar como todo mundo.

Dândi? Dando? Dados?

Uma vez um amigo me chamou de dândi, ainda bem que eu já sabia o que queria dizer.

Disse que eu olhava o mundo e as pessoas que se fossem mais qualquer coisa e que eu não demonstrava me importar tanto com o que os outros pensam. Procuro saber até onde isso é verdade.

Tem meias-verdades.

Não me importo tanto com o conhecimento apesar de absorvê-lo. E não gosto de não conhecer as coisas.

Essas manias poéticas. Essas manias que artistas têm de serem poéticos. Essas éticas. Essas políticas. Essas roupas. Essa mania de querer, de vistir, de existir.

Não importa. Beckett é Beckett pra mim. Camus é Camus pra mim. Sartre é Sartre pra mim. Pros outros não é e que se foda. Mas encontrei pra quem fosse.

Então eu olho o céu e pergunto pra que tudo isso. Existe céu. Pra que existencialismo? Pra que medo? Pra que morte?

Minha vida é uma tentativa de nada com algo. Existe um passado. Mas não me pertence. As pessoas se tornam passado. Meu passado se torna passado. Não existe futuro. Não existe passado. Tudo é um grande acumulo do agora. Tranquei a faculdade. Vi filmes de terror. Joguei video game. Transei. Bebi. Dancei.

ME PERGUNTEM! O QUE ISSO ACRESCENTOU?

Pra que acrescentar? As coisas, as vontades, a vida acontece. Eu largo o que eu quero e faço o que eu quero da maneira como eu quero dentro de regras, fora da liberdade, crio minha própria liberdade. Não importa se nada me acrescenta, me importa que eu vivi da minha maneira. Assim como meus pais. Assim como minha vó. Não cremos em nada. Só na natureza. Minha mãe acredita em Deus. Eu acredito em Deus, mas não. Deus é o que eu toco, o que eu sinto. É o Deus do meu pai.

Não me importo com meu futuro. Não existe futuro, existem urgências. Não sou mais um e vivo como eu quero. como eu quero. como eu quero.

Eu sou obtuso sim. por opção.

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Saudade

Dá uma vontadezinha de chorar.
A gente se contém.
E passa a olhar de lado.
Como um olhar de esquina.
Da gente obtusa que se é.



quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Com Beckett

Um Dia a Menos

1.

Margarida: (deitada de costas no escuro. Abre e fecha os olhos. Só uma pequena parte do que é dito pode ser comprovada.) Eu desconfio que a morte vem. Morte? Será que uma vez os tão longos dias terminem? Assim devaneio calma, quieta. Será que a morte é um blefe? Um truque da vida? É perseguição? E assim é.

2.

Troca de roupa, acende o primeiro cigarro.

Voz: (A voz chega a ela ora de um lado ora de outro. Ora fraca e distante, ora um sussurro no seu ouvido. No curso de uma única frase pode mudar o local e o tom. Seus longos silêncios são outra característica.) Era um cigarro de marca cara, desse fumo louro, cigarrilha estreita e comprida, qualidade social de uma pessoa que não era por acaso ela. Aliás, por mero acaso, não era muitas coisas. E por mero acaso havia nascido. E depois? Depois. Depois. Pois então. Assim mesmo. Não é?

Margarida: Então pois então é assim mesmo.

Augusta: Há melhoria depois.

Margarida: Assim mesmo havia já chegado de assim era.

3.

Margarida: O jornal. (Meio animada, vai pegar o jornal.)

Luta 1: Ela pega o jornal.

Margarida: (Lê no jornal) Margarida Flores, Rua General Isidro.

Luta 2: Vizinho pega o jornal.

Luta 1: Ela pega o jornal.

Margarida: Margarida Flores.

Criança: (correndo) Margarida Flores de Enterro.

Margarida: (repreensiva) Margarida Flores de Jardim.

Voz: É que simplesmente as coisas não eram do seu lado. Pensou uma bobagem, até sua pequena cara era de lado. Em esquina. Nem pensava se era bonita ou feia. Ela era óbvia.

4.

Telefone toca.

Voz: Depois. Depois não tinha problemas de dinheiro. Depois havia o telefone.

Margarida faz que vai ligar para alguém.

Voz: Mas sempre que telefonava tinha a impressão nítida que estava sendo importuna. Por exemplo, interrompendo um abraço sexual. Ou então era importuna por falta de assunto.

Telefone toca.

Margarida: (contendo o trêmulo da voz) Alô? Sim?

Telefone, voz macia de homem: É Margarida Flores de Jardim?

Margarida: Margarida Flores de Bosques Floridos!

Voz: Para um drinque se deveria ir na certa vestida de modo mais audacioso, mais misterioso, mas pessoal, mais... Ela não era muito pessoal. E que incomodava um pouco, não muito. E, além do mais, o telefone não tocou.

5.

Margarida: (Fala de si mesmo como se fosse de outro.) Sempre há alguma coisa pela qual se guiar e arrumar. Diz falando de si, Ela fala de si mesma falando de outro. Também se inventa, pela companhia. Quanto a ela mesma, ela se guiava pelo fato de não ser casada, de ter a mesma empregada desde que nascera, de ser uma mulher de trinta anos de idade, pouco batom, roupa pálida... e que mais? Evitou depressa “o que mais” pois a essa pergunta cairia num sentimento muito egoísta e ingrato: sentir-se-ia só, o que era pecado porque quem tem Deus nunca está só. Tinha Deus, pois não era a única que o tinha? Fora Augusta.

6.

Banho de talco, libidinoso.

7.

Homem: Flauta e Viola.

Voz: Como se “flauta e viola” fossem na realidade o seu secreto, ambicionado e inalcançável modo de ser.

Margarida: (baixo) Flauta e viola.

8.

Margarida Fuma Diante da Televisão.

9.

Telefone toca.

Voz: (para Margarida) Conte os passos e multiplique por dez. E some. Conte os passos.

Margarida corre rápido, depois diminui a velocidade bruscamente.

Voz: (durante a corrida) Ela costumava contar as coisas, por uma espécie de mania de ordem, afinal inócua e até divertida. Acha consolo nos números. Partes de um certo ritmo cardíaco e calcula quantas batidas por dia. Por semana. Por mês. Por ano.

Margarida: (estaca) ACONTECEU! Juro!

Telefone toca 4 vezes.Sente uma dor aguda no coração a cada toque.

Margarida: (com voz bem negligente) Alô...

Constança: (voz rouca de mulher velha) Por obséquio, por favor, pode chamar ao aparelho para mim a Flávia? Meu nome é Constança.

Margarida: (Inflexão monótona. Sem vida. Sempre a mesma inflexão monótona. ) Madame Constança, sinto lhe informar que nesta casa não vive ninguém com o nome de Flávia, sei que Flávia é um nome muito romântico, mas é que não tem aqui nenhuma, que é que eu posso fazer?

Constança: Mas essa não é a rua General Isidro?

Margarida: É, sim, mas que número de telefone pediu? O quê? O meu? Mas lhe asseguro que moro aqui há exatamente trinta nos, quando nasci, e nunca houve nesta casa nenhuma jovem chamada Flávia!

Constança: Jovem, coisa alguma, Flávia é um ano mais velha que eu e se esconde a idade isso é problema dela!

Margarida: Talvez não esconda a idade, quem sabe, Madame Constança.

Constança: Que esconde, lá isso esconde, mas pelo menos faça-me o favor de lhe dizer que atenda logo o aparelho e já!

Margarida: Eu... eu... eu estava tentando lhe dizer que nossa família foi a primeira e única moradora desta casinha e lhe afianço, juro por Deus, que nunca morou aqui nenhuma senhora Flávia, e não estou dizendo que a senhora Flávia não existe, mas aqui, minha senhora, aqui -não e-x-i-s-t-e...

Constança: Deixe de ser grosseira, sua sirigaita! Aliás como é o seu nome?

Margarida: Margarida Flores do Jardim.

Constança: Por quê? Há flores no jardim?

Margarida: Ah, ah, ah, a senhora tem bom humor! Não, não há, flores no jardim mas é que meu nome é florido.

Constança: E isso adianta alguma coisa?

Silêncio.

Constança: Adianta ou não adianta, enfim?

Margarida: É que não sei responder porque nunca tinha antes pensado nisso. Só sei responder coisas que já pensei.

Constança: Então faça uma forcinha e mentalize o nome de Flávia e verá que saberá responder.

Margarida: Estou mentalizando, estou mentalizando... Ah, encontrei! O nome de minha empregada de criação é Augusta!

Constança: Mas, criatura de Deus, estou perdendo a paciência, não é de empregada de criação que quero, é Flá-vi-a!

Margarida: Não quero parecer grosseira, mas minha mãe sempre disse que as pessoas insistentes são mal-educadas, desculpe!

Constança: Mal-educada? Eu? Criada em Paris e Londres? Você ao menos sabe francês ou inglês, só para praticarmos um pouco?

Margarida: Só falo a língua do Brasil, minha senhora, e creio que é tempo da senhora desligar porque a essa hora meu chá deve estar gelado.

Constança: Chá às três horas da tarde? Bem se vê que você não tem a mínima classe, e eu a pensar que você pudesse ter estudado na Inglaterra e que soubesse pelo menos a que horas se toma chá!

Margarida: O chá é porque eu não tinha o que fazer... Madame Constança. E agora eu lhe imploro em nome de Deus que não me torture mais, imploro de joelhos que desligue o telefone para eu acabar de tomar meu chá brasileiro.

Constança: É, mas não precisa choramingar por isso, Dona Flores, minha única e pura intenção era falar com Flávia para convidá-la para um joguinho de bridge. Ah! Tive uma idéia! Já que Flávia saiu, por que é que você não vem à minha casa para umas carteadas a dinheiro baixo? Hein? Que acha? Não se sente tentada? E que acha de distrair uma senhora já de certa idade?

Margarida: Meu Deus, não sei jogar jogo nenhum.

Constança: Mas como não?!

Margarida: É isso mesmo. É como não.

Constança: E a que se deve essa falha na sua educação?

Margarida: Meu pai era estrito: na sua casa não entravam vícios de baralho.

Constança: Seu pai, sua mãe e Augusta eram muito antiquados, se me permite dizer e acho que...

Margarida: Não! Não lhe permito dizer! E quem vai desligar o telefone sou eu mesma, com licença de sua madame (deixou o telefone fora do gancho).

10.

Voz: Hora do jantar! (Pausa) Hora de deitar!

Margarida entrou na cama, sob as cobertas. De olhos abertos. Pega as pílulas.

Pai: Cuidado, Leontina, com a dose, uma dose a mais pode ser fatal.

Margarida: Eu, respondia Leontina, não quero largar esta boa vida tão cedo, e só tomo duas pilulazinhas, o suficiente para ter um sono tranqüilo e acordar toda rosada para meu maridinho.

