O melhor café você conhece pelo cheiro

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Exposição de

A exposição de alguns pensamentos e sentimentos se tornou tendência e como sou um bom seguidor das mesmas também o farei. Ao contrário de muitas pessoas, me sinto bem seguindo-as e podendo ser caracterizado, rotulado, ou mesmo enquadrado em algum tipo de representatividade ou gupo. O mais divertido é que as pessoas nunca conseguem e o se o fazem, a resposta nem de longe me sacia. As coisas são assim. Acontecem porque precisam acontecer e não se pode parar para ver o mar. É preciso sempre olhá-lo, mas não se pode parar. Repito bem baixinho para não encomodar ninguém, assim como venho fazendo a bastante tempo. Explico: venho dizendo aos poucos, a uns, a outros, um cadinho do que estou sentindo, farpas do que estou sendo, mas sem fazer alarde, sem querer muita atenção querendo. Na verdade, tudo se resume a este quere atenção que eu não sei porque vocês ainda tem medo de expressar, dizer, olhar nos olhos e pedir. Quando quero eu peço. Alguns de vocês já foram testemunhas disso. Testemunhas até de pedidos descabidos, feitos em hora errada, mas infinitamente sinceros. Sinceros poque não era quem pedia e sim o meu corpo. Nessas horas a gente consegue separar bem o corpo da cabeça, mas é a cabeça de baixo quem comanda. Não. Não é putaria. É razão, assim também como costumo dizer. Eu pedia, pois estava sendo eu, me sendo ao máximo. Dentro de minhas possibilidades de expressão e vaidade; Primeiro ponto.

Agora este ficar ao pé de dar nome aos bois. Brasileira, eu não sei se foi o destino, se alguma força maior ou se fomos mesmo nós dois que fizeram este entrelaçar de nossas vidas. O fato é que aconteceu e este tipo fardo a gente carrega para sempre. Não. Não tenha medo. Assim como estive com você, pretendo estar sempre. Todos os ocorridos na noite de sábado faziam de tudo para que eu ficasse chatiado ou com raiva de você. Mas não foi preciso. Gosto quando a verdade é dita e se havia uma impossibilidade de abrir a porta, tudo bem, que ela não fosse aberta e no dia seguinte conversávamos. Foi coo fiz. Foi como tinha de ser feito. Amadurecer. É destino de todo fruto, de todo filho. O Diogo pode lhe falar melhor sobre essas coisas. Ele costuma parir algumas vezes por dia. Não me peça desculpas, peça a ti que tenha consciência de seus próximos atos e saiba como responder por eles depois. Não que você não o tenha feito. Mas o podia ter feito com mais propriedade entende? E ainda defendo a idéia de que podemos sim passar uma noite por completo no mundo real, sem precisar ler páginas de certos constos de fadas não indicados e tarja preta para sermos felizes. Acredito de verdade nisso e vou repetir sempre. Tornando-me o tio chato ou o primo safado e enfadonho. Não me importa. É assim, dessa forma que manifesto meu gostar e por acreditar nele é assim que pretendo agir sempre. Jú, minha marroquina, é uma pena que você não queira mais sair com a gente e não se encontre dentro de nós, como consigo me encontrar dentro de vc e dela. Acho que tudo que estamos vivendo faz parte de um longo aprendizado e ficaria, de verdade, feliz que você não largasse tudo. Largue a faculdade, largue o que quiser, mas não nos largue. Sim, isto é um pedido e como disse antes não tenho vergonha de fazê-los. Vamos precisar de você mesmo que isso você diga que não queira. O que pode fazer é não aparecer, não ligar, não estar...também irei compreender. Faz parte de mim e da história que estamos escrevendo juntos. Ou separados. Cada qual com seu papel e caneta, sei lá. AIAIAI; É tanta coisa para escrever que meu pensamento se perde e eu mal consigo organizar minhas palavras. Não sei se te entendo, mas também não quero entender. Quando quiser se mostrar mais um pouco, vou estar aqui. Não faz parte de mim adivinhar o problema dos outros e perguntar se eles precisam de ajuda. Saibam todos. Não é dever de ninguém saber o que se passa dentro da gente se não falarmos ou pedirmos. Bom, pelo menos é no que eu acredito. O Di, também tenho saudade de nossas conversas e como era bom poder tê-las. Ainda vamos conversar muito com toda certeza. Venho trabalhando isso a um tempo embora não seja ele o melhor remédio em minha visão. Mas a minha visão, neste caso, não importa. Já disse o que tinha de ser dito e, neste caso também, não é preciso repetir aqui. O que é preciso dizer é que essas histórias ficam para sempre e que sempre vamos ter o que contar. As vezes eu tenho raiva, mas ao mesmo tempo que ela dói é bom demais tê-la, pois ela me traz um sentimento de validade, de vivência e prazer que só eu sei o que é e posso responder por ele. O nosso teatro se veste e se alimenta das coisas que imaginamos juntos e ainda vamos imaginar. Como lhe disse, já fui algumas vezes grávida como você e o poder de parir é para poucos, por isso cuide dele como vem fazendo com tanta beleza. O que resta não quero falar. Fica para mim. Preso na terra de minahs avencas. O Cais,Lu pouco sei sobre o menino de cabelos encaracolados que tanto me lembra uma grande amiga. Uma que já esteve bem perto deste ir e vir, mas só que de vez. Bom, o que posso e quero dizer é que a pórta e esta aberta e podes voltar. Sempre que quiser. O lar é pequeno, mas bastante acolhedorrrrrr. uM Lugar onde a poesia é bem vinda e sem barreiras para poderrrr fazer...Não queria terminar este post aqui,mas o meu computador pifou e como estou na casa dos outros vou ter de fazê-lo. Bom, continuo depois.Prometo pra mim.

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  • Satisfações violentas? O público não quer assistir, quer sentir. É isso? O público não quer? Quem sou eu pra dizer? Ele é mais um educador (não o público, o Artaud): uma criança não quer escovar os dentes assim como o público não quer sentir, quer se entorpecer, mas não deve.
  • Somo insensíveis (desgastados de sensibilidade, diz ele), logo precisamos do TEATRO para nos despertar. Nervos e coração. Emoção e racional. (Teatro deve? Por que colocou assim tão categórico? Não gosto.)
  • No período (Qual? 1933 - Sursis) Mas quem disse que era período? Então diz: o teatro deve ser maior até que esse período da porra que tamo vivendo (parafraseando).
  • Teatro agindo sobre nós. Como terapia da alma. Tudo que age é crueldade.
  • Ação ao extremo.
  • Passa pelos sentidos porque é pras massas (não pelo racional)
  • Proposta do TC: procurar agitação das massas.

amor, crime, guerra, loucura.

Teatro Necessidade Resgate de sensações:

  • Abaixo o lirismo dos mitos.
  • Minha dor de barriga ou a guerra da Bósnia? Hamlet. O Teatro de Crime dói mais que o crime.
  • Picada concreta – sensação verdadeira.
  • A crueldade é por causa dos sonhos. Quanto mais violento mais eficaz.
  • Teatro envolvendo espectadores, esquece o italiano? Sfincter – Ana Kfouri.
  • Volta pro teatro, vem, vem, naturezaaaa.
  • O que é lirismo?
  • Teatro e magia. Espetáculo total. Porque se separa corpo e espírito (ops, separei.)
  • Reduzir o entendimento para a compreensão enérgica.
  • Ele aqui não diz, indica.
  • Preocupação das massas. Viva SARTRE!!! Viva CAMUS!!!

Palavras: extensão, imagens, gritaria e silêncio. Sensibilidade nervosa. MASSA. Ação extrema.

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Mais um

Perdi 20 em 29 amizades. Por conta de uma pedra em minhas mãos.
Me embriaguei morrendo 29 vezes.
Tô aprendendo a viver sem você.
Quando você deixou de me amar aprendi a perdoar.
E a pedir perdão.
E ninguém me salvou. E nem nove sobrou.

Vou ouvir Legião até a morte: ninguém pode me tirar isso.

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Wrong Turn

Sinto que é minha vez. Estava na sala lendo Angel Sanctuary enquanto meu irmão tava no video game. Estava jogando Zelda enquanto minha vó mexia no PC. 04:30. Entrei no PC. E onde isso me levou? A lugar algum. Eu não me importo mais ir a algum lugar, ou tento não me importar. Meu pai deixou bem claro que posso ir pra onde eu quiser enquanto ele estiver vivo. O problema é que eu não acredito que ele vá morrer até acontecer de verdaden então vou fazer o que quiser. Quando ele morrer, daí vou me desesperar. Tenho uma angústia enorme no meu peito de não saber o que fazer, de não querer fazer e de não fazer.
Então segui o caminho que eu quis, pra sumir, enlouquecer. Eu não lembro direito. Mas vou contar tudo que posso. E essa é minha vida no momento. Queria que lessem e comentassem.

Sexta: Fui assistir Bent com Lélia e Milena. Eu sempre seguro vela pra elas, mas porque elas pedem e porque eu gosto. A pipoca tava mole, o refrigerante ruim e as duas tavam menstruadas. Falamos mal dos outros, rimos da peça que nada tinha de engraçado. Depois fui no Odeon. Encontrei Juh, Fabio, o peguete do Fabio e depois chegou o Led e o Doug. Assistimos só ao Longa do Caio Fernando. As bichas até se comportaram. O filme me fez pensar sobre mim. Sobre ser eu e estar com quem eu quiser sem dar satisfação a ninguém, nem mesmo a quem trabalha junto comigo. Depois teve festa. O Juh ficou mal porque tem ciumes do Led e do Fabio. O Juh me irrita com ciumes, mas eu tentei levantar o astral dele e consegui.