Voz: Não tinha nenhuma má intenção. Foi buscar um copo. Abriu um dos vidros: tirou duas das pequenas pílulas. Tinha gosto de mofo e açúcar. Não notava em si a menor má intenção.

Copo após copo engoliu todas as pílulas dos três grandes vidros.

Margarida: (tomando o segundo vidro.) Eu.

Voz: E não era um simples ensaio: era na verdade uma estréia. Toda ela enfim estreava. E antes mesmo que terminassem, já sentia uma coisa nas pernas, tão boa quanto nunca antes sentira. Ela nem sabia que era domingo.

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Um dia a menos

"Eu desconfio que a morte vem. Morte?
Será que uma vez os tão longos dias terminem?
Assim devaneio calma, quieta. Será que a morte é um blefe?
Um truque da vida? É perseguição?
E assim é.

O dia começa às quatro da manhã, sempre acordara cedo, já encontrando na pequena copa a garrafa térmica cheia de café. Tomou uma xícara morna e lá ia deixá-la para Augusta lavar, quando se lembrou que a velha Augusta pedira licença por um mês para ver seu filho.
Teve preguiça do longo dia que se seguira: nenhum compromisso, nenhum dever, nem alegrias nem tristezas. Sentou-se, pois, com o robe de chambre mais velho, já que nunca esperava visitas. Mas estar tão mal vestida _ roupa ainda da falecida mãe _ não lhe agradava. Levantou-se e vestiu um pijama de sedinha de bolas azuis e brancas que Augusta lhe dera no seu último aniversário. Isso realmente melhorava. E melhorou ainda mais quando sentou na poltrona recém-forrada de roxo (gosto de Augusta) e acendeu o primeiro cigarro do dia. Era um cigarro de marca cara, desse fumo louro, cigarrilha estreita e comprida, qualidade social de uma pessoa que não era por acaso ela. Aliás, por mero acaso, não era muitas coisas. E por mero acaso havia nascido.

E depois?
Depois.
Depois.
Pois então.
Assim mesmo.
Não é?
Então, revelou-se subitamente: então pois então era assim mesmo. Augusta lhe contara que havia melhoria depois. Assim mesmo havia já chegado de assim era.

Lembrou do jornal por assinatura à sua porta de entrada. Lá foi meio animada, nunca se sabe o que se vai ler, se o ministro da Indochina vai se matar ou o amante ameaçado pelo pai da noiva termina se casando.

Mas lá não estava o jornal: o diabrete do vizinho inimigo já devia ter carregado com ele. Era uma luta constante a de ver quem chegava primeiro ao jornal que, no entanto, tinha claramente impresso seu nome: Margarida Flores. Além do endereço. Sempre que distraidamente via seu nome escrito lembrava-se de seu apelido na escola primária: Margarida Flores de Enterro. Por que alguém não se lembrava de apelidá-la de Margarida Flores de Jardim? É que simplesmente as coisas não eram do seu lado. Pensou uma bobagem, até sua pequena cara era de lado. Em esquina. Nem pensava se era bonita ou feia. Ela era óbvia.

Depois.

Depois não tinha problemas de dinheiro.
Depois havia o telefone. Telefonaria para alguém? Mas sempre que telefonava tinha a impressão nítida que estava sendo importuna. Por exemplo, interrompendo um abraço sexual. Ou então era importuna por falta de assunto.

E se alguém lhe telefonasse? Iria ter que conter o trêmulo da voz por alguém enfim chamá-la. Supôs o seguinte:

-Trim-trim-trim.
-Alô? Sim?
-É Margarida Flores de Jardim?
Diante da voz tão macia, responderia:
-Margarida Flores de Bosques Floridos!
E a cantante voz a convidaria pra tomarem chá de tarde na Confeitaria Colombo. Lembrou-se a tempo que hoje em dia um homem não convidava para tomar chá com torradas e sim para um drinque. O que já complicaria as coisas: para um drinque se deveria ir na certa vestida de modo mais audacioso, mais misterioso, mas pessoal, mais... Ela não era muito pessoal. E que incomodava um pouco, não muito.
E, além do mais, o telefone não tocou.

Depois. Era o que via quando se via no espelho. Raramente se via ao espelho, como se já se conhecesse muito. E ela comia muito, Era gorda e sua gordura extremamente pálida e flácida.

Depois resolveu arrumar a gaveta das calcinhas e sutiãs: ela era exatamente do tipo que arrumava gavetas de calcinhas e sutiãs, sentia-se bem na delicada tarefa. E se fosse casada, o marido teria em perfeita ordem a fileira das gravatas, segundo a gradação de cor, ou segundo... Segundo qualquer coisa. Pois sempre há alguma coisa pela qual se guiar e arrumar. Quanto a ela mesma, ela se guiava pelo fato de não ser casada, de ter a mesma empregada desde que nascera, de ser uma mulher de trinta anos de idade, pouco batom, roupa pálida... e que mais? Evitou depressa “o que mais” pois a essa pergunta cairia num sentimento muito egoísta e ingrato: sentir-se-ia só, o que era pecado porque quem tem Deus nunca está só. Tinha Deus, pois não era a única que o tinha? Fora Augusta.
Então foi tomar um banho que lhe deu tanto prazer que não pôde impedir de pensar como seriam outros prazeres corpóreos. Ser virgem aos trinta anos, não tinha jeito, a menos que fosse violentada por um marginal. Acabados o banho e os pensamentos, talco, talco, talco. E quantos e quantos desodorantes: duvidava que alguém no Rio de Janeiro cheirasse menos que ela. Talvez fosse a mais inodora das criaturas. E do banheiro saiu a modo de dizer em leve minueto.

Depois.
Depois viu com grande satisfação no relógio da cozinha, já eram onze horas da manhã... Como o tempo passara depressa desde quatro da madrugada. Que dádiva o tempo passar. Enquanto esquentava a galinha esbranquiçada e pelenta do jantar, ligou o rádio e pegou um homem no meio de um pensamento: “flauta e viola”... disse o homem e de repente ela não agüentou e desligou o rádio. Como se “flauta e viola” fossem na realidade o seu secreto, ambicionado e inalcançável modo de ser. Teve coragem e disse baixinho: flauta e viola.
Desligado o rádio e sobretudo o pensamento, os quartos caíram num silêncio: como se alguém em alguma parte acabasse de morrer e... Mas felizmente havia o barulho da frigideira esquentando os pedaços de galinha que, quem sabe, ganhariam alguma cor e sabor. Pôs-se a comer. Mas logo percebeu seu erro: tendo tirado a galinha da geladeira e só a esquentando um pouco, havia trechos em que a gordura era gelatinosa e fria, e outros em que era queimada e esturricada.
Sim.
E a sobremesa? Requentou um pouco de café da manhã e temperou-o com amarga sacarina para jamais engordar. Seu orgulho seria ser quase mirradinha.

Depois.
Lembrou-se a troco de nada das milhões de pessoas com fome, na sua terra e nas outras terras. Iria sentir um mal-estar todas as vezes em que comesse.

Depois.
Depois! Como havia esquecido a televisão? Ah, sem Augusta ela esquecia-se de tudo. Ligou-a toda esperançosa. Mas a essa hora só dava filmes antigos de faroeste entremeadíssimos com anúncios sobre cebolas, modess, groselhas que deveriam ser boas mas engordativas. Ficou olhando. Resolver acender um cigarro. Isso melhoria tudo pois faria dela um quadro numa exposição: Mulher Fumando Diante de Televisão. Só depois de muito tempo percebeu que nem sequer olhava a televisão e só fazia mesmo era gastar eletricidade. Torceu o botão com alívio.

Depois.
Depois?
Depois resolveu ler revistas velhas, há muito tempo que não o fazia. Estavam amontoadas no quarto da mãe, desde a sua morte. Mas eram um pouco antigas demais, algumas do tempo de solteira da mãe, as modas eram outras, os homens todos tinham bigodes, anúncio de cinta para afinar cintura. E sobretudo todos os homens usavam bigodes. Fechou-se, de novo sem coragem de jogá-las fora jpa que haviam pertencido à mãe.

Depois.
Sim e depois?
Depois de foi ferver água para tomar chá, enquanto ela não esquecia que o telefone não tocava. Se ao menos tivesse colegas de trabalho, mas não tinha trabalho: a pensão do pai de da mãe supria suas poucas necessidades. Além do que não tinha letra bonita e achava que sem ter letra bonita não aceitavam candidatos.
Tomou o chá fervendo, mastigando pequenas torradas secas que arranhavam as gengivas. Melhorariam com um pouco de manteiga. Mas, é claro, manteiga engordava, além de aumentar o colesterol, o que quer que signifique essa palavra moderna.
Quando ia partinho com os dentes a terceira torrada – ela costumava contar as coisas, por uma espécie de mania de ordem, afinal inócua e até divertida -, quando ia comer a terceira torrada...