Sabado: Não lembro. Mesmo. De nada. E tudo o que eu disse foi verdade. Sim, Eu não suporto mais sair com Amanda e Caio. Não suporto mais o curso. Não suporto mais pensar em viver de teatro. Não posso me prender a vocês. Não quero. Ou é o curso ou são vocês. Preciso de um tempo da faculdade. E pra isso preciso de um tempo de vocês. Mesmo que pra vocês isso não tenha lógica. Mas gosto muito de vocês. Na verdade eu amo vocês. Mas eu amo outros. E preciso amar a mim, coisa que ainda não aprendi. Eu sou apaixonado pelo Johnn e não quero mais vê-lo. Ele me faz mal. Me dá tesão. Me chama. Ele não é bonito. Mas isso não é importante. Não pra vocês. Ele é uma piranha. E eu também sou. Eu amo o Led e o Pedro. O Pedro ficou do meu lado. Jogou meu Rivotril fora. O Led só pode ser meu anjo. E eu choro agora. Choro mesmo. Eu preciso do Led nesse momento. Ele foi até a Lapa e me buscou. E me levou pra casa dele. E me trocou. E me pôs na cama dele pra dormir. E eu não lembro de nada.

Domingo: Led me acordou pra ir pro pic nic. Levantei, fui em casa, me troquei. Minha vó já tinha feito os sanduiches. Encontrei o Led. Ele me contou algumas coisas. Mas não lembro. No pic nic encotrei meus amigos. Alguns nem tanto, outros demais. Foi legal, mas me lembro pouco, eu gosto desse meio, me sinto bem. Encontrei o André, um outro, vocês não conhecem. Eu tinha um frissonzinho por ele. Queria pegar ele lá. Mas ele ficou com outro. Eu fiquei um pouco mal, mas nada que eu não superasse. Ele disse que tava confuso. Que gostava dos dois, de mim e do outro. Eu disse que era ele quem tinha que escolher e fui embora com o Led. Me arrumei pra Fosfo. Tomei Rivotril. Não lembro de muita coisa. O Led foi embora. Eu fiquei. Quis ir embora. Sai da Fosfo. Não tinha grana. Não tinha ninguém. O Led me ligou. Perguntou como eu tava. Eu disse que não tava bem. Ele mandou eu pegar um taxi até a casa dele e ele pagava. Eu relutei, ele insistiu e eu aceitei. Chorei com ele porque me sentia perdido. Ele não disse nada. Eu dormi.

Segunda e terça: Voltei pra casa. Passei o dia na net. Conversei com o André. Eu não tava bem. Não quis sair de casa. O André tava confuso ainda. Chamei ele pra sair. Na terça a gente saiu. fomos no Tijuca. "Assistimos" Kung Fu Panda. Viemos pra minha casa. Começamos a nos pegar. Perguntei se a gente devia continuar quando a coisa esquentou e ele disse que não sabia. E começou o chorar. Ficamos um pouco em silêncio. Foi bom. Me senti bem. Tava escuro e silenciso. Ele foi embora porque tava tarde. Minha vó chegou. Eu ouvi Legião. Meu irmão chegou. Eu não me senti bem. Me senti muito mal. Muito mesmo. E comecei a chorar. E contei tudo pro dois. Eles me entendem. André me ligou e disse que ninguém nunca tinha se preocupado com ele como eu me preocupei e ficou feliz por isso.

Não sei porque disse isso tudo. Mas precisei desabafar. Meu fim-de-semana foi estranho. Não me lembro da maioria das coisas, Rivotril faz efeito a longo prazo, e eu tomei muito e muito forte, mas foi quase tudo verdade. Eu me sinto amadurecendo um pouco. Não quero mais sair do meu controle. Vou largar Direção Teatral. Vou tentar vestibular pra UERJ, talvez Informática. Vou Tentar vestibular pra Comunicação Social na UFF e na UFRJ. Vou fazer matérias em Direção e talvez eu tranque depois se achar que não dá pra continuar. Não vou dar ouvidos a várias pessoas. Vou cortar algumas do meu convívio. Vou me infantilizar um pouco. Vou amadurecer um pouco. Vou seguir caminhos errados. Vou continuar fazendo teatro, mas não como prioridade nem como hobbie. Vou cuidar da minha saúde. Vou pensar no Porrada se ainda quiserem pensar. Vou pensar nas pessoas. Minha vida é assim. Não quero que opinem. Não quero que precisem de mim. Não quero ser eu mesmo pra sempre. Eu amo vocês. De verdade. Espero que vocês entendam.

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Você também entende a minha

Vim aqui pra me exibir e me deparei com suas verdades. Aquelas que eu vi aquele dia. Aqui elas estão mais claras. Por que não te abracei e não te larguei, até você entender que era pra chorar? E por que não chorei também, já que estava com tanta vontade? Podíamos não ter dito nada, mas estamos sempre deitando e rolando por sobre o sofrimento. "Se eu deixar de sofrer / como é que vai ser / pra me acostumar?" Como a gente ia se acostumar, né? Senti medo de fazer a expressão que queria enquando me abria, e ouvir você dizer que eu não devia sofrer tanto. Mas fiz tudo dramaturgicamente medido. Fui dando brechas e deixando vocês falarem. Até chegar o momento em que Diogo estava deitado e você colava suas obras. Me agarrei ao pão com manteiga, meu elemento de cena, e discursei sobre minha angúsitia de forma leve e desabrida. De qualquer forma, você também conhece minha alma e sabe que por dentro eu não estava falando daquele jeito. Eu conheço a sua, é? Foi difícil, e olha que eu me esforço pra entender a alma de todo mundo (eu acho, é, apenas acho...) Sua alma estava na sua sala, nas suas paredes, saiba disso, no vazio inicial que você decorou com suas obras, o que é bom, juro, acho muito bom. Mas a sala branca estava pulsando. Toda aquela tensão. Eu só sabia fazer silêncios. Se eu não podia gritar e chorar com você, me despentear e sair por Botafogo descabelado, melhor fazer silêncio mesmo. Se não falarem do meu pau e do meu cabelo, tá maneiro. Fora isso, posso sofrer à vontade. É isso que tenho medo de confessar: que me acostumei, que gosto. Você sabe, e tenta fazer alguma coisa, quando age de forma séria. Obrigado. Obrigado também por só me convidar quando sabe que vou ser eu mesmo. Será que quando nso encontramso de novo vou ser mais sincero e generoso? Admiro até a sua dor, apesar de querer acabá-la. Mas é a dor de uma mulher forte. Mais uma vez escrevi um texto inútil, tudo poderia se resumir num abraço. Espero que tenha fostado dos quatro pães, são baratos mas representam bem o clima que eu queria. E estavam saindo na hora, tão quentinhos... tinham acabado de nascer.

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Pedaços de cais

MARIA - Daqui de onde me sento não posso ver a areia. Mas vejo a beira me causa dor, não sei porquê. Eu gostava de pisar e ver meus pés sumindo. Agora não. Agora é lama. E fede como fede cosia morta. a beira morreu. A beira é a própria morte.
Ali é só beira, pedra e mar. É bonito, mas perturba. Me dá agonia, vontade de gritar e guardar o grito na boca.
O vento aqui me corta. Deve ser a areia. A terra. Assim como Paulo me corta agora, e já foi vento úmido, me molhava e me limpava, trazia o mistério na mala e no corpo.
Trazia o mar e o mistério e as ondas na língua, nos lábios, nas costas, nos pés. E nas mãos. Agora é segredo. Segredo duro como pedra, verdade clara como sol. Dói como o vento que corta.
Lá longe. As nuvens não me deixam ver. Lá longe onde não há movimento. Pra onde eu olho e acho que posso pisar. Quisera eu andar sobre o mar, subir seus montes, descer escadas, chegar onde tudo é festa. Onde tudo brilhe. As cidades de Paulo têm uma luz amarga.
Azul, você me cansa, me tortura, porque você já sou eu, mas por fora, pela pele. Estou afogada. Afundando. É o peso de mim.

Mais detalhes em http://agnuslucas.blogspot.com/

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quarta-feira, 30 de julho de 2008

...amandadidioscaiodidiosjúliodidioslucasdidios...