ACONTECEU! Juro, se disse ela, juro que ouvi o telefone tocar. Cuspiu na toalha o pedaço da terceira torrada e, para não dar a entender que era uma precipitada ou uma necessitada, deixou-o tocar quatro vezes, e cada vez era uma dor aguda no coração pois poderiam desligar pensando que não havia ninguém em casa! A esse pensamento terrificante precipitou-se de súbito nessa mesma quarta chamada e conseguiu dizer com voz bem negligente:
-Alô...
-Por obséquio – disse a voz feminina que devia ter mais de oitenta anos a julgar pela rouquidão arrastada – por favor pode chamar ao aparelho (ninguém dizia mais “aparelho”) para mim a Flávia? Meu nome é Constança.
- Madame Constança, sinto lhe informar que nesta casa não vive ninguém com o nome de Flávia, sei que Flávia é um nome muito romântico, mas é que não tem aqui nenhuma, que é que eu posso fazer? -disse com certo desespero por causa da voz de comando de Madame Constança.
-Mas essa não é a rua General Isidro? Isso piorou a questão. -É, sim, mas que número de telefone pediu? O quê? O meu? Mas lhe asseguro que moro aqui há exatamente trinta nos, quando nasci, e nunca houve nesta casa nenhuma jovem chamada Flávia!
-Jovem, coisa alguma, Flávia é um ano mais velha que eu e se esconde a idade isso é problema dela!
-Talvez não esconda a idade, quem sabe, Madame Constança.
-Que esconde, lá isso esconde, mas pelo menos faça-me o favor de lhe dizer que atenda logo o aparelho e já!
-Eu... eu... eu estava tentando lhe dizer que nossa família foi a primeira e única moradora desta casinha e lhe afianço, juro por Deus, que nunca morou aqui nenhuma senhora Flávia, e não estou dizendo que a senhora Flávia não existe, mas aqui, minha senhora, aqui -não e-x-i-s-t-e...
-Deixe de ser grosseira, sua sirigaita! Aliás como é o seu nome?
-Margarida Flores do Jardim.
-Por quê? Há flores no jardim?
-Ah, ah, ah, a senhora tem bom humor! Não, não há, flores no jardim mas é que meu nome é florido.
-E isso adianta alguma coisa?
Silêncio.
-Adianta ou não adianta, enfim?
-É que não sei responder porque nunca tinha antes pensado nisso. Só sei responder coisas que já pensei.
-Então faça uma forcinha e mentalize o nome de Flávia e verá que saberá responder.
-Estou mentalizando, estou mentalizando... Ah, encontrei! O nome de minha empregada de criação é Augusta!
-Mas, criatura de Deus, estou perdendo a paciência, não é de empregada de criação que quero, é Flá-vi-a!
-Não quero parecer grosseira, mas minha mãe sempre disse que as pessoas insistentes são mal-educadas, desculpe!
-Mal-educada? Eu? Criada em Paris e Londres? Você ao menos sabe francês ou inglês, só para praticarmos um pouco?
-Só falo a língua do Brasil, minha senhora, e creio que é tempo da senhora desligar porque a essa hora meu chá deve estar gelado.
-Chá às três horas da tarde? Bem se vê que você não tem a mínima classe, e eu a pensar que você pudesse ter estudado na Inglaterra e que soubesse pelo menos a que horas se toma chá!
-O chá é porque eu não tinha o que fazer... Madame Constança. E agora eu lhe imploro em nome de Deus que não me torture mais, imploro de joelhos que desligue o telefone para eu acabar de tomar meu chá brasileiro.
-É, mas não precisa choramingar por isso, Dona Flores, minha única e pura intenção era falar com Flávia para convidá-la para um joguinho de bridge. Ah! Tive uma idéia! Já que Flávia saiu, por que é que você não vem à minha casa para umas carteadas a dinheiro baixo? Hein? Que acha? Não se sente tentada? E que acha de distrair uma senhora já de certa idade?
-Meu Deus, não sei jogar jogo nenhum.
-Mas como não!?
-É isso mesmo. É como não.
-E a que se deve essa falha na sua educação?
-Meu pai era estrito: na sua casa não entravam vícios de baralho.
-Seu pai, sua mãe e Augusta eram muito antiquados, se me permite dizer e acho que...
-Não! Não lhe permito dizer! E quem vai desligar o telefone sou eu mesma, com licença de sua madame.
Enxugando os olhos, sentiu-se por um instante aliviada e teve uma idéia tão nova que nem parecia dela: parecia demoníaca como as idéias da madarne... Era tirar o telefone do gancho para que, se a Madame Constança fosse constante como o seu nome, não tornasse a ligar para chamar a desgraçada Flávia. Assoou o nariz. Ah, se não tivesse bons costumes, o que não diria à tal da Constança! Até já escava arrependida do que não lhe dissera por ter bons costumes.
Sim. O chá escava gelado.
E com gosto acentuado de sacarina. A terceira torradinha cuspida na coalha da mesa. A tarde estragada. Ou o dia estragado? Ou a vida estragada? Nunca se detivera para pensar se era ou não feliz. Então, em vez de chá, comeu uma banana um pouco ácida.

Depois.
Depois. Depois eram quatro horas.
Depois cinco.
Seis.
Sete: hora do jantar!
Gostaria de comer outra coisa e não a galinha de ontem mas aprendera a não desperdiçar comida. Comeu uma coxa ressequida com torradinhas. Para falar a verdade. não tinha fome. Só às vezes se animava com Augusta porque falavam, falavam e comiam, ah, comiam fora da dieta e nem engordavam! Mas Augusta ia se ausentar um mês. Um mês é uma vida.
Oito horas. Já podia se deitar. Escovou os dentes durante muito tempo, pensativa. Vestiu uma camisola rasgadinha de algodão meio puído, daqueles gostosos, ainda das feitas pela mãe. E entrou na cama, sob as cobertas.

De olhos abertos.
De olhos abertos.
De olhos abertos.

Foi então que pensou nos vidros de pílulas contra insônia que haviam pertencido à mãe. Lembrou-se de seu pai: cuidado, Leontina, com a dose, uma dose a mais pode ser fatal. Eu, respondia Leontina, não quero largar esta boa vida tão cedo, e só tomo duas pilulazinhas, o suficiente para ter um sono tranqüilo e acordar toda rosada para meu maridinho.
Isso, pensou Margarida das Flores de Jardim, dormir um bom soninho e acordar rosada. Foi ao quarto de sua mãe, abriu uma gaveta do lado esquerdo da grande cama de casal – e realmente encontrou três vidros cheios de bolinhas. Ia tomar duas pílulas para amanhecer rosada. Não tinha nenhuma má intenção. Foi buscar a jarra e um copo. Abriu um dos vidros: tirou duas das pequenas pílulas. Tinha gosto de mofo e açúcar. Não notava em si a menor má intenção. Mas ninguém no mundo saberá. E agora para sempre não saberá julgar se foi por desequilíbrio ou enfim por um grande equilíbrio: copo após copo engoliu todas as pílulas dos três grandes vidros. Mas no segundo vidro pensou pela primeira vez na vida: “Eu”. E não era um simples ensaio: era na verdade um estréia. Toda ela enfim estreava. E antes mesmo que terminassem, já sentia uma coisa nas pernas, tão boa quanto nunca antes sentira. Ela nem sabia que era domingo. Não teve força para ir para o seu próprio quarto: deixou-se cair de través na cama onde a tinham gerado. Era um dia a menos. Vagamente pensou: se pelo menos Augusta tivesse deixado pronta uma torta de framboesa."
Clarice Lispector, 1977.














Meu pai queria um nome com A. Pensou Anastácia.
Minha mãe disse não.
Nome feio pra criança!
Mas quanto tempo na vida se passa criança?

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Vontade interrompida

Eu tive vontade de gritar o mais alto. De pular de cabeça lá embaixo. De chamar a atenção. De cortar coração. De cantar. De pular. De tirar o sapato, isso eu fiz. Gritei, cantei também. Queria era sair dali e ir pra um show de rock que há décadas não vou. E fazer rodinha punk. E descargar uma porrada de semi preocupações. Sempre interrompo essas vontades. E fico na mesmice de ser eu.



Fiz um bolo:

2 xícaras de açúcar
2 xícaras de farinha
2 colheres de manteiga
3 ovos
1 xícara de leite
1 colher e meia de fermento

Modo de preparo

Claras separadas
bater junto: manteiga/gema/açúcar
depois: farinha/leite
depois pois: fermento
depois pois pois: clara



Eu fiz uma cobertura de leite condensado com laranja. Ficou ótimo. Não sobrou migalha pra contar história.

sábado, 23 de agosto de 2008

Sonhos de Kurossawa

"Você saiu e viu algo que não deveria ter visto.
Agora não posso deixar você entrar.
Uma raposa zangada apareceu procurando você. Ela deixou isto.
(ENTREGA AO MENINO UM PUNHAL)
Você deve se matar.
Vá lá e peça perdão a elas. Devolva o punhal e diga que lamenta muito.
(FECHANDO O PORTÃO)
Elas não perdoam facilmente. Você precisa estar pronto para morrer. Vá. Ande! A menos que lhe perdoem não posso deixar que entre."

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Vou renascer com tudo que enterrei!

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Dia ébrio

Só pra compartilhar o momento, postagem banal:

Estou bêbado. Mais do que quando estava no bar. Depois, pra mim, é sempre pior (ou melhor), sempre mais forte. Estou ouvindo Travessia na versão da Elis de 74, com guitarras e arranjos experimentais, essas coisas que gosto. Acho que me passaram uma cantada ou uma provocação, ele sempre provoca. Um vez disse aquele “aparece” com aquela cara. Hoje perguntou: “Vai pra casa?”. Disse “vou”. E ele: “Ah!” Poxa, Travessia tá acabando eu nem ouvi profundamente. Nem passei por ela realmente. Gosto da bateria, das pedras na estrada. Ah, vai repetir, nossa, por que, será problema do Nero? Forte eu sou mas não tem jeito hoje eu tenho que chorar minha casa não é minha e nem é meu este lugar e meu irmão ta chagando ouço o barulho da chave estou só e não resisto muito eu tenho pra falar. Tantantantantan solto a voz na estraadasssss. Meu caminho é de peeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeedraaaaa. Hoje tudo está meio bêbado, parece que não estou bêbado de cerveja, mas de um dia inteiro que passou. Gosto tanto da Cecília, espero que ela goste de mim também. Gosto de todos e hoje fali mais com o André embora tenho o visto no almoço e não tenho falado. Na verdade o conheci bêbado em Ipanema. Meu irmão entrou no quarto. Está mostrando fotos de acidente no trabalho, pessoas esmagadas por máquinas, segundo ele, por falta de técnica. Lerauêre.

Dandandandadan. Tun tum. Nada de triste existe que não se esquece. Sonhos. Kurossawa. O medo em minha vida nasceu muito depois. A luz está acesa. Eu estou aceso. Fui provocado e não reagi. Por quê? O que estou esperando? Quem estou esperando?

Hoje foi tudo bom e leve.

To de azul mas parece que to de verde musgo. Beber depois do ensaio é bom, quando pagam sua conta é melhor ainda.

Subi a rua aqui cantando baixinho. É, eu to bêbado mesmo.

Eco.

Os aborígenes dançam e a dança faz parte da vida deles. E a vida deles faz parte da dança. Há uma necessidade de dançar pelo bem estar geral, algo essencial. Onde está nossa essência, nossa necessidade? A sociedade deles é menor e menos complexa. Mas a gente tem que ter necessidade também. Aquele coreógrafo moderno se inspirou neles, esqueci o nome dele e vi o vídeo hoje, era legal. Nossa, to escrevendo tudo errado, mas to corrigindo. Corrigindo tudo. Muito. Tudo tem que estar certo. No vídeo, a coreografia era uma visão não era inspirado. Era rsrsrsrsrsrssr inspiardo nos aborígenes, mas não na forma, mas sim na essência. Bonito. Legal. Bacana.

Lembrei agora de uma coisa: foi pra mim?

Fotos antigas. Que sentido elas fazem?

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sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Vulva

A vulva pede.



Como eu ia dizendo a dessociação de artigos linguais da arte da semana da tres-oxidação nos leva a crer que teatro, em suma, quando se assume as vertentes mais pacatas da sociedade agrária busca mais do que dizer ao que veio. Enfim, fica o recado.

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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Você Não Me Ensinou A Te Esquecer


Não vejo mais você faz tanto tempo
Que vontade que eu sinto
De olhar em seus olhos ganhar seus abraços
É verdade eu não minto
E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra vê se te encontro

Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo agora vou fazer por onde
Nunca mais perdê-la

Agora que faço eu na vida sem você
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar

Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho

Agora que faço eu na vida sem você
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando me encontrar
E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra vê se te encontro

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domingo, 17 de agosto de 2008

O que você estudououououou...?