Estou ouvindo ESTÁTUA, a música da Xuxa.
Isso me faz pensar sobre o que a Amanda escreveu. Sobre o que estou sentindo. Ouvir estátua faz todo o sentido. Porque ou eu me mexo ou eu me calo e fico parado e quando perceber já caí num precipício (não por nele me jogar, mas por abrir sob meus pés, por tanto chorar, um buraco, minha cova).
FAZ UM SHAKE SHAKE. A GENTE VAI TER QUE RODAR, ela cantou agora há pouco e isso ainda continua vivo em mim. Tenho que fazer muitos shakes, eu confesso. Mas não seria vida se não existissem os shakes, nem haveria vida sem a necessidade de shakoalhá-la.
Por isso quanto te leio, Dória, só consigo pensar em shake. É culpa deste momento, mas é fomento. Entende? Sai do quarto lilás e vai para o mundo preto. Encontra no seu preto o brilho que ofusca o outro. A inveja que se dá no outro porque em você é a felicidade (que não existe) mas que você criou.
Erga-se. Não é panfleto que estou distribuindo. Mas é preciso. Tens 21 anos, eu tenho 20. Sabe que cismei, faz tempo, que vou morrer cedo? Acho que por isso estou correndo. E não é para evitar a morte. Mas para encontrá-la. Mas correr pelo tempo torna tudo mais denso. Acompanhe:
Está chovendo. Se eu vou caminhando, as gotas incidem sobre a minha cabeça, sobre meus ombros, alternando sobre os pés que avançam sobre o chão. Mas se vou correndo, as gotas todas atingem-me em profusão, porque meu corpo deita no ar e faz-se como nuvem no ar. Correr no tempo é voar. É abrir o peito e deixar se densificar.
Nada é ruim à toa. Meu signo é balança. O mundo é uma libra. Agora escuto TORCE, RETORCE, PROCURO MAS NÃO VEJO... E não é essa a razão do caminho? Não é esse o sentido nele implícito, encarnado, feito amor entre dentes que em ódio se converte?
É sim esse caminho odioso, por vezes, Júlio, um amor. É esse caminho do encontro, Caio, dos segundos que valem vidas completas. É o caminho no qual rios se descobrem em mares e esse ineditismo é seu e sempre será, Lucas. É esse caminho da cumplicidade, da dor delicada, Dória, da música da Xuxa que agora é VAMOS BRINCAR DE ÍNDIO. Mas sem mocinho para nos pegar. Ou que eles venham aos montes, porque mocinhos são bons de se comer, são descartáveis e a vida é também esse horror.
Hoje eu e você andamos um ou mais ou menos quilômetro(s) olhando para os cús da cidade. Perguntando-se se cheiraríamos ou não cada cu que passava. Isso é bárbaro. Foram poucos cus que eu encontrei para cheirar. Isso importa?
Tudo vale à pena. Se a alma e a conta bancária não forem pequenas.
E se a conta bancária for. Tudo bem, a alma de tanto se debater acaba por crescer.
E, nisso, descobrimos amar.

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Herpes brotou

Mas não vale a pena. Vou ficar aqui. Com um bom livro ou com a TV. Meu amor, cuidado na estrada. Feche o portão. Feche a janela. E saiba que eu te amo. Eu tô triste. Tanta coisa que a gente diz só pra dizer que tá triste. Ernst Ingmar Bergman. Sou tão só e dizem que a solidão até que me cai bem. Caio, eu te amo. E não é só porque o destino quis que a gente fizesse coisas juntos. Acho que é porque o destino quis que nós pensássemos e sentíssimos coisas juntos. E eu tô assim. E você você tava comigo. E fico feliz que ontem. Mas ontem não é mais hoje e só amanhã isso vai ser público. (Logo concreto?) Tenho medo da espera do sono. Já escrevi tanta coisa hoje, que ninguém vai ler. Tenho medo. Eu não tenho dinheiro pra te ligar. E nem pra sair. E beber e esquecer. Mas se faço isso aos 21, o que vou fazer aos. Eu não sei. Eu tenho um blog novo, lá como essa postagem as pessoas tem nomes de verdade. E isso é curioso, a que ponto cheguei de ter que ecrever só com metáforas? Eu sou uma metáfora. Toda distância curta é uma metáfora de uma longa distância. Eu tenho medo das longas distâncias. Júlio, ás vezes eu te amo muito, mas tem horas que eu te odeio mais que amo. Daí você me liga. E pede desculpa dizendo que não sabe porquê. E eu te amo mais que odeio de novo. E eu tô assim. Eu sou assim. Tem gente que não entende. Eu sei que as pessoas tem que me deixar. Eu sei que as pessoas tem que me deixar. Eu sei que as pessoas tem que me deixar. Eu sei que as pessoas tem que me deixar. Eu sei que eu tenho que trancar a porta. Eu sei que fico de costas pra porta trancada e não tenho medo de fantasmas eu tenho medo, eu espero, eu anseio, que alguém me abrace e chegue de surpresa. Falando que hoje eu não vou ficar sozinha. Por que esse medo inteiro de ficar sozinha? O que pode acontecer? EU nem sei o que vai acontecer. Se eu fizer o que me ensinaram. Hoje o João falou com Di. Ele tem 6 anos. O Di foi embora, eu sei que você tinha trabalhos. Ficar era ruim. Eu também não podia ir. Mal conheço o Vinícius e ia ficar desconfortável por isso, uns 13 minutos. Mas também tinha o dinheiro. POR QUE O DINHEIRO tá me deixando tão estressada assim? Eu só quero viver. Meu quarto novo é fofo. Gostoso. Eu sou preta. Minha mãe é neta e filha de índios. Meu pai é preto. Família do Espírito Santo. Nunca fui pra lá. Por que sempre alisei o cabelo? Por que a Gio não volta? Por que eu não suporto ficar em casa por duas pessoas e queria tanto que minha mãe morasse comigo? Por que meu pai não me aceita do jeito que eu sou? Por que minha irmã não deixa de ser castrada? Como todos, como quase eu. Por que a felicidade não existe? EU não quero ouvir que você não pode ficar agora porque eu sei que isso é sinal que você não pode ficar nunca. Nem nunca ficou. Preciso de uma . Preciso de um emprego. Mas não quero suprimir o pingo de liberdade que eu sonho hoje. Eu quero guanhar dinheiro com felicidade. Eu quero dormir e só acordar amanhã com o que eu não posso mais ter do meu lado. Eu quero os meus gatos. O Guto faz carinho em mim sem eu pedir. Mas ninguém entende gato. Só quem ama gato. Quero parar de chorar. Quero que dizer que eu tô chorando não pareça que eu estou me vitimando. Eu nem sei se tô. Eu eu tiver é só pra ter gente do meu lado. Mas eu não preciso de ninguém. Há. E quem me liga agora é prostituto de festa. Não. Não vou a festa. Eu ia num BINGO com a Nara hoje. Olha isso. Muita solidão e um quarto novo. Sons poluentes. Filme incompleto. Choro acabou. Som tocando. Bom som. Quando tudo está perdido sempre existe um caminho. Vá à merda. EU amo. EU odeio. EU sou assim. Caio. Vou pedir desculpa pra sempre. Cansei. Nunca fui coerente mesmo. Mas vontade de ligar passa por outros caminhos. Vou a Botafogo. Me sinto tão longe de Botafogo. Quero um gato. O da minha vizinha grita. Como eu sei que é dá minha vizinha? Pode ser vizinho. Eu quero o Quito. Benedict. Bendito fruto o que sai do seu ventre seco. Esse grito mal cheiroso pré- . Quantos abortos? Ter filho é sinal de nunca mais ter solidão? Tô com saudade da minha mãe. Volta. Vive comigo. Eu só queria uma família feliz. Mari, fala das bandas que eu nã conheço? Lucas ensaia. Se . Cadê minha macaca? Nara sabe. Preto velho tem coisa pra caralho pra me dizer e eu nessa de sofredora de botique. Cuuutuvelo. Mara é maravilha. Não há lugar como o nosso lar. Eu quero um lar. Eu quero um lar. Uma família tradicional. Já sou até uma pessoa normal agora. Eu tenho um coração eu Tenho ideais eu gosto de cinema e de coisas naturais e penso sempre em sexo. Eu tenho inveja. Eu quero um troço assim. Eu tô assim. Eu tô assim. Assim. Se ninguém aparecer amanhã eu apareço pra alguém. Ninguém vai me dizer o que sentir. Falou que foi abandonado por alguém. O outro se matou: Medo da China. Da China, acredita? Liguei a luminária. Não estou mais na mesa, portanto. E o Lucas, o Lucas conhece a minha alma. Tô lendo também. A tal pérola da ostra. Edméia, sem i. Edméa. BOm nome. Quem prova que isso não é sonho? A parede tá bem gelada. Porque qualquer companhia, interfone pode ser meu? Pra gente aqui ser poeta. não precisa professor basta vê no mês de maio um poema em cada gaio um verso em cada fulô. nota-se que eu economizo aspas e pontos. preguiça ou apropriação. Na verdade acho que a família do meu pai é de Minas e não de Espírito. Agora acho que tô melhor. Tô melhor. Com couve e frango. Banho maria. Vi Jô. Fiz um desenho mais ou menos e outro ruim. Rasguei o ruim. Não terminei de digitar tudo. A biblioteca vai fechar. Me deu herpes por causa do estresse. Eu não vou mais pegar Sol pq acho que ele acabou. Meu pulso dói. Oi, meu nome é Amanda, procuro um picudo pra minhas noites solitárias. Beijosmeliga. Sim. Estou de volta aos anos trinta. Viva o Cine Ideal, abaixo ao Galeria. Chico me visita. Estou menos suscetível, voltei a saber como pisa nas pessoas... Acordei bem e ouvi Los hermanos e Tom Zé.. Cada clareza é uma mentira.

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terça-feira, 29 de julho de 2008

Copa.

as tardes em copacabana são assim
neste ir e vir
nesta cerveja em boa hora
nesse assunto tenso
a questão racial
a gringa na feira
a praia, o frio.

é tudo assim
sem mais nem porquê.

um dia, quem sabe, a gente vai poder explicar a noite de sábado.
eu defino como: loucura, crescimento e vanguarda.
é isso.

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domingo, 27 de julho de 2008

Pedaço de carta não mandada ao amigo Luiz Paulo

...Você é um rio. Eu sou um lago. Dependendo da estação posso ser belo ou triste. Peixes contemplativos, calmos e obsessivos habitam em mim. E as pessoas se banham e vão embora... vêm seus rostos refletidos em mim.

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sábado, 26 de julho de 2008

Ah, um dia...

Ah, um dia, qualquer dia de calor
é só mais um dia de lembrar
a cordilheira de sonhos que a noite apagou

OS POVOS, de Milton Nascimento e Márcio Borges

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Nem quero mesmo

Qualquer dia.
Há.
É.
Ah.
Diaaaaa.
Ble.

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terça-feira, 22 de julho de 2008

Então eu decidi. na verdade não decidi.

não vou decidir.

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segunda-feira, 21 de julho de 2008

O Silêncio de Melinda



É o meu primeiro dia na Escola. Tenho sete livros novos, uma saia que odeio e uma dor de barriga.

Toda aquela porcaria que ouve na TV sobre comunicação e expressão de sentimentos é mentira. Ninguém tem que se preocupar com aquilo que você diz. Pergunto quanto tempo é que vão demorar a percecber se eu parar de falar.

Hoje é dia de carreira. Eu sou: a)- ajudante b)- adorada c)-organizada d)- sonhadora?

Os Sufferjets lutam pelo direito de falar. Foram atacados, presos e postos na prisão por terem se atrevido a fazer as coisas a que tinham direito. Com eles, a Melinda está disposta a fazer aquilo pelo que ela acredita. Que ninguém devia ser obrigado a fazer discursos.

Provavelmente devia contar a alguém. A qualquer pessoa.

Aconteceu. Não há ninguém que possa apagar.

I WAS RAPED.


Título no Brasil: O Silêncio de Melinda
Título Original: Speak
Direção: Jessica Sharzer
País de Origem: EUA
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 92 minutos
Ano de Lançamento: 2004
Estúdio: Imagem Filmes

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domingo, 20 de julho de 2008

Classificações do Zé

Somos um povo infeliz, bombardeado pela felicidade.
0 sorriso deve ser muito velho, apenas ganhou novas atribuições.
Hoje, industrializado, procurado, fotografado, caro (às vezes), o sorriso vende. Vende creme dental, passagens, analgésicos, fraldas, etc. E como a realidade sempre se confundiu com os gestos, a televisão prova diariamente, que ninguém mais pode ser infeliz.
Entretanto, quando os sorrisos descuidam, os noticiários mostram muita miséria.
Enfim, somos um povo infeliz, bombardeado pela felicidade.(As vezes por outras coisas também).
É que o cordeiro, de Deus convive com os pecados do mundo. E até já ganhou uma condecoração.
Resta o catecismo, e nós todos perdidos.
Os inocentes ainda não descobriram que se conseguiu apaziguar Cristo com os previlégios. (Naturalmente Cristo não foi consultado).
Adormecemos em berço esplêndido e acordamos cremedentalizados, tergalizados, yêyêlizados, sambatizados e miss-ificados pela nossa própria máquina deteriorada de pensar.
"-Você é compositor de música "jovem" ou de música "Brasileira"?"
A alternativa é falsa para quem não aceita a juventude contraposta à brasilidade.. (Não interessa a conotação que emprestam à primeira palavra).
Eu sou a fúria quatrocentona de uma decadência perfumada com boas maneiras e não quero amarrar minha obra num passado de laço de fita com boemias seresteiras.
Pois é que quando eu abri os olhos e vi, tive muito medo: pensei que todos iriam corar de vergonha, numa danação dilacerante.
Qual nada. A hipocrisia (é com z?) já havia atingido a indiferença divina da anestesia...
E assistindo a tudo da sacada dos palacetes, o espelho mentiroso de mil olhos de múmias embalsamadas, que procurava retratar-me como um delinqüente.
Aqui, nesta sobremesa de preto pastel recheado com versos musicados e venenosos, eu lhes devolvo a imagem.
Providenciem escudos, bandeiras, tranqüilizantes, anti-ácidos, antifiséticos e reguladores intestinais. Amem.

TOM ZÉ .

P.S.

Nobili, Bernardo, Corisco, João Araújo, Shapiro, Satoru, Gauss, Os Versáteis, Os Brazões, Guilherme Araújo, O Quartetão, Sandino e Cozzela, (todos de avental) fizeram este pastel comigo.

A sociedade vai ter uma dor de barriga moral
O mesmo

A. Doria

"Às vezes parecia
Que de tanto acreditar
Em tudo que achávamos
Tão certo

Teríamos o mundo inteiro
E até um pouco mais
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços
De vidro

Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente
Quase parecendo te ferir

Não queria te ver assim
Quero a tua força
Como era antes
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada

Às vezes parecia
Que era só improvisar
E o mundo então seria
Um livro aberto...

Até chegar o dia
Em que tentamos ter demais
Vendendo fácil
O que não tinha preço

Eu sei é tudo sem sentido
Quero ter alguém
Com quem conversar
Alguém que depois
Não use o que eu disse
Contra mim

Nada mais vai me ferir
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada
Que eu segui
E com a minha própria lei

Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como sei que tens também"

Do velho


"Catecismo, Creme Dental e Eu

Vou morrer nos braços da asa branca,
No lampejo do trovão
De um lado ladainha,
Sem soluço e solução.

Nasci no dia do medo
Na hora de ter coragem
Fui lançado no degredo
Diplomado em malandragem

Caminho, luz e risco,
Aflito,
Xingo, minto, arrisco, tisco,
E por onde andei
Eu encontrei o bendito fruto em vosso dente,
Catecismo de fuzil
E creme dental em toda a frente.

Pois um anjo do cinema
Já revelou que o futuro
Da família brasileira
Será um hálito puro.

Nasci no dia do medo, etc. etc.

Pinta -la - inha
Da cana vintinha
Mandei dizer pro meu amor
Faça a cama na varanda
E não esqueça o cobertor

Não quero ser cantador
Só fazer valentia
Também gasto heroísmo
Nos braços de uma Maria.
Nos braços de uma Maria."

Do novo


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Postagem móvel boicotada

Meu corpo não morreu, mas é escravo e não senhor.
Minha alma tem 2 anos (mesmo meu espírito tendo nascido a dois anos).
Meu espírito é um adolescente querendo ser adulto.

A Carla (agora é a Carla mesmo!) diria: "Que menino sublimado"; mas nunca estive tão liberto. Liberto para reconhecer minhas sublimações e não ser mais escravo, mas senhor delas e assim ser curado.

Deu vontade de deletar meu blog, mas como eu sei que sou inconstante (motivo pelo qual meu espírito ainda não se tornou adulto) não far-lo-ei.

Ainda sou dramaturgo.

Ainda posso tudo nAquele que me engrandece. No Antigo Testamento Ele diminuía os odiados, os inimigos. Na Nova Aliança, Ele engrandece a todos, todos são amados, inimigos e amigos, conhecidos e colegas, desconhecidos e blablablá.

Ainda é uma grande idéia essa coisa de postagem móvel, posso escrever o que quiser, depois será pagado mesmo. Tudo pode aquele que é eu-lírico, ele mente artisticamente sem pecar.

Ainda que se digam não quererem ser julgados inocentes, tem espancadores que choram mais do que quem apanha. (Assim se finge -mesmo que seja para simesmo, para sua própria consciência- que não se fez mal nenhum a ninguém) Nenhum homem precisa explicar nada a outro. Odeio explicações, odeio justificativas, só Deus justifica. Só há duas opções e explicação não está entre elas. Ou reconhece-se o erro e se deixa que Deus justifica (pois só ele justifica e está pronto para justificar aquele que humildemente reconhece o seu erro) ou se é arrogante (por incrível que pareça é o inverso de humilde) e ignora-se o erro e o errante e cada um vai com seu próprio erro para seu próprio lado. Ainda bem que não estou errante por aí, já reconheci meu erro, de coração e por escrito. Deus é único, bem singular.

"Maldito o homem que confia em outro homem"
ASS: Deus
Por isso, VOTE NULO!

Ninguém que é inocente tem tanta necessidade de dizer: "Não sou culpado!" tantas vezes. Quem não precisa de Deus não fala tanto nele nem procura na Wikipedia. Quem não liga não escreve cartas. Eu não ligo. Não ligue. Esta não é uma guerra. O senhor da guerra não gosta de crianças. Ares não gosta de crianças. Deus ama as crianças. Vinde a mim todos os pequeninos pois a eles pertencem o reino dos céus. Humildade. Eu tenho dois anos. Deus odeia a potestade do ar (Ares -ou Marte para os íntimos, eu chamo de ares).Deus te ama. Esta é uma canção de amor. Não me entenda mal, esta é uma tentativa de salvação tricotômica: Espiritual (é óbio o que quer dizer); de alma (do grego psiqué -está relacionada aos sentimentos) e de corpo (a distância não é para a guerra mas para a possível salvação do relacionamento).Esta é uma canção de amor. Não me entenda mal.

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FELIZ DIA DO AMIGO


São Paulo é mágico. acho que a mágica nem está contida na cidade e sim na vida que tenho aqui com amigos, conhecidos, desconhecidos e queridos.
mas como disse:
eu vim para aprender a voltar
para sentir saudade do que ai há
e de volta
abraçar
apertar
agasalhar
mimar
essas coisas todas, gostosinhas e grudentas.

vim para poder partir
mais uma vez...

sábado, 19 de julho de 2008

Ser e Não-Ser

Pois é preciso saber
para esquecer.