Segundos, jantei estados sucessais: peço-lhes agora que se segmentem e me tirem do tempo. Durante meu tempo, de tanto ao tanto, comi tanto os espaços lentos e os extremamentes de toda a terra tanto que não tenho mais apetite no espírito: um dois três quatro, quero acabar minha vida nesse segundo. Salve a todos e glória a tudo!

Teu nome? João Gebú. Tua origem? Os túmulos do buraco ibreve. Teus futuros? Os campos pantalônicos.

O que você estudou? Estudei a solidão.

Animais, animais, cada vez que eu vi um outro eu me vi a mim mesmo em pior. Cada vez que vi um outro, sua pugnacidade me espantou.

Eu sou o Homem a quem nada aconteceu. Prefiro me calar a não falar. Ele está ali, ele falou. Quem és tu, tu que és? (...)


NOVARINA, Valère. "O animal do tempo". O animal do tempo / A inquietude. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007, pp 11-12.

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Inveja f... gorda

Imagine andar sempre curvado e curvar tanto tanto depois não conseguir voltar. Imagine caminh com as pessoas te observado e imaginando o jeito que você dorme. Toda imaginação. Tudo imaginado. Rimado. Somado. Ignorado. Como suspirar residências? Hoje o que é o interesse senão o amor? Quem manda pelo correio a fervura do feijão da manhã espera mais que qualquer coisa como resposta. Eu espero uma resposta e nem trabalho com postagens! As coisas não têm estado. Elas passam. Possam por deus... Logo no início o cheiro ultrapassa essas banais caminhos e chega bom mais rápido. Chega logo. Eu sou o que posso Jorge & Balthazar.

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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Sem

Nada.
acabou.

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Vamos montar um infantil!

Vamos montar um infatil. Isso nunca havia antes passado pela minha cabeça. Estou animado e isso me gera uma série de inquietações. Por exemplo, representar um texto feito para crianças me leva, automaticamente, a pensar o quão somos criança ainda e pouco sabemos lidar com certas situações. Me leva a pensar que, de fato, poderemos expor nossa teatralidade sem se preocupar com concepções realistas, naturalistas ou o caralho a quatro. A encenação teatralizada nos permite este luxo, este prazer. Um prazer de se assumir ficcional e extrapolar. Pensar em corpos grandes, caricatos, pensar em marcas e gestos fantasiosos. Vamos fazer um infaltil para adultos o que me atrai mais ainda. Uma parte careta outra talvez mais careta ainda. Pois o grau de caretice não depende de quem faz e sim de quem vê. Aliás, venho pensando muito nisso. Na ética da recepção, no valor de uma imagem e sua projeção. Quanto vale uma imagem e todas elas precisam ser poéticas. Não sei. Como disse, me parece que a poesia está dentro de cada um de nós e a imagem se faz poética a partir de nossa interpretação. Toda obra de arte precisa de um diálogo mesmo que este seja concenido como monólogo. Na verdade quase sempre o é. O artista é um ser solitário e esta idéia me irrita por um todo. Sou artista e não sou solitário. E dentro do maior clichê, posso afirmar o inverso: não, não sou solitário mesmo quando sozinho. Aliás, acho que quando estou sozinho é quando estou menos só. Minha cabeça não para e em frações de segundo o quarto já está repleto de companheiros, discutindo, fofocando, bebericando. Bebericar. Este verbo, que nem sei se existe, é maríssimo. Maríssimo é o superlativo de mara. Pois é, vamos montar um infantil e fico me perguntado como não havia participado de um antes. Em todos os cursos de teatro e oficinas que fiz, os textos trabalhados foram sempre classificados como adulto e bastante densos. Acho que isso me causou marcas e por isso me diverti com esta proposta super nova. Vamos fazer um infantil e, quem sabe assim, com toda seriedade que o trabalho requer, pois teatro é tenso não importando a classe etária, não conseguiremos nos divertir um pouco mais e abstrair um cadinho que seja nossos problemas. Confesso que ando um pouco cansado dos problemas, mas mesmo assim não consigo ignorá-los. Mas confesso também que me dei certas férias e estou procurando não pensar muito neles. Nem pensar muito em você. Nem em mim, principalmente. No momento faço pensar no mundo e a partir de hoje no universo infantil. Este novo mundo de fórmulas que se apresenta pode ser bastante interessante, mas também se mostrar uma ruína. Para que isso não ocorra é preciso atenção, precisão e trabalho. Vamos montar um infantil e para a nossa estréia seus filhos não estão convidados.

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Senhores passageiros

"Eu podia tar roubando, podia tar matando, mas tô aqui pedindo humildemente um pouquinho de amor. Um amozinho pelo amor de Deus, um amorzinho por caridade. Tenham todos uma boa viagem."

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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

ET

Minha irmã tem medo de ET porque quando era mais novo eu vi um e disse pra ela. Não sei se vi de verdade ou não, mas tava lá. Minha teapeuta dizia aos meus pais que eu era esquizofrênico e que materializava todos os meus medos. Eu sempre tive mutos medos. Medo de ET, da morte, de aranha, de insetos, de altura, da solidão, dos colegas da minha classe.

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Morte

Sim, eu sou obcecado pela morte. Pelo medo da morte, pela morte e Deus, pelo desejo de morte, pela beleza da morte, pela tristeza da morte, pela morte do espírito, pela morte da mente, pela morte do corpo, pela morte em vida, pela morte, pela morte, pela morte, pela morte, morte, morte, morte. Quando tinha oito aninhos a morte bateu na janela do meu quarto e disse que ela ia demorar ainda, acordei de manhã e o abacateiro enorme do meu jardim tinha caído em cima da casa. No mesmo dia descobri que o mundo ia acabar no ano dois mil. Fiz muitos tratamentos pois não conseguia dormir. Tinha medo da morte, de ficar sozinho, da janela do meu quarto e do ano dois mil. A morte nunca mais apareceu, nem no ano dois mil. Mas ela ainda me atormenta. Eu tenho medo da solidão. Eu tenho medo de dormir. Tenho medo de dormir fora de casa. Tenho medo de dormir em apartamentos. Não gosto de apartamentos. Eu acho solitário. Eu não tenho medo da água nem do mar.

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Erros, idas e voltas.

Acredito que minha vida vá ser uma sucessão de erros, idas e voltas. Mas nunca me importei muito com isso. Nunca tive uma perspectiva de vida, um projeto pro futuro ou um sonho onde precisa-se me agarrar. As coisas simplesmente vão acontecendo e eu faço conforme minha vontade. Por isso vou cometer muitos erros, pois minhas vontades são muito radicais. E vou sofrer muito com meus erros. E talvez eu nunca aprenda. Mas não existe o que aprender. Não gosto de intelectualismos, academicismo e por aí vai. Eu queria ser mais alienado que sou. Sou agnóstico, sou depressivo, sou volúvel, não acredito em filosofia, nem no teatro, nem em números, nem no dinheiro, nem no amor, nem em pessoas. Mal acredito em mim. Nem tudo o que eu digo é o que parece. E é isso que aprendo cada vez mais sobre mim. Nem tudo o que digo é o que parece. E eu não me importo tanto. Essa é uma das poucas vezes que o que digo é. Eu sou onda. Eu vou, volto, morro na praia. Morrer na praia. Talvez seja uma bela morte para um pisciano possuidor da carta O Louco apaixonado pelo elemento água. A vida é só um jogo e ninguém entendeu, todos levam muito a sério, até eu, mas só quando me deixo levar. Acho que não vou morrer mais enforcado. Eu vou morrer na praia, bem velhinho, eu vou vencer o mar e virar uma onda.

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Gudan

Dispositivo anti-radar.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Live

Você não está no Ponei Mágico! Mas Alanis: is fat... Tá praticamente um pônei. Agora a magia... Atirei o pau no gato. Beijos me liga.

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Porrada

Primeiro ensaio – 30/04/2008

Júlio: Alongamento rápido. Relaxamento. No fim do alongamento ele colocou uma música. Tomás foi surgindo daí. Usou fala durante o relaxamento, não gosto. Pede para ele pensar em uma movimentação nova. Na movimentação estranha, Tomás parece total disponível, não sai ainda do chão. Permanece nele, sai às vezes com o quadril. Buscou o animalesco bem fácil. O farejador do chão. Ele se morde. Levanta. Passa a andar. Girar. Procura algo no teto. Pula. Voltou às quatro patas. Mudança no estilo da música. Tem uma desconcentração. Júlio deve falar mais alto. Tomás usa já objetos da sala. Procurando no próprio corpo, se apalpa. Mãos guiando. Cabeça. Fechou os olhos, vergonha?

Objetos: Pincel, tinta, gaze, papelão. Foi principalmente na tinta, sentiu com o dedo e depois cheirou. Muito introspectivo. Deixe ele nele. Quis pedir pra ele ir pro corpo não humano. Mas acho que ele já está no meio de outra construção. ELE DÁ AS COSTAS PRA MIM O TEMPO TODO. Trabalho bem lúdico, de descoberta. Achou o PARCEIRO que faltava no papelão. Ele não usou o pincel.

Amanda: Palavras separadas da rubrica inicial de “Fim de Partida” de Beckett: Ir, andar emperrado/vacilante, cabeça inclinada pra trás, saber, abrir, descer, 6 passos, pegar, riso breve, lençol.Selecionadas por mim: andar emperrado/vacilante e cabeça inclinada pra trás. Primeiro empurrar o chão. Peso terrível na nuca. Sons. Constatações com Tomás: proteção gostou. Mais forte. No começo foi experimentação. Achava angústias. Sensação de não querer fazer. Oposto de sair da Terra.

Reunião – 12/05/2008

Para o próximo ensaio: Alongamento. Andada pelo espaço: trabalho do corpo atento, trabalho com os eixos: olhar e bacia, lugar da força. Ombro relaxado, lugar certo da cabeça, do queixo ombro aberto. Com música: foco – saída e mudança de foco. Corrida – círculo, sentir os braços na corrida. Círculo – falar. Parado – falar. Sem música. Olhos fechados. Repetição do que foi feito com a música. Até parar, deixar 15 minutos sem comandos.

Ensaio – 14/05/2008

Consegui fazer todo o descrito, mas ainda espero mais. Não sei se meus comandos foram suficientes claros e audíveis. Tentei ser clara. Todos os comandos estavam muito frescos na memória, mas minhas sensações corporais nem tanto. Não sei dizer quando ele sofre de cansaço, porque ele é o ator ideal e só mostra o cansaço se eu pedir.

Na andada ele não reclamou. Na corrida ele sofreu mas não reclamou. Mas, quando ele teve que ficar parado ele sofreu muito visivelmente. A ponto de eu sentir medo. Não saber se ele ia cair ou não. Mas ele não se entregou. A coisa mais bizarra é isso. Ele se manteve NOSSO, todo o tempo. Tanto que quando eu deixei ele sentar ele deitou, mas logo se corrigiu e sentou, esperando e dizendo sem palavras: “estou pronto, me usem.”

Ele passou 50 minutos sem reclamar correndo, enquanto que os OITO minutos do ficar parado foi quase levado ao desmaio. E ele falou que sentiu profunda vontade de GRITAR. “E por que não gritou?” Ele além de não saber responder demonstrou profunda surpresa com a pergunta. Surpresa não pra mim, mas para ele mesmo. “É verdade, por que eu não gritei?” É engraçado como a ausência de comando pode ser um grande comando vindo do começo.

Psicose 4h48 – Sara Kane

1º longo parágrafo p1 – 2 versos. “Lembre-se da luz até o final p. P2 até “pessoas”. 3 versos antes do último. “não quero mesmo morrer”. Os números página 3. P4 “nada pode” até “viver”. P5 “corpo e alma nunca podem se casar.” P10 “Não há uma droga... absurdo desespero”. P15 “uma caspa sobre” até “estado de sítio”.

Ler durante caminhada, mas só até a p17.

Dia da primeira crise do Júlio.

Trabalho do Nada – 21/05/2008

Andar. Corrigir. Correr. Foco. Saída. Empurrar o chão. 14:06 começou a andar. 14:20 insiro o texto com letra maior. 14:30 Repetir de cabeça palavras do texto: Pisca. Corta. Afaga 3. Queima. Brilha. Dor maravilhosa 2. Soca 1. Sente 5. Sufoca. Afaga. (As três últimas palavras não estão no texto.) Ordem escolhida: Soca (vômito). Dor maravilhosa (batida no rosto). Afaga (mexe no meu cabelo, faz carinho no meu cabelo, cheira o meu cabelo). Sente (passa a mão no braço e vai pra trás.) 14:46 5 minutos de pausa. Mandei excluir um dos movimentos. Retirou a dor. Logo: Soca maravilhosa afaga dor sente. Repetição 14:56. Frase “cheira o meu cabelo” que ficou. Novas qualidades. Vai repetir até 15:30. Começa a falar o que quiser na partitura. Demorou pra entender o começo. Considerações do ator: Sofrimento, escuridão, aflição, estranheza, sala de jantar do Dalí (bad trip). Fechar a janela é apertar o botão de desligar o mundo. Socar foi boca do estômago – imagem poética. A partir da repetição as frases foram ficando mais dele. Idéia do sonho: duas bacias de água e rolo de lã. Trazer objeto em um recipiente de viagem para o próximo encontro.

Pro dia 28/05/2008

Encontro já com Adassa.

1-Caminhada com mala. Caminhada parada. 2-Marcar território 3- Reconhecer território (interior e exterior). 4-Observar o colega. 5-Apresentar os objetos. 6-Escrever despedida. 7-Mudar de posição. 8- O outro lê a carta. 9- Guardar os objetos do outro. 10- Caminhar até correr. 11-Exercício da Amanda. 12- Escrever carta de ódio. 13- Olhar objeto do colega. 14- Interação com os objetos.

Encontro 28/05/2008 às 14:16 1º experimento com Adassa.

Alongamento de cima pra baixo. Um silêncio incomodado pelo professor da outra sala. Tomás chegou um pouco ríspido, seco. Não sei o que aconteceu. Caminhada com a mala só deve acontecer quando houver necessidade. Tomás anda lentamente. Adassa parada. Concentrada por dentro. Júlio manda caminhar pensando no ambiente, espaço, pensando no que tem na bolsa. Ritmos diferentes. Ele começa a acelerar. É a música. Começa a descrever círculos. Não se esbarram. “Pra onde levariam os objetos? Pra onde fugiriam com ele?” Quero indicar pra eles se olharem mais. Mas acho precipitado interferir. Parece que ela puxa ele. Ela se ajeita, ela está de cordão. Outro. Júlio pede mais ritmo. Manda marcar o chão com giz. Ele faz um quadrado torto, ela faz um círculo muito bem feito. Difícil se observar. Vi que ele se mexe e falo que eles podem se mexer. Falo pro Júlio tentar dar mais tempo pra cada coisa. De novo: Procurei a frente do Tomás e ele me deu as costas. A cara neutra que vira hostil está só no olhar de quem vê. Queria dizer: “Tenta não se perder, se manter nos seus propósitos de observação.” Mas não sei. Não falo. Manda eles se encontrarem no olhar. Se comunicarem, se observarem. “Percebam que os dois estão protegidos, os dois tão carregando bolsas.” A música acabou. Coloquei os dois pra se observarem. De pé. No físico. Não no que poderia estar pensando. Se viram de costas e falam uma palavra por vez. Adassa: CABELO Tomás:Céu Adassa: Ciclo Tomás: Mochila. Tomás trouxe duas cartas de amigas. Ele chama seus cadernos de alma. “Alma do ano passado”, “alma desse ano...” Trouxe duas fotos: da mãe e da Virgínia Woolf. O livro “Cem anos de solidão” e outro da Virgínia. Encartes de Cd, todos que estavam aqui no Rio. Adassa está interpretando. No primeiro momento. Agenda, compromissos e contas. Foto da família na formatura, filipeta da peça que representa. Lenço do avó que virou dela e a faz lembrar da avó. Incensos da Índia. Acende pra ficar bem. Toda mística. Tranqüilidade, dado por um amigo. “Pintar é coisa que gosto” trouxe pincel e tinta. Florais que ela se sente bem. Chave. “Casa é um canto seguro.” Cordão pessoal. Mãe que deu o cordão. Tem um mantra gravado. E uma pedra nova, se sente pelada sem ele. 14:58 – carta de despedida. 15:05 – fim da carta. Júlio pede pra caminhar no espaço. Coloco a música. Começam a andar. Correr/Parar/Correr. Comecem a pensar de tudo que querem se livrar. Tudo que tem ódio. Adassa termina antes de Tomás. Ou não termina, só larga a caneta antes, eu pensei que tivesse terminado. Se observam, Júlio é contraditório. Falar isso com ele. Manda perceber o corpo que mudou. O olhar, a postura. Palavras: Adassa- Água. Tomás- Copo. Adassa- Geladeira. Tomás- Som. Manda abrir o território de novo. Convidar com o olhar o outro a entrar no território. Trocar o território simultaneamente. Conferir o novo território. Confiar no outro as suas coisas. Júlio permite que eles façam o que quiserem, mas eles não tocam em nada. Manda ler a carta. Adassa:"As duas?" Júlio: "As duas." Observar os objetos, lembrar do que foi visto. Lido. Perceber o que trás. Adassa se abstém de ler as almas. O mesmo, mas menos, para as cartas das amigas. 15:38: "Agora guardem." Peço novas palavras intercaladas: Tomás - cadeado. Adassa - Confiança. Tomás - coração. Adassa - Paisagem. Considerações. Tomás. Sensações. História materializada. Eles escrevem coisas semelhantes. Adassa. Por mais permissões ela não se sentiu à vontade de ler a alma. Mas ela sabia que aquilo bastava. Critério de escolha dos objetos. Tomás: CD, música. Cartas que não chegaram antes e chegaram juntas agora. A falta mesmo dos objetos, ele se mudou agora. Pegou o essencial de transformação. Adassa. Se mudou há pouco tempo também. Tem poucas coisas. Pegou o essencial. Achou ótimo escrever carta. Tinha certeza que as coisas não iam sair da vida, porque tinham importância dentro, já tá tudo dentro. E Tomás também. Adassa. Entrar no território foi meio como invadir, mas depois isso passa. Porque o outro também está no seu. Adassa. A corrida ajudou muito na carta de ódio. Tomás concorda. Tomás. Impulsivo, mas ela também estava total. Boa surpresa.

Estrutura do ensaio de dia 11/06/2008

Somente Adassa
Alongamento do Júlio
Andada no espaço
Preocupações: Corpo atento, bacia-eixo, foco, ombro relaxado, queixo, olhar-eixo e aberto.
Paradas na palma. Novo foco ao sair.
Com música:
-Corrida
-Círculo - sentir os braços (2 ou 3 vezes)
-Círculo - falar (2 ou 3 vezes)
-Falar parado (2 ou 3 vezes)
-Escrever (2 ou 3 vezes)
Sem música:
-Diminuir o ritmo
-Fechar o olho
-Andar, parar, andar
-10 minutos, aproximadamente, parada
Comandos inseridos na corrida: "Você está à espera de algo que você sabe que vai acontecer, mas você não sabe o que é."
Músicas escolhidas:
Mescla de algumas faixas do Danç-eh-sa do Tom Zé e O Seguinte é Esse dos Barbatuques.
Foram usadas mais ou menos faixas.

Rio, 11/06/2008 - Início às 14:25 (atraso)!

Encontro nos moldes do encontro de (colocar a data)
Nossos ensaios são sempre com a luz apagada. Estou sentada. Essa posição pode ser hierárquica demais. Hoje é só Adassa.Tenho que começar a pensar no meu próprio alongamento. Júlio dá o alongamento. 14:30 - começou a andar. 14:39 - Coloquei a música. 14:45 - Virou minha macaquinha. O braço direito dela está tenso demais. 14:45 - Começou a falar. 14:02 - Falar e rir. Mandei um comando e ela não ouviu, ou não entendeu, ou não cumpriu. 15:05 - papel. 15:15 - Saiu do papel. 15:19 - diminuí o ritmo. Tão difícil diminuir quanto aumentar. 15:24 - PORRADA TOTAL. As mãos estão muito tensas. Abriu o olho. Agora vai ficar parada pra sempre. 15:27 - Começou a evidenciar a respiração. Tosse. 15:28 - pode deitar. Júlio comanda o relaxamento. (Nenhuma revelação genial). Palavras usadas: Desconforto, desconfiança, medo, angústia, preocupação. Quando os paro sem comando tenho medo de deixar mais tempo, tenho medo da queda. 15:36 - Fim do relaxamento. Considerações. Concentração para atender os comandos (único pensamento), paradas não serviram para descansar. Música ajudou. Falar é difícil, escrever é mais fácil (sinto o contrário com o Tomás). Ela mesma disse que se prendeu, mas é involuntário. Assim como não teve muitas coisas observadas no final. A avó está doente. Ela ficou pensando nisso e tentou esquecer, mas vinha sempre à tona. Acho que ela se reprime muito, não está entregue. Mas não quero largar por isso. Quero descobrir como captar. Acho que a descoberta vai ser mais difícil que as descobertas com o Tomás. Ela viajou durante as paradas de olhos fechados. Quase abriu os olhos porque pensou, depois da viajem que poderia estar acontecendo alguma coisa demais. Contou um momento em que viajou em uma aula de canto...