É preciso cortar
para vir você e me coser.

É preciso comprar
para chatear-se do que se tem.

Acredito então em ser
e não ser.

Num só corpo todos os sentidos
nu, o corpo, cheio de gemidos
e assim
completo
pois nele vazio e repleto lutam
mal se rompe a manhã.

EU PEÇO

Não me divida
não me restrinja
não me nomeie
nem me suprima

Deixe faltar
deixe secar
saciar cair bater
rachar.

Tudo é preciso
cada coisa na sua imprecisão

Se navegar já foi preciso
se afogar talvez seja a solução.

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Ser

Respiração e mar
Artérias, veias, rios
Raízes e galhos
Cavernas e vaginas
Arranha-céus e pênis
Árvores e brócolis
.
.
.

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terça-feira, 15 de julho de 2008

Comentário à E Assim te Faço Herói

é.
isso aí.
assim que se faz
humilha e deixa que humilhem
mas não se manda no coraração
ainda te amo e acho que para sempre amarei
Não se manda no coração nem no Espírito Santo
Desculpas, eu que invadi sua área
Se tem um culpado por eu ser humilhado este sou eu
que invadi sua área
seu círculo de defesa
você me atacou
mas fui eu que invadi sua área
mas eu sou um babaca
no dia que você quiser me assumir do jeito que sou,
no dia que você quiser assumir nosso relacionamento na sua faculdade
o babaca vai estar aqui como sempre de braços abertos a quem ele ama de verdade
ser cristão não é nada mais nada menos que ser babaca
ser humilhado
ser obrigado a ouvir aquelas conversas onde se fala mal de crente -que você usou a melhor descrição para conversas que se fala mal de crente que eu já ouvi: conversa-de-tia
ser crente é ouvir aqueles discípulos da globo que bota crente dando pra todo mundo na novela das oito como estratégia contra a record propagando o preconceito, coisa que era para as pessoas se enojarem, mas com crente pode, como se não fosse um preconceito igual ao contra o negro e o gay. Mas sabe né pode tudo, só não pode ser crente
Sabe... sou CRENTE. CRENTE!!!!!!!!
Exatamente, não raspo suvaco, ando de saião até o pé, e fico no trem gritando CONVERTEI-VOS, CONVERTEI-VOS! OH, GLÓRIA! ALELUIA, GLÓRIA A DEUS! SOU CRENTE! EU FEDO, SOU CRENTE! SOU CAPITALISTA, SOU CRENTE! SOU HOMOFÓBICO, SOU CRENTE! NAZISTA, SOU CRENTE! É eu sou crente e não ligo para os esteriótipos nem pros papos de tia nem pros discípulos da globo.
S você não se assuymiu, foi porque eu não me assumi primeiro.
Mas para você não continuar gemendo o que eu fiz? o que eu fiz?...
No momento em que eu estava mais fragil e precisava de força, entre meus pesadelo (falei sobre eles para você -espero que você não ache que estou inventando um passade para voce), minha insegurança
em uma ambiente totalmente novo só conhecia você
e logo você
patadas, foras, mas sabe
brigas todo mundo tem o tempo todo
mas humilhar e ser sujo quando alguém precisa muito de você e está fragilizado?
Espero que você não continue a gemer por aí
"sou uma ré sem culpa"
a censura era brincadeira
mas tanto eu quanto você sabemos que esse não foi o problema
os outros podem achar que foi isso
mas NÓS sabemos muito bem qual é o nosso problema
Mas o babaca sempre estará aqui
qundo você voltar o babaca ainda vai estar aqui
ainda vou estar esperando você acabar o papo de tia com os coleguinhas, o "é isso aí" passar, acabar a caça aos poetas e aos crentes

·cada vogal e consoante dessa música diz tudo que eu quero dizer pra você:

Vai, se você precisa ir
Não quero mais brigar esta noite
Nossas acusações infantis
E palavras mordazes que machucam tanto
Não vão levar a nada, como sempre

Vai, clareia um pouco a cabeça
JÁ que você não quer conversar.

JÁ brigamos tanto
Mas não vale a pena
Vou ficar aqui, com um bom livro ou com a TV
Sei que existe alguma coisa incomodando você

Meu amor, cuidado na estrada
E quando você voltar
Tranque o portão
Feche as janelas
Apague a luz
E saiba que te amo

vai, por enquanto você precisa ir, não vamos mais brigar por enquanto desta forma infantil, isso não leva a nada e nunca levou, clareia o pouco a cabeça já que agora não me aceita. Vou ficar aqui com a Santa Teresa e com a arte, a dramaturgia, com os COLEGAS, sei que existe alguma coisa incomodando você, mas enquanto isso cuidado, quero você de volta intacta para podermos finalmente semi-conhecidos e comecemos a ser amigos. Os amigos do colégio foram, os da faculdade irão (não por que queiram, acontece, cada adulto toma seu rumo) mas nós três seremos crianças para sempre (assim como o Peter Pan) e amigos para sempre, enquanto isso me divirto com os COLEGAS, mas ainda aguardo.
E saiba que te amo

[fim do papo pessoal início do profissional]

Eu juntei as duas turmas do teatro mais a turma de palhaço, mais contadores de história, animadores de festa e músicos para fazer um dia de arte para criança de rua na Afonso Pena, entre outras coisas vamos fazer uma peça que escrevi baseado em Alice No País Das Maravilhas, talvez fechemos com o Geringonça, conclusão: se você quiser me ajudar a dirigir os atores, teremos uma relação 100% profissional de dois semi-conhecidos (enquanto você não volta). A peça é um pouco poesia espero que isso não lhe incomode.


E quando você voltar
Tranque o portão
Feche as janelas
Apague a luz
E saiba que te amo.
E seremos profissionais amigos.
Temos uma média de vida de 60 anos, ainda temos 40 anos pela frente.













PS: "sou uma ré sem culpa" da postagem Classificações não é um gemido pra você.
PS 2: Dirijo se você quiser e o texto for bom.

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O inverso: Classificados.

Estão em liquidação alguns agasalhos de meu armário.
São de muitas pessoas muitas das roupas que me uso.
Meus livros já foram de muitos, por isso os chamo de verdades.
Minha parede é verde-bandeira e minha mãe a taxou de insuportável.
Minha cortina compartilha comigo cetin e cara-de-puta, cor vinho: que minha vó acha pesado.
Meu computador é preto, mas minha irmã queria o branco: mais leve.
Minnha pele: clara.
Meus olhos e cabelos: castanhos.
Estatura: da média para a pequena.
Meus amigos: ótimos.
Minha família: pequena.
Meus desejos: querências possíveis.
Meus sonhos: da ordem do indizível.

***

Vende-se um coração pronto para amar.
Procura-se uma casinha para morar.
Vende-se carinho e afeto.
Procura-se receber o mesmo.
Vende-se beijos e loucuras.
Procura-se doce e travessuras.
Vende-se compania.
Procura-se caminhar de mãos dadas.
Vende-se amarelo manga.
Procura-se vermelho tão tão.
Vende-se uma avenca partindo
Procura-se quem, junto comigo, possa estar indo.

***

algumas páginas de meus classificados mais que variados.

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Classificações

Virgem Santíssima! Me ajude a não cair no erro que cometem comigo, porque é um erro que dói. Ou me respeitam muito ou me violentam. Ou me amam ou me odeiam. As pessoas não meio-termam comigo. Não. Acham que eu sou tão bom que:
1 - não posso ser atingido por nada;
2 - posso ser atingido por tudo, pois sou tão razoável e complacente que vou entender.
O que não sabem é que:
1 - tenho um pouquinho de força (afinal, pesando 48 quilos, estudando na UNIRIO, tendo em casa família católica e espelhos, estou vivo, estou vivo, apesar de tudo);
2 - sou passível de ódio.
Alguns sabem disso e lançam seus olhares ásperos, aos quais eu respondo com a a habiltual candura. Me incomodam porque sabem que eu posso odiar, por exemplo. Não saber é bom. É uma forma de ganhar tempo.
Com Julia, Julia Ronai, tive tempo. Ela disse que não via razão para me cahamar de Luquinhas, me chama de Lucas. Chegamos a duas razões plausíveis para isso:
1 - ela é do meu tamanho;
2 - nos aproximamos num final de período, depois que pude mostrar minha verdadeira face.

Outras observações:
As pessoas me dizem muitas verdades duras a respeito do meu comportamento, durante uma cerveja, ou uma conversa informal. Preferia que me dissessem aos berros e me batessem, pra que eu pudesse ter motivos reias pra me vingar.
Não me importo que me chamem de Luquinhas, inclusive gosto.
Meu gato se acostumou com minha pessoa lhe dando ração. Pede mais pra mim que pros outros. Me dá carinho para receber comida, mas não aceita meu carinho.

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segunda-feira, 14 de julho de 2008

Porquê.

Porque eu tenho medo.
Porque eu tenho ciume.
Porque eu não vivo pra uma coisa só.
Porque eu sou complicado.
Porque eu não me encaixo.
Porque eu tenho medo.
Porque você ri com esse.
Porque eu tenho ciume.
Porque a vida é sua.
Porque a vida é minha.
Porque ninguém tem culpa.
Porque eu tenho medo.
Porque eu me repito.
Porque eu quero muitas coisas e não só uma.
Porque eu quero muitas pessoas e não só uma.
Porque eu sou egocêntrico.
Porque eu tou ouvindo Britney e lendo quadrinhos e assistindo filmes de terror e conversando no msn.