Estrutura para o encontro de 18/08/2008

Cada um vai sentar no seu canto e relatar o seu dia em um papel.
Andar. Correr. Música. Movimentação das partes do corpo. Espécie de dança.
Coro. Movimento em conjuntos.
Água.
Falar sobre o dia que escreveu:
Palma - repete/ Palma - pára de repetir.
2 palmas - pausa/ 2 palmas - retorna.

Entregar hoje o caderno em que o Tomás vai escrever as impressões de experimentado.

(Coro, repetição, cansaço, expurgação)

Somente Tomás, Adassa pediu para não fazer. Júlio vai ser experimentado com ele.

Músicas pensadas:
1º Steve Reich - 4,5
2º Sonic Youth - 1,3,4,5
3º Barbatuques - 1,2,3,4,5,6,8,9,11,13,14
4º Jogos de Armar - 1,2,3,4,7,8,9,10,11,13,14

Rio, 18/06/2008

Seguindo a ordem das músicas pretendo observar até onde posso ir. Eles começaram a escrever. Estão nessa. Minha indicação foi de um dia importante, talvez devesse ter dito um dia curioso ou interessante. Não sei. Vermos com o resultado. Estão concentrados. O restritivo não é bem o tempo, disse para estruturarem bem. Eles têm um bom tempo. Além disso, eles devem lembrar dos mínimos detalhes. Talvez o encontro não aconteça. Não sei. Talvez seja mais um movimento em vão. Já são duas e trinta e um e não parece que qualquer um deles quer parar de escrever. Ninguém pensa em bater na porta pra avisar que vai entrar. Coloquei uma cadeira. O professor da salsa do lado me incomoda profundamente. Como comi umas coisas estranhas me sinto meio Alice. Impressões diferentes. 22 minutos. Talvez eu devesse tentar também. Esse é um dos exercícios que nunca testei em mim mesma.
Preocupações. Com quem vou trocar o dia de hoje se Júlio será também um experimentado? Será que eu vou filtrar o que dizer?
Tenho minhas hesitações. Como agora, 14:40, não sei se devo parar o não, apressá-los. Não sei. Entao deixo correr, contando com que eles se cansem, quase meia hora depois. Comprar uma fita crepe. Não vejo a hora de poder ensaiar em casa. Tenho vontade de me matar pra provar coisas pro mundo. Tomás acabou: 14:43. Júlio continua. Devo dar o tempo dele. Como ele viu o Tomás acabar é provável que se apresse. De repente eu só quero me matar pra fugir das responsabilidades. Insuportável ficar pensando, que ela permaneça dormindo por muito tempo, até dia 3. Não sei. tenho medo de rir na cara dela. De provocar mais ódio. Mais conflito. Queria que o outro sumisse. E metade por ele

14:46 - Terminaram de escrever. Começam a caminhar. Já vejo o meu coro surgir! 15:00 - música. Saída junta. Tomás ansioso. Ainda tá difícil. Vou fazer esse exercício de novo depois do próximo. Paro a música - Eles tentam me evidenciar uma parte do corpo. 15:26 - Coro e corifeu - Sonic 2, inclui a 2. Tem momentos de encontro sim. 15:41 - Barbatuques. 15:51 - continua. Tomás ainda estava meio surdo. O dois têm problemas, têm que se ouvir mais. Enxergam as indicações intuitivas no outro, mas acabam perdendo-se em si mesmos. Tomás já se demonstrou ansioso no seu andar junto. O ritmo é difícil de seguir. Nem sempre eles encontram ou eles o dominam. Até a troca visual tem dificuldades. Estão exaustos. Ótimo.
Comentários. Júlio não conseguiu se concentrar. Odeia fazer coro e corifeu. Tomás achou muito difícil. Gostou. Está refletindo sobre.





























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segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O passarinho não viu a própria morte

Hoje minha prima Aline, de 5 anos, veio aqui. Estava ouvindo músicas, ela quis ouvir também. Eu estava ouvindo Simone cantando "Qui nem jiló", Aline gostou (!?!?!), mas fez uma cara estranha, comos e estivesse prestando muito atenção, como se estivesse sentindo demais cada detalhe da música. Eu perguntava: tá gostando? Ela fazia que sim com a cabeça mas com uma cara bem estranha. Depois ouviu Beatles e adorou, até cantarolou "She loves you": yeah yeah yeah... Depois ouviu Nara Leão e não gostou nada nada, a não ser de um samba, quando tocou disse feliz: samba! Brincamos com o ritmo do samba. Ela bateu no fone e disse que parecia um ovo quebrando. Então quebramos ovos e fizemos um bolo invisível. Botei farinha, leite, manteiga imaginária. Depois decidi que era de chocolate e pus Nescau. Ela disse que tinha que botar no forno. Então abri o forno e pus. Ela decidiu que já estava pronto. Fui pegar mas estava muito quente, usei panos de prato. Aline foi logo cortando. Resolvemos que não íamos comer tudo sozinhos. Emtão guardei uns pedaço num pote e pus pra geladeira. Aline tirou um pedaço e foi levar pra mãe dela. Não vi a mãe dela comendo. Mas a ouvi dizer: aqui, mãe, quer bolo?

Aline é sempre muito séria. No Natal ela estava brincando com as crianças e as crianças começaram a brincar de empurrar e bater e enforacr de mentirinha. Ela se afastou triste. Depois comentou bem baixinho e contendo o choro pra minha mãe: Tia, meu pai empurrou meu tio e meu tio tentou enforcar ele. Eu fiquei com medo do papai morrer.

Um dia, já até pus isso no meu blog, ela me disse:
- Você é pequeno, né Lucas? Quando você crescer você vai continuar pequeno. Quando você crescer você não vai poder neeeem namorar.

Quando ela era menorzinha, colocava uma música bem alto e a gente dançava. Ela perguntava como dançar e eu falava pra ela fazer do jeio que ela quisesse. Às vezes elas me imitava. Também a segurava no colo e balançava, rodava. Um dia ela dançou de olhos fechados. Foi muito bonito, me deu vontade de chorar e está me dando vontade de chorar agora também. Outro dia eu cantei e caminhei pela rua à noite, de olhos fechados, mas precisei beber pra isso. Não que Aline tenha que sair pela noite de olhos fechados. Mas tomara que ela ache belo o que sua alma disser, e não o que querem dizer pra ela. Um dia ela brincou de matar uma rolinha e, de fato, matou. Mas antes do ato, enrolou a rolinha num pano.

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Atiro ao Álvaro

O Álvaro ficou em um e eu fiquei em dois.
O Álvaro ficou por lá e eu fico depois.
Eu tenho papéis que não lembro o nome.
E caderno com Torre de Pisa.
Eu desenhava assim.
Agora desenho assado.
Como pouco aipim.
Mas gosto de dormir de lado.
Sou alfazema de mesquita velha.
Sou qualquer coisa que carrega.
Mas o Álvaro.
Ele tem futuro.
E passado.
E eu.
Mentira!
Tenho um caminhão.
Um avião.
Um tremendo furacão.
Imaginação.
Nada. Tudo terminado em ão.
Então Álvaro?
Como se faz?

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Casa

A Madília ficou com o banheiro, eu fiquei com a cozinha e o Tomás ficou com a sala..
Ele estava varrendo, devia ser umas duas horas da tarde, eu tinha acabado de acordar. Ele achou um dedo. Acho que era um dedo. Acho que é meu Tomás, me dá ai. Eu peguei e tentei juntar na minha mão de volta. Mas não colava. Daí falei, joga no lixo, mas embrulha num saco plástico antes de jogar fora. Não sei porque.. Acho que se faz o mesmo com carne estragada, com lâmpada quebrada.
A Madília achou um troço estranho que não descia na descarga. Fomos todos ver. Acho que era meu útero, não sei como parece um úteto mas no mesmo instante senti um vazio dentro da barriga. Uma espécie de eco, um retorno de ruído, sei lá. Eu nem tentei pegar. A privada tava suja, não vou me estressar por causa de um útero. Ela chamou uma vizinha nossa que gosta de pagar de nossa mãe. Daí ela deu um jeito no útero. Não sei bem o que ela fez. Logo depois a privada estava pronta pra outra. Agradeci, nossa vizinha é uma mão na roda.
Na cozinha só achei um olho, mas como tenho dois nem liguei.
No meu quarto tem uns pedaços de pele, cabelos aos tufos, uma orelha, outros dedos. Nada que uma vassoura, às vezes um pano com veja não resolva.
Ai, casa nova é o melhor lugar do mundo, mas as coisas ainda estão caindo por lá. Param em breve, param...

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domingo, 10 de agosto de 2008

Luz

Meu amado...

182
00:26:40,440 --> 00:26:43,398
"Nós achamos
dseicíl conversar um com o outro."

183
00:26:43,600 --> 00:26:46,478
"Somos ambos tímidos."

184
00:26:46,680 --> 00:26:50,036
"E eu costumo transformar em sarcasmo."

185
00:26:50,280 --> 00:26:52,748
É por isto que estou escrevendo...

186
00:26:52,960 --> 00:26:56,430
Tenho algo importante a dizer.

187
00:26:57,960 --> 00:27:04,115
Lembra-se no verão passado, quando aquelas
bolhas começaram a estourar na minha mão?

188
00:27:04,320 --> 00:27:09,075
Em uma noite, estávamos na igreja
arrumando as flores no altar.

189
00:27:09,280 --> 00:27:13,034
Preparando para a crisma.

190
00:27:13,240 --> 00:27:15,674
Consegue lembrar
como eu estava horrível?

191
00:27:15,880 --> 00:27:19,839
Minhas mãos estavam enfaixadas, e
ardendo de maneira que não pude dormir?

192
00:27:20,040 --> 00:27:25,592
A pele estava descascando e as
palmas estavam com feridas abertas.

193
00:27:25,800 --> 00:27:30,749
Nos ocupávamos com margaridas e
centaureas, ou sei lá o que eram -

194
00:27:30,960 --> 00:27:33,520
- e eu estava irritada.

195
00:27:33,720 --> 00:27:37,235
E eu te provoquei furiosamente.

196
00:27:37,440 --> 00:27:42,468
Perguntando se você acreditava realmente
no poder da oração.

197
00:27:42,680 --> 00:27:46,229
Você respondeu que sim.

198
00:27:46,440 --> 00:27:49,398
Maldosamente, eu te perguntei
se tinha rezado pelas minhas mãos.

199
00:27:49,600 --> 00:27:55,197
Mas isto nem tinha
passado pela sua cabeça.

200
00:27:55,400 --> 00:28:00,030
Eu melodramaticamente exigi
que você fizesse imediatamente.

201
00:28:00,240 --> 00:28:03,198
Por incrível que pareça, você concordou.

202
00:28:03,400 --> 00:28:06,995
Sua aquiescência me enfureceu
e eu acortei as ataduras em pedaços...

203
00:28:07,200 --> 00:28:11,159
Você se lembra do resto...

204
00:28:11,360 --> 00:28:15,319
A vista daquelas feridas abertas
te afetaram.

205
00:28:15,520 --> 00:28:21,868
Você não pôde rezar,
a situação toda te enojou.

206
00:28:24,680 --> 00:28:31,233
Entendo a sua reação, mas você
não tem nenhuma compreensão por mim.

207
00:28:33,480 --> 00:28:37,029
Nós tínhamos vivido juntos
por algum tempo naquela época.

208
00:28:37,240 --> 00:28:41,199
Quase dois anos.

209
00:28:41,400 --> 00:28:46,155
Isto signseicou muito tempo
diante da nossa pobreza emocional.

210
00:28:46,360 --> 00:28:52,959
Nossas carícias e esforços massivos
em mascarar a falta de amor entre nós.

211
00:28:57,240 --> 00:29:02,075
Quando as bolhas se espalharam
para a minha testa e couro cabeludo -

212
00:29:02,280 --> 00:29:07,229
- Eu logo percebi o
quanto você me evitava.

213
00:29:07,440 --> 00:29:11,035
Você me achava detestável.

214
00:29:11,240 --> 00:29:17,076
Mesmo que você tentasse
ter misericórdia dos meus sentimentos.

215
00:29:17,280 --> 00:29:21,956
Até que as bolhas se espalharam
para as minhas mãos e pés.

216
00:29:22,160 --> 00:29:26,233
E nosso relacionamento acabou.

217
00:29:27,440 --> 00:29:30,671
Isto se tornou um choque para mim.

218
00:29:30,880 --> 00:29:34,919
Tive que encarar o fato -

219
00:29:35,120 --> 00:29:38,237
- de que não amávamos um ao outro.

220
00:29:38,440 --> 00:29:43,389
Não havia maneira de esconder este
fato, ou ignorar isto.

221
00:29:51,160 --> 00:29:53,879
Tomas...

222
00:29:54,080 --> 00:29:58,631
Eu nunca acreditei na sua fé.

223
00:29:58,840 --> 00:30:04,790
Principalmente por nunca ter sido
torturada por tribulações religiosas.

224
00:30:05,000 --> 00:30:08,470
Minha família não-cristã era
caracterizada pela cordialidade -

225
00:30:08,680 --> 00:30:11,240
- união e contentamento.

226
00:30:11,440 --> 00:30:16,753
Deus e Jesus
existiram somente como noções vagas.

227
00:30:16,960 --> 00:30:22,114
E para mim, sua fé parecia
obscura e neurótica.

228
00:30:22,320 --> 00:30:28,077
De alguma forma, cruelmente irrascível
com a emoção. Era antiquada.

229
00:30:28,280 --> 00:30:32,637
Uma coisa em particular
Eu nunca consegui compreender:

230
00:30:32,840 --> 00:30:38,790
Sua apatia peculiar
por Jesus Cristo.

231
00:30:44,000 --> 00:30:47,959
E agora eu vou te falar
sobre a resposta às preces.

232
00:30:48,160 --> 00:30:50,720
Ria, se sentir vontade.

233
00:30:50,920 --> 00:30:54,435
Pessoalmente, eu não acredito que
as dias estejam ligadas.

234
00:30:54,640 --> 00:30:59,589
A vida é confusa demais, sem
levar em consideração o sobrenatural.

235
00:31:01,800 --> 00:31:08,194
Como sabe, você estava indo rezar
pelas minhas pobres mãos.

236
00:31:08,400 --> 00:31:14,794
Mas as bolhas deixaram você abismado de
desgosto, algo que mais tarde negou.

237
00:31:15,000 --> 00:31:18,959
Eu fiquei furiosa
e quis provocar você.

238
00:31:19,160 --> 00:31:22,118
Cale-se!

239
00:31:22,320 --> 00:31:26,711
Já que não pode
rezar por mim, eu mesma o farei!

240
00:31:31,280 --> 00:31:35,671
Deus, por que você me fez
eternamente insatisfeita?

241
00:31:35,880 --> 00:31:41,000
Tão amedrontada, tão amarga? Por que
devo perceber o quão desgraçada sou?

242
00:31:41,200 --> 00:31:46,877
Por que devo sofrer por minha
insignseicância de uma forma tão infernal ?

243
00:31:48,080 --> 00:31:51,231
Se existe um propósito pelo meu
sofrimento, então diga-me.

244
00:31:51,440 --> 00:31:55,797
Então aguentarei a minha dor
sem reclamar.

245
00:31:56,000 --> 00:32:01,233
Eu sou muito forte,
tanto em corpo quanto em alma -

246
00:32:01,440 --> 00:32:05,956
- mas você nunca dá
uma tarefa digna à minha força.

247
00:32:08,280 --> 00:32:14,469
Dê signseicado à minha vida,
e serei sua escrava obediente.

248
00:32:14,680 --> 00:32:19,231
Este outono, eu percebi que
minhas preces foram respondidas.

249
00:32:19,440 --> 00:32:23,399
Eu rezei por clareza ideológica,
e eu consegui.

250
00:32:23,600 --> 00:32:26,637
Eu percebi que te amo.

251
00:32:26,840 --> 00:32:32,790
Eu rezei por uma tarefa para
utilizar a minha força, e eu recebi uma.

252
00:32:33,000 --> 00:32:35,958
Essa tarefa é você.

253
00:32:37,760 --> 00:32:41,594
É para isto que os pensamentos
de uma "professora" deve ser utilizado -

254
00:32:41,800 --> 00:32:47,716
- quando o telefone se recusa a tocar
em uma noite escura e solitária.

255
00:32:52,680 --> 00:32:56,229
O que eu sinto falta inteiramente é
da capacidade de representar amor.

256
00:32:56,440 --> 00:32:59,398
Não tenho uma dica de como fazer isto.

257
00:32:59,600 --> 00:33:04,958
Tenho sido tão miserável Eu até
levei em conta rezar mais.

258
00:33:05,160 --> 00:33:10,109
Mas ainda tenho um traço de
respeito próprio apesar de tudo.

259
00:33:15,440 --> 00:33:19,399
Meu amado Tomas...

260
00:33:19,600 --> 00:33:24,071
Isto acabou sendo uma longa carta.

261
00:33:24,280 --> 00:33:27,875
Mas agora eu escrevi tudo o que
eu nunca ousaria dizer -

262
00:33:28,080 --> 00:33:33,518
- enquanto você esteve em meus braços.

263
00:33:33,720 --> 00:33:36,280
Eu te amo.

264
00:33:36,480 --> 00:33:39,677
E eu vivo por você.

265
00:33:39,880 --> 00:33:42,838
Toma-me e usa-me.

266
00:33:43,040 --> 00:33:47,795
Por baixo de todo o meu orgulho falso
e ar independente -

267
00:33:48,000 --> 00:33:50,878
- Eu tenho apenas um desejo:

268
00:33:51,080 --> 00:33:54,755
Ter o direito de viver por alguém.

269
00:33:54,960 --> 00:33:56,916
E eu sofro.

270
00:34:03,080 --> 00:34:07,756
Quando penso sobre isso, não vejo
como conseguirei ter sucesso.

271
00:34:07,960 --> 00:34:11,111
Talvez seja tudo um engano.

272
00:34:11,320 --> 00:34:16,189
Por favor, diga-me
que não é um engano, meu amado.

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sábado, 9 de agosto de 2008

Cola uma coisa na outra

8/8/8
66,6 kg

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sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Compartilhando o sentimento de lacuna

COPO VAZIO

É sempre bom lembrar

Que um copo vazio
Está cheio de ar.

É sempre bom lembrar
Que o ar sombrio de um rosto
Está cheio de um ar vazio,
Vazio daquilo que no ar do copo
Ocupa um lugar.
É sempre bom lembrar,
Guardar de cor que o ar vazio
De um rosto sombrio está cheio de dor.

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar.

Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho,
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor.
Que a dor ocupa metade da verdade,
A verdadeira natureza interior.
Uma metade cheia, uma metade vazia.
Uma metade tristeza, uma metade alegria.
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor.
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor.

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar.

(Gilberto Gil)

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Eu venho tentando me livrar de ser lacuna
faz tempo
tento prestar atenção para não lacunar mais
lacuna precisa ser preenchida
e isso dá/traz uma dor danada.
transtorna.

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quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Palavra não dita

Eu estou lacuna porque deixei de existir. Eu estou lacuna porque quando alguém vai embora da casa cheia eu me sinto lacuninha lacuninha. Eu sou lacuna? Eu tenho lacunado pelo mundo com a esperança de um dia deixar de ser lacuna. Não acontece. Eu lacunei a cada dia que me via em foto sem querer, em espelho perdido pelas paredes. Eu fui lacunando cada parte da minha vida. E agora eu sou uma pessoa lacunosa e lacunante. Assim....

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Ação Física

Chegou sem avisar.

Empurrou a proprietária contra a parede.

Fez ameaças e depois se deteve.

Ameaçou chorar.

Ameaçou gritar.

Foi embora rangindo.

Não sem antes tentar arrombar a porta

que, em seguida,

eu abri, com chaves.

Eu entrei, normalmente.

Eu comi tomei banho dormi li e acordei

E a notícia foi dada

Ela tentou entrar aqui ontem
Falou que ia jogar suas coisas todas na rua

Louca, pensei
Mas não era ação física tanto física
então
deixei descontrolar a minha glicemia

acordei cedo e furei o dedo
sangue na fitinha
50

depois da notícia da tentativa de arrombamento
furei cinco vezes o dedo e só na quinta vi o sangue
apertei
pressionei
fez-se uma bolinha no dedo médio esquerdo
bola vermelha
de sangue
fugiu ligeira para a fitinha
358

quase morri,
deve ser estresse, pensei

tomei a segunda injeção do dia
melhorei

comi tangerina
ouvi música
tomei banho
fiz faxina

ainda falta dançar
trabalhar
e para fechar o dia
não me matar.