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Abandono

Você me abandonou.
Só isso.

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Classificações (II)

Papai do céu,
Na hora que eu atirei o pau no gato ele berrou.
Mas eu gritei mais, porque eu bato com dor de bater.
Não deixe que nada me classifique mais do que eu.
Não deixe que me chamem de assassina porque matei o gato.
Não deixe que me digam inocente porque gritei mais que ele.
Não deixe que me vejam assim. Assado.

Não tornem meu existir um fardo de encaixe.
(Deus é plural.)
Não tornem a necessidade de encaixe o meu existir.
Eu não encaixo.
Eu me acho.
Hoje macho.
Amanhã queijo.
Segunda domingo
E domingo fêmea.

Eu não tenho futuro.
Nada é definitivo.
Eu não tenho passado.
Eu mal tenho presente.

Repito:
Que grande mal te fiz que preciso me explicar?

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Classificações

Bonito. Feio. E ao meio.

Bom. Ruim. E acho tranquilo, e você?

DVD. VHS. HD. MSN. LS-JACK. SKYPE. ORKUT. SARTRE ou BECKETT.

Ficar. Namorar. Enrolar. Desenrolar. Desesperar. Dormir. Não acordar.

Pacto. Promessa. Sinceridade. Ter pressa. Ter presa. Ter pênis. Ter que usar tênis.

Música. Gritada. Contida. Calada. Resmungo ou choro. Soluço ou imploro.

Posso fazer da minha segunda um domingo segundo, seguido?

Posso.
São meus filhos.
Eu que dou ou proibo
o tal sucrilhos.

Eu que digo sim ou não
quando a comer
macarrão.

Eu que invento ou faço
cópia
dessas linhas - meio - tortas
que despencam dos olhos que vejo
que miro
e que fujo
sempre temendo não ter medo.

Gracejos.

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Classificações

"Papai do céu, juro que no próximo semestre saberei classificar as coisas. Dividir as coisas em grau de importância e também separá-las para fazer uma de cada vez. Eu quero saber posicioná-las entre o imediato e o urgente."

Porque as vezes a gente não pode fazer mais nada. Só se repetir.

Ah.

Prometo não me repetir tanto também.

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Classificações

Papai do céu, juro que no próximo semestre saberei classificar as coisas. Dividir as coisas em grau de importância e também separá-las para fazer uma de cada vez. Eu quero saber posicioná-las entre o imediato e o urgente.

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domingo, 13 de julho de 2008

Classificações

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VÔ Fala bem rapidinho que é pra n incomodá ninguèm

Quando a gente bebe demais a gente diz coisas ótimas. Talvez um dia você até se arrependa delas, mas e daí? não é mesmo. eu vivi achando que eras passarinho e agora só me vem crocodilo. baita encomenda maluca sorrr. n se pode confiar nesses esquemas de correio, idas, vindas...essas coisas. quando precisar dizer, vá você.olhe e diga.assim...ouça a resposta, sinta-a, se quiser retruque, se não, gire-se apoiando-se, inicialmente, pelo quadril, passando primeiro as costas, terminando o movimento com as pernas, e pronto: agora vá. eu disse que as coisas iam ser semples e elas sempre serão. assim como um dia após o outro. as pessoas que tendem a comploicar as coisas..eu não.eu fico no superficial, no fácil, até porque esse já é bem pesadinho.


-quero mais festa junina.
-quero ver filme e cobertô.
-quero saber pq que quando a gnt tem compras na mao a gnt sobe pelo elevador de serviço.

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quinta-feira, 10 de julho de 2008

Cansei de ser alguém que faz parte de algo.
Quero não fazer.
Sempre indo e voltando.
Voando.
Gosto de todas as pessoas e de todos os lugares.
Mas mesmo assim, sempre um pouco sozinho.

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quarta-feira, 9 de julho de 2008

Éxica no Tinhatro

Grupos teatrais e a produção de diários de montagem





Índice

O porquê do trabalho

Os objetivos do trabalho

Escolha do objeto de pesquisa

O que solicitei e o que me foi entregue

Grupo Galpão

Análise do Relato

Conclusão

Anexo I – Relatos de Macbeth

Anexo II – Email Cia dos Atores

Anexo III – Relato Andreza Bittencourt

Anexo IV – Relatório I (18/06/08)

Anexo V – Preços das publicações

Anexo VI – Trecho dos Diários de Montagem do Galpão


O porquê do trabalho

A matéria de Direção I, ministrada pelo professor Eduardo Vaccari, foi dividida em duas etapas. A primeira de cunho teórico, de análise de textos. A segunda de caráter prático, onde os textos analisados seriam encenados. Éramos dezesseis alunos, pelo espaço e tempo, era complicado que todos nós dirigíssemos uma cena, assim a turma foi dividida em quatro grupos, cada um deles com quatro pessoas: um diretor, dois atores e um relator. Apesar de ter sido encaixada como atriz, a figura do relator foi a que mais me interessou.

A direção podia não ser o nosso “cargo” naquele momento, mas o professor quis que nosso olhar fosse de diretor. Com isso, o papel do relator era quase de um crítico teatral, mas com olhar sobre um processo, não sobre uma peça acabada. Era incentivado ainda que cada ator e diretor tivessem o hábito de produzir um diário contendo as impressões alcançadas nos ensaios. Passei então a relatar cada passo do processo logo depois de cada ensaio.

Para caracterizar melhor o relato produzido por mim vou esmiuçar como era o processo em que estávamos:

O professor Vaccari participou de uma mesma oficina que a aluna Laura Nielsen participou. Essa oficina era oferecida pelo Théâtre du Soleil e ministrada pela diretora do grupo, Ariane Mnouchkine. A pesquisa do grupo era baseada no improviso em cima de um texto pronto, dentre outros detalhes. O professor achou interessante que, tendo os dois participado dessa oficina, Laura ficasse como diretora de um dos grupos e empregasse o método apreendido nas aulas que tiveram. Em princípio, para acompanhar o processo, Vaccari ficaria inclusive como relator do grupo, mas por fim, a aluna Nina Balbi ocupou esse lugar. O texto escolhido foi Macbeth de William Shakespeare (o mesmo usado na ocasião da oficina). Eu ficaria com a personagem da Lady e Júlio Castro o personagem título.

O método utilizado para interpretação foi novo a, praticamente, toda a turma e foi alvo de investigação até dos não envolvidos no processo. Além disso, o professor Vaccari pretende usar o Théâtre du Soleil como objeto de pesquisa de seu doutorado, demonstrando o caráter no mínimo instigante que o método usado trás.

Foi unido, então, a necessidade de escrever um diário de impressões à um processo novo e complexo.

Como a cada novo encontro surgia, em virtude da utilização do método, um lugar novo trabalhado, dificuldades iniciais quebradas, avanços inesperados, a necessidade acadêmica de relatar o processo passou a ser uma obrigação pessoal. Principalmente após constatar que o próprio exercício da escrita me levava a levantar questões que de outra forma ficariam esquecidas ou mal desenvolvidas. Foi assim que produzi além de um diário (Anexo I), outros documentos mais aprofundados de cunho descritivo e reflexivo.

Quando percebi, a produção de textos sobre minhas impressões se tornou um hábito, tanto nesse exercício de Direção I quanto em qualquer outra atividade teatral.

Aliado a descoberta dos diários de processo, meu caminho no teatro sempre esteve ligado à pesquisa e investigação.

No início desse ano, Júlio e eu demos início a uma pesquisa teatral com base na filosofia de Albert Camus e o teatro de Samuel Beckett. Era um trabalho despretensioso no sentido de almejar construir uma peça, entrar em cartaz, etc. Nós iniciávamos uma pesquisa, primeiramente com apenas um ator, para alcançar a construção do corpo e atitudes do “homem absurdo”.

Logo a necessidade de documentação apareceu para que a pesquisa não se perdesse. Passei a relatar cada encontro durante o acontecimento e posteriormente a ele. O meu diário de processo passou então, além de ajudar como documentação dos acontecimentos e levantamento de questões da investigação, a ser um ponto de partida nos processos criativos. Escrever me ajudava a “guardar” movimentos, ”salvar” impressões e a criar novos caminhos de pesquisa, organizar pensamentos que seriam transpostos para o espaço de encontro teatral.

A pesquisa foi se tornando maior que o a proposta inicial, víamos que precisávamos de mais atores e acabamos por nos encaixar na descrição de grupo teatral. Fomos batizados pelo acaso com o nome de “Teatro Porrada ou Triste Espetáculo” (Triste Espetáculo é uma fala que Macbeth diz a Lady e nos marcou desde a nossa experiência em Direção I).

Ao ver a minha necessidade de escrita e querer transportá-la a todos, dei a cada ator um caderno para que as suas impressões fossem registradas. Vejo a riqueza que ter um diário me proporciona e quis assim compartilhar a minha experiência. Acredito, aliás, que por ter esse caráter de pesquisa, a ausência de diários levaria a uma pesquisa incapaz de sobreviver ao momento de acontecimento.

Foi por ter esses antecedentes que resolvi optar por um trabalho final de Ética ligado a relatos produzidos por grupos que promovam a pesquisa teatral.


Os objetivos do trabalho

No início, não sabia exatamente como abordar esse tema associando ao conteúdo da matéria de Ética. Achava que era suficiente falar de grupos teatrais uma vez que esse foi um dos temas apresentados durante o curso.