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Para ler junto

Fui eu quem disse a ela que quando se pensa no nada se pensa em si próprio. Na verdade, foi isso que eu consegui entender do livro que estou lendo. Na verdade, mais uma, este livro é dela, mas quem está lendo primeiro sou eu. Mas na verdade, este livro precisa ser lido por todos, pois é exatamente isso que o mesmo prega. Fala de como entender a filosofia e se motivar a partir de seu próprio pensamento. Em poucas páginas de leitura já se pode compreender, na visão do livro, que a noção de autoria engloba o autor e o leitor. Ou seja, a prática da escrita somada a prática da leitura formam, de fato, o que a autora estabelece como autoria. Ainda diz mais, fala que todo livro é escrito para ser lido e que não há razão de escrever para não ler. Não é radical, pois defende-de pelo argumento que a própria leitura feita pelo autor, já é uma noção de autoria que se estabelece. Reforça que a filosofia está em todos nós e é muito mais simples do que parece ser. Bom, pelo menos para mim sempre pareceu muito complicada e ese livro está me ajudando muito. Defende a volta pela força da voz, pelo reconhecimento da pessoa e sua voz, pela visão da voz e, principalmente, pela escuta. Critica o fato que culturalmente tornou a filosofia um fazer solitário e de escritório, fazendo a ressalva de que a mesma tem origem em tempos gregos, onde era proferida a todos, em praça publica, por intermédio da voz, quiçá aos berros. "Filosofia em comum", diz Marcia Tiburi, é um livro que atua como dispositivo e tem como fundamento a leitura coletiva, a discussão de idéias e, principalmente, o aprimoramente do pensamento como forma de dialogar, fazer, crescer e aprimorar. É ter certezas e imediatamente depois quebrá-las com dúvidas. É o fato de ir além. Sem medo de se interogar. A minha filosofia é a minha voz. Leiam todos.

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Um, dois.

1
Me abstive do assunto mas ninguém percebeu a dor do meu silêncio.
Em certo momento, fingindo muita naturalidade e alegria, perguntei a elea se preferia ser aquele vaso ou esse pão.
Eu, por exemplo, prefiro ser o pão. Resumindo grosseiramente: que me abram (ou me cortem, para os mais poéticos), passem manteiga e me comam. Não queria ficar sobre o móvel. Acho que foi isso que disse. Não sei se foi isso que quis dizer.

2
Nasci pra ser mulher de marinheiro mas resolvi ser ator. Aí já viu, né?, deu nessas crises que cês tão vendo.

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Exterminado.

Beber.
Qual é a de Caim?
Andar no meio da rua.
Andar de olhos fechados cantando "Fotografia".
Dormir torto.
Conversa sobre alma feminina.
Conversa sobre vagina.
Conversa sobre aborto.
Conversa sobre sexo.
Alegria de viver.
Dor de viver.
Solidão.
Gastar mesadinha pra matar solidão.
"Anjo exerminador" ou "Drama, anjo exterminado"
E aí, beleza?
"Anjo extermiandor"
Andar sentindo frio.
Olhares bons, bonitos, gostosos.
Ensaio.
Vergonha.
Fugir à regra de abraçar as pessoas.
Cortar capa torta com estilete pra não poluir visualmente a prateleira.
Ver o que vocês estão escrevendo.
Saudade.
Escrever qualquer coisa.
Não me expressar no que escrevo.

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quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Nada

Alguém me disse que pensar em nada é pensar em mim.
Não tenho nada a dizer.

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As vezes até parecia que era só improvisar que o mundo seria um livro aberto, até chegar o dia em que tentamos ter demais...

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terça-feira, 5 de agosto de 2008

Escolha.

Eu n]ão sei oq fazer das minhas escolhas. daí me perguntam: que escolhas? na verdade nem eu mesmo sei que escolhas são. metade das minhas escolhas não dependem de escolher. e sim de fazer algo por elas, então tenho que fazer outras escolhas. escolhas de largar, de agarrar, escolhas de contradizer, escolhas de manter, escolhas de não sei. como todos aqui eu queria poder ficar de bunda por ar sem fazer nada e que as coisas aparecessem como mágica em minhas mãos. mas não é assim, eu sei. então tenho que fazer escolhas para minhas escolhas. legal. mas não sei o que faço, não posso voltar aos 17 anos pra escolher meus caminhos novamente. nem posso largar tudo que conquistei agora. tenho que pensar. as férias não foram o suficiente. sinto falta da casa dos meu pais, que não é a casa da minha vó. eu me sinto um adolescente, ou melhor, uma criança ainda, sem saber o que fazer, sem me importar com isso. talvez se eu tivesse um filho cedo como meu pai eu lutasse mais pelas minhas escolhas. talvez eu tivesse poucas escolhas. não gosto de escolher. vocês sabem como sou preguiçoso para essas coisas. e como sempre repito, tenho medo, tenho muito medo, fui muito mimado, não sei enfrentar os problemas de frente, são sei lidar com pessoas próximas, não sei trabalhar, não sei levar nada a sério, não sei o que fazer da minha vida.
só sei chorar o tempo inteiro e dizer que eu sou um cocô, porque tenho tudo mas nunca soube nada.

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gente

ela inventou uma nova regra
essa de copiar e colar
espero que nisso gerem-se bons filhos
e não o desejo
de se matar.




bjos

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segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Iniciar rebolar iniciar

Reiniciar:
É que esse momento
deve marcar
a nossa entrada
nessa estrada
onde só ficaremos
de pau pro ar
e papo no ar.
Rebolar.

1. Bom início de aula a todos que as iniciam.
2. Boas reuniões para Caio, Amanda e Diogo.
3. Boas irritações para Caio.
4. Desejo paciência a todos.
5. O Lucas disse que o meu texto foi bem mais calmo e de certa forma isso me fez feliz. Acho que estou conseguindo chegar ao ponto em que preciso. Ao ponto que est0u desejando no momento. Está relacinado ao dentro e fora e a esse infinito ciclo. sentir agressivo, passar calmo, leve.

-cinco boas indicações.

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Rio, 18/06/2008

Seguindo a ordem das músicas pretendo observar até onde posso ir. Eles começaram a escrever. Estão nessa. Minha indicação foi de um dia importante, talvez devesse ter dito um dia curioso ou interessante. Não sei. Vermos com o resultado. Estão concentrados. O restritivo não é bem o tempo, disse para estruturarem bem. Eles têm um bom tempo. Além disso, eles devem lembrar dos mínimos detalhes. Talvez o encontro não aocnteça. Não sei. Talvez seja mais um movimento em vão. Já são duas e trinta e um e não parece que qualquer um deles quer parar de escrever. Ninguém pensa em bater na porta pra avisar que vai entrar. Coloquei uma cadeira. O professor da salsa do lado me incomoda profundamente. Como comi umas coisas estranhas me sinto meio Alice. Impressões diferentes. 22 minutos. Talvez eu devesse tentar também. Esse é um dos exercícios que nunca testei em mim mesma.
Preocupações. Com quem vou trocar o dia de hoje se Júlio será também um experimentado? Será que eu vou filtrar o que dizer?
Tenho minhas hesitações. Como agora, 14:40, não sei se devo parar o não, apressá-los. Não sei. Entao deixo correr, contando com que eles se cansem, quase meia hora depois. Comprar uma fita crepe. Não vejo a hora de poder ensaiar em casa. Tenho vontade de me matar pra provar coisas pro mundo. Tomás acabou: 14:43. Júlio continua. Devo dar o tempo dele. Como ele viu o Tomás acabar é provável que se apresse. De repente eu só quero me matar pra fugir das responsabilidades. Insuportável ficar pensando, que ela permaneça dormindo por muito tempo, até dia 3. Não sei. tenho medo de rir na cara dela. De provocar mais ódio. Mais conflito. Queria que o outro sumisse. E metade por ele

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domingo, 3 de agosto de 2008

A suposta voz

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..
...
Não me deixe muito no alto
Nem me afogar
Não me deixe chegar ao topo
Porque eu posso me matar.

Minhas pernas doem profundamente.
Temo que queiram de mim se desprender.
Seria a vontade de o mundo correr?
Ou somente o desejo de morrendo elas primeiro
Levarem-me a isso também querer?

Então, eu peço:
Não me deixe chegar alto demais
Nem me deixe afogar meu corpo
Fique paciente ao meu lado
E não saia sequer para buscar
O copo de água que irei pedir
Inúmeras vezes
A você
Que me acompanha noite adentro
E dia a fora.

No alto eu posso me afogar
E me afogando eu posso despencar
Portanto
Não me deixe subir muito
Nem muito descer
Segure a minha mão
E tente me fazer
Compreender,

Porque desejo neste momento
Ir me perder.

As coisas que guardo aqui dentro
Querem todas me consumir.
Os medos que disse não temer
Corroem-me no silêncio
Que escolhi para mim.

Portanto se eu disser
Tudo está bem
Não acredite tão facilmente
E cuide de mim como fosse
Um neném.

Cuide de mim, por favor.
E não deixe meus cabelos caírem sobre os olhos
E não deixe a minha pele secar
Nem meus sonhos queimarem
Nem o riso sumir
Cuide de mim!

E me perdoe. Sempre.
Perdoe-me por fazer ser a prova do seu amor
Por mim
Essa tentativa vã
De não deixar o tempo me consumir.

Perdoe-me por tudo e sempre.
Mesmo quando ausente
Perdoe-me do que posso vir a fazer
Do que posso vir a comer
Achando que a fome é capaz de matar
E não de me fazer crescer.

Eu cheguei ao topo
Não posso nem mais ir
Nem sequer voltar.

Estou preso na quantidade funda de ar que me fiz respirar.

E todo o resto é pouco
E capaz de matar
E todo o resto é muito
E capaz de matar.

Estou no meio, pois partido.
Estou no limbo, pois me precipito:
E escolho as melhores dores
E revolvo aos antigos amores
E faço assim o dia ser pesado
E os músculos escoriados
Não agüentam o ônus
De ter que levar adiante
O que jaz morto
Mas em mim persiste.

Perdoe-me. Desculpa,
Eu já não sou capaz.

Fui noutro momento.
Fui com outro sorriso
E com outros remendos,
Que já não posso refazer
Pois a linha se perdeu
E cravado em agulhas estou.

O corpo sinaliza a dor
Segundo após sentido
E perder-se se torna algo tão natural
Pois também o natural eu preciso.

Então,
Se por acaso ao topo demais eu chegar
Acaso ao fundo eu me aproximar
Puxe-me pelos cabelos e me faça voltar

Caso não,
Aceite minhas desculpas
E me deixe morrer
Para não mais me encontrar
Para não mais me perder.
...
..
.

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Livro aberto

Agora falo no viva voz. Vai ter pessoas que eu não vou contar que eu estou no viva voz. É divertido.

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ATA II

Atualizações:

Avenca: Caio
Cais: Lucas
Filhos: Diogo
Macabeto: Júlio
Mariquai: Mari
Amanda no cais: Lucas com ou sem comentários da Amanda
Amanda na personalidade 3.4: Rubens com comentários da Amanda
Amanda nos filhos: Diogo copiado e colado por Amanda.
O Resto: Amanda

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Bom...

Meu nome é Mari(ana). Sou filha, irmã, vestibulanda e universitária. Tenho um gato e dois cachorros. Já tive dois peixes e já matei um peixe. Rabisco, pinto e desenho. Escrevo, estou escrevendo. Escrevi. Não tenho muito o que dizer agora, só mera apresentação. Sem impressões. Prazer, meu nome é Mariana. Assino MM. Você vai me conhecer. É isso e até mais.

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