Ao longo das discussões de desenvolvimento do trabalho ia vendo a fragilidade da minha proposta. Ela parecia não ter porquê de ser apresentada nessa matéria. De início pensei em associar os relatos diretamente a grupos, no sentido de demonstração da sobrevivência destes fora do circuito comercial de teatro. Mas uma vez, eu mesma me questionava qual seria o porquê de falar dos relatos em si, já que nesse tema poderia falar mais objetivamente de editais ou de estrutura de festivais ou de gestão de grupos de fato.

Ao entrar em contato com os Diários de Montagem do grupo Galpão, percebi que eram publicações que poderiam gerar renda e vi que a linha do meu trabalho poderia ser essa: a gestão de grupos através de publicações. Passei a direcionar minha pesquisa nesse sentido para ver se essa linha era possível.

Meus olhos foram abertos quando, no último encontro que tivemos para discussão do trabalho, o conceito de gestão foi ampliado. Enquanto eu observava o lucro imediato através simplesmente da venda das publicações, me foi mostrada a questão do que é agregado ao grupo quando uma publicação (seja como relatos, ou históricos do grupo, ou um livro de fotos) é apresentada juntamente com o currículo. É um lucro muito maior que a venda dos livros, um ganho em longo prazo.


Escolha do objeto de pesquisa

O meu primeiro contato com o grupo Alice 118 foi em 2004, quando eu tinha 16 anos. Nessa ocasião o grupo participava de um projeto patrocinado pelo Banco do Brasil onde oferecia diversas oficinas gratuitas. Entrei em uma das oficinas e me vi participando de um processo que até então eu não conhecia, de intensa pesquisa e experimentação. Logo descobri que o grupo oferecia oficinas no Teatro II do Sesc Tijuca, no Centro de Estudo Artístico Experimental (CEAE) desde 2001. Ainda hoje o meu contato com o grupo é intenso e ainda freqüento as oficinas e com o passar do tempo fui entendendo melhor o que me chamou atenção de princípio no grupo.

O primeiro espetáculo que eu assisti do grupo, Comoção, era algo para mim totalmente novo. Longe das convenções teatrais que estava acostumada, longe da interpretação padrão que eu fui educada a manter. Depois vim a saber que Comoção era fruto de um ano e meio de pesquisas pelos estados emocionais do homem com suas reações aos acasos da vida. E que tudo que o Alice produzia não escapava da experimentação de longos estudos teatrais.

A escolha do Alice 118 para ser o objeto analisado tem duas “explicações”. A primeira por ser dos grupos o mais próximo de mim e que eu mais tenho contato. A segunda é o estudo que eu faço em cima da pesquisa do grupo antes mesmo do trabalho aqui apresentado. Receber relatos de processos do Alice enriquece a minha própria pesquisa no campo da experimentação teatral.


O que solicitei e o que me foi entregue

O meu primeiro contato foi com Andreza Bittencourt, atriz do Alice 118, professora do CEAE e produtora do mais recente espetáculo da Ana Kfouri, Animal do Tempo. Expliquei a ela como seria o trabalho e perguntei se ela ou algum dos atores do grupo tinha o hábito de relatar o processo de montagem, produzindo alguma espécie de reflexão sobre a pesquisa realizada. Ela me respondeu que nem ela nem nenhum dos outros atores fazia uso da escrita para documentar a experimentação, mas se dispôs à produzir um relato para mim. Perguntei se era possível conseguir o clipping do grupo, ela disse que me enviaria por email.

Posteriormente, mandei um email para outros integrantes do Alice a fim de conseguir mais relatos.

O próximo passo foi perguntar (via email) a alguns grupos que eu sabia ter publicações de relato de processo o real lucro obtido com elas e, a quem respondeu, enviei um outro email perguntando sobre o lucro não imediato, o que as publicações trouxeram para o grupo.

Além dessas solicitações, me utilizo na pesquisa dos Diários de Montagem do Grupo Galpão.

Depois do último encontro que tivemos, no dia 26 de junho, resolvi pedir a todos os integrantes do grupo (que eu consegui o email) um relato nos moldes que enviei para Andreza Bittencourt.

Para os atores do grupo que eu conhecia enviei um email mais pessoal, para os outros tratei mais formalmente e enviei o texto que se segue:

“Assunto: Alice 118

Corpo de email:

Sou aluna do Centro de Estudo Artístico Experimental e sou estudante da Direção Teatral da UFRJ e estou fazendo uma pesquisa que serve ao trabalho final da matéria de Ética no teatro, ministrada pela professora Adriana Schneider.

O trabalho é sobre gestão de grupos e companhias teatrais. Eu pretendo enfocar as publicações escritas que os próprios grupos produzem sobre seus estudos e processos de montagem.

Gostaria de saber se você, como ator do Alice, já sentiu a necessidade de relatar os seus processos e se já o fez. Se já, ficaria satisfeita se me cedesse alguns dos escritos para utilizar no meu trabalho. Se não, gostaria de saber se há interesse seu de produzir um pequeno documento sobre o grupo.

Esse relato serviria apenas para análise dentro do trabalho, não sendo usado para nenhum outro fim senão acadêmico. Caso haja interesse, seria bom um relato com caráter bem pessoal, talvez facilite, inclusive, relatar apenas um momento da carreira de vocês no lugar de produzir um apanhado.

Sinto que sou, de certa forma, invasiva e exigente no meu pedido, caso não se sinta à vontade de fazer ou esteja muito ocupado mesmo assim agradeço.

Grata,

Amanda Doria”

Enviei para seis atores do grupo (que não me convém falar os nomes). Apenas duas pessoas me responderam se disponibilizando a fazer o relato e responder as questões. Entrei em contato novamente, expliquei mais um pouco as características do relato e estipulei um prazo (terça agora, dia 1º de julho). No entanto, ambos os relatos não chegaram a tempo. Entendo que pedi em cima da hora e sei que sua produção requer tempo e cuidado, logo não as culpo pela falta.

Andreza se disponibilizou também a fazer outro relato, no entanto, só tenho em mãos o primeiro relato de Andreza, o outro não chegou a tempo.

Emails para grupos:

Enviei um email perguntando sobre a renda gerada pelas publicações para a Cia dos Atores, o Grupo Galpão e o Armazém Companhia de Teatro. Somente a Cia dos Atores me respondeu. Visto isso, e a mudança de estratégia, mandei novo email para eles procurando saber o que as publicações modificaram de fato no grupo e qual a sua necessidade já que ela não gera renda substancial (Anexo II), esse email, infelizmente não foi respondido.

Outra falta encontrada no material de trabalho e a ausência do Clipping, que Andreza não conseguiu a tempo providenciar para mim. Porém, sua falta não chega a ser de fato pesada, visto que minha linha no trabalho havia seguido outros rumos, mas levando em conta a falta de relatos, talvez no clipping eu achasse algo que me conduzisse a outro lugar.


Grupo Galpão:

Gabriel Villela, diretor do Grupo Galpão à época de 1992 e diretor de Romeu e Julieta, sugeriu para essa montagem que Carlos Antônio Leite Brandão, Cacá, o dramaturgista convidado do grupo, que fizesse um Diário de Montagem. Esse hábito passou para outras montagens e para outros autores (o Diário de A Rua da Amargura foi produzido por Eduardo da Luz Moreira, ator e fundador do grupo.). Somente em 2003 os Diários foram disponibilizados e lançados em forma de livro.

Os diários publicados são das montagens: Romeu e Julieta (1992), A Rua da Amargura (1994), Um Molière Imaginário (1996-1997) e Partido (1998-1999) englobando toda a década de 1990.

Em princípio, a prática da escrita não era essencial, era feita conjunta aos ensaios mais com pouca importância, funcionava como um registro mecânico. Porém, logo a necessidade dos escritos foi ficando evidente. Os livros de atas onde eram produzidos os diários se tornaram instrumentos de desenvolvimento de trabalho, para avanço do reflexões, amadurecimento de decisões, proposições de caminhos, etc. Com o tempo, além de servirem somente ao Cacá, autor do documento, serviam também a outras pessoas como uma fonte de pesquisa.

Os livros contêm a descrição de um teatro estranho ao público, um teatro se construindo. A vista é mais invasiva do que a coxia em dia de apresentação. O que nos é apresentado são pessoas, com suas vidas, seus defeitos e qualidades, em um processo de produção de um espetáculo que não se pode mais presenciar. Os diários são os registros mais sinceros e rasgados de um objeto artístico que não existe disponível a todo momento como o teatro. Apesar do Galpão ser um grupo de repertório, o Romeu e Julieta apresentado e 1992 não é e não pode ser o mesmo apresentado hoje. Além do que é óbvio dizer: o espetáculo teatral nunca pode ser o mesmo, a arte da encenação e da interpretação não são artes precisas na execução ao ponto da repetição. O agravante maior para tal são os falecimentos e saídas de elenco do primeiro espetáculo para um apresentado hoje. Os relatos almejam platonicamente tornar perene o que só pode ser eterno no momento de acontecimento.

O que é apresentado ali, juntamente com as estruturas dos espetáculos em construção, são relações de vida, depoimentos pessoais, impressões. O diário também não pode ser tomado como algo que espelha a montagem e os contínuos ensaios porque parte de um ponto de vista somente. Mas, sabiamente, Cacá Brandão sabe a fragilidade que se encontra no papel de observador e em nenhum momento se coloca como privilegiado no lugar de observação, dono de uma vista superior ou coisa que o valha. Ele se questiona várias vezes se a impressão que tem sobre os ensaios são realmente definitivas, principalmente ao ter uma visão não muito agradável (Exemplo no Anexo VI). Isso demonstra que há generosidade no olhar do autor e que, mesmo que tenhamos uma visão parcial, ela não se dá por absoluta e tem consciência de suas limitações.


Análise do relato de Andreza Bittencourt

Sinto que analisar apenas um relato trás profundas dificuldades para o meu trabalho talvez, antes de falar dessas dificuldades eu deva tratar de outra: quando pedi os relatos dos atores do Alice 118, esperava romanticamente encontrar relatos da época que não foram publicados, mas que tiveram a necessidade de existir, contudo, o que me foi possível conseguir foi relatos de memória. Os relatos de memória não contêm o frescor do acontecimento teatral quanto um relato escrito durante ou logo depois do momento estudado. Além dessa dificuldade, soma-se o caráter de “favor” feito a mim para a produção do relato. O ideal seria eu encontrar escritos que emanassem da mais pura necessidade de expressão. Como isso não foi possível, tenho a mão um relato mais eficaz á pesquisa de trajetória histórica do grupo do que, propriamente, à pesquisa das estruturas do fazer teatral.

No primeiro parágrafo do texto da atriz, observo um esforço de descrição quase que classificatório do trabalho do grupo. Uma necessidade de introdução que seria desnecessária a relato de recorte de um momento do grupo. Nos que se seguem, Andreza fala rapidamente de cada espetáculo que o grupo construiu ao longo de sua trajetória. Não se fixa em nenhum em particular, não desenvolve nenhuma impressão. Nesse ponto, o relato ainda não é propriamente um diário, se coloca muito mais com um caráter jornalístico, uma identidade que não chega a me agradar, pois foge aos meus objetivos do trabalho.

Fiquei bastante impressionada nos últimos dois parágrafos, onde já claramente se vê a atriz falando de suas descobertas para os dois espetáculos mais recentes do grupo. Talvez, somente por essa proximidade e vivacidade na memória tenha sido possível uma entrada mais eficaz no universo das montagens. Como ela mesma salientou em uma conversa que tivemos, o relato ficou “longo para o que é e curto para o que se destina.” Ela tem consciência que esse pouco que nos alcançou nos dois últimos parágrafos é insuficiente frente a riqueza que poderia ser extraída em uma discussão mais profunda.

Ao ler o relato, discutimos sobre o que trouxe para ela como atriz sofrer esse tipo de reflexão. Sinto agora o que perdi ao não ter formalizado essas conversas e gravado para melhor desenvolvimento do trabalho. Ela deixou claro o quanto foi dignificante se propor a construção do relato. Além disso, demonstrou a importância de falar das pesquisas do Alice 118 (e qualquer outro grupo teatral) seja através da linguagem escrita seja através da verbal. Relembrou da vez que o grupo participou do projeto do Sesc, Palco Giratório (com Comoção, Eu Sou Mais Nelson e Potlatch, em 2005), onde o hábito de palestras incentivava a verbalização por parte dos atores, logo, a construção e organização de pensamento. Apesar do tempo não ter permitido que o segundo relato de Andreza fosse apresentado, sinto que o embrião da discussão de idéia que tanto enriquece a prática artística está presente.


Conclusão:

Apesar de ter inicialmente em mente somente a renda imediata que a publicação de relatos de grupos pode gerar, ao terminar esse trabalho vejo o que de mais interessante esse tipo de prática pode trazer para grupos e companhias ou qualquer artista que deseja desenvolver uma atividade. Relatar suas práticas artísticas serve para gerar um arquivo, uma memória; engrossa o currículo; discute e produz a arte que é feita; eterniza o acontecimento efêmero da prática teatral; dentre outras vantagens que podemos buscar.

Como diz Cacá Brandão se referindo a Guimarães Rosa em um dos Diários “esquecer é igual a perder dinheiro”. Um dos produtos mais importantes nascido da organização dos relatos é a memória guardada. Contar a história de um grupo através desse tipo de memória é mais produtivo e abrangente que um olhar posterior sobre fatos que um jornalista pode ter, por exemplo. Transformar impressões de momentos de um grupo em um objeto palpável faz com que a memória seja somada ao patrimônio do grupo. Nos tempos em que a figura do assessor de imprensa é tão necessária para que um grupo consiga patrocínio, uma publicação editorial é um modo de enriquecer o currículo do grupo, abrindo portas e permitindo novos acontecimentos.

O teatro é um tipo de arte que não pode ter o “consumo” posterior ao ato de fazer, diferente da literatura que tem o livro, a música que tem o mp3, etc. O teatro é único em seu momento. O relato, apesar de não ter essa pretensão, serve, dentro de suas limitações para alongar momentos curtos. Ao ler uma descrição das estruturas que permitiram uma peça acontecer, com a ajuda da imaginação, recriar um momento é possível, e necessário muitas vezes. Da mesma forma que, no momento em que escreve o que vê o relator pode suscitar idéias e, portanto gerá-las, o leitor pode apreender as idéias geradas e executá-las. Nunca seria possível recriar o momento teatral, mas seria uma forma de notação, a exemplo da dramaturgia convencioal, para obtenção do espetáculo.
Anexo I – Relatos de Ensaio Direção I

Cena de Macbeth de William Shakespeare

Direção Laura Nielsen

Orientação Eduardo Vaccari

Impressões de Ensaio - Ensaio 1 - 31/10/2007

Não tive, e nem me esforcei pra ter, tempo pra reler Macbeth. Reli bem porcamente a minha cena. Sinto mal esse texto desde a primeira leitura na aula, das análises de personagens que fizemos. Mas não sei o que esperar.

Da minha parte houve um desconforto empático com relação à posição da diretora. O que eu diria? Quero que acabe logo. Parece uma situação forçada.

Sempre odiei ser a primeira a entrar em cena. Dessa vez sou a primeira a falar numa leitura dorida. A gente mais gagueja que fala. Lemos, conversamos e depois fugimos. Não sei como a Laura se sentiu, mas eu me sentiria bem desconfortável no seu lugar.

Quando acabou foi um alívio, mas estou instigada, e antes ansiosa, para saber que tal processo mágico de improvisação é esse. Tensão.

Impressões de Ensaio - Ensaio 2 - 06/11/2007

A primeira coisa que senti quando olhei pra Laura, antes mesmo de começar, foi que a atitude dela mudou. Me deu meu texto digitado. A sinto mais segura. Acho até que acredito mais nela.

Estou quarenta vezes mais curiosa do que no primeiro ensaio.

Trouxe a saia que a Laura pediu. Uma bota. Faz parte do processo. Não queria vestir a saia porque o Júlio não trouxe nada. Vesti. Laura apagou a luz, me senti melhor.

Nunca tinha feito ensaio com tanta gente olhando, principalmente ensaio tão específico. Nervosa estou. Que o medo não me domine.

Explicado o exercício fui tentar. Júlio também está nervoso. Mas quem não está? A "platéia" parece estar nervosa por mim.

Primeira entrada: ansiosa. Segunda entrada: nervosa. Na terceira acho que as correções já passavam por outros caminhos que não o nervosismo. Acho que conseguir dominar o medo. Ah, queria até que durasse mais tempo. Acabou.

Me sinto nova. O novo processo é uma permissão. Me sinto muito bem. Agora espero mais coisas, mais calma. Respeito os pontos da Laura.

Impressões de Ensaio - Ensaio 3 - 07/11/2007

Começa. Começou com a porcaria da minha entrada. Laura e Nina atentas. Não queria olhar pra elas porque tinha (e tenho) a impressão que estou, antes de fazer a Lady, procurando uma reação às minhas ações. Olhei pouco. Ao mesmo tempo não cabia outro lugar pra olhar. Então ficava procurando as duas.

O Júlio está bem concentrado, gosto disso, me dá segurança.

Primeira parada. Laura falou pra eu olhar mais pra platéia. Encarar em vez de paqueirar. Passei a olhar.

Ela disse pra eu não andar muito. Só com motivo. Com certeza teria dito a mesma coisa se eu estivesse me dirigindo. Deve ser o nervosismo insistente. Tentei não andar, mas tinha o medo de parecer fincada no chão. Ela tornou a falar: “base”. Parei na base. Realmente é impossível eu me ver estando do lado de dentro.

A cena continua. Júlio entra. Estamos nos entregando. Trazer as tesouras representando os punhais foi ótimo. Depois a sujeira foi ótima.

A Laura fala, a gente não se mantém. Teve uma vez que a gente se manteve. Tem a ver com o tom de voz que ela usa. Acho que ela vai perceber isso.

Nina saiu da sala. Voltou na exata hora em que eu estava entrando. Acho que não usei bem isso.

Esperei durante muito tempo até entrar depois da minha saída. Várias vezes o Júlio repetiu o mesmo texto. Foi bom pra sentir do lado de fora as minha mãos. Elas estão sujas como as do Júlio. Ah, agora estou racicionando demais aqui esperando. Quero entrar! Vambora, Júlio!

Entrei. Saber que tá pra acabar me dá tranquilidade. Laura elogiou coisas que não sei quais são, tudo muito vago. Falei pra ela falar na hora da próxima vez.

Impressões de Ensaio - Ensaio 4 - 13/11/2007

Repetição? Quem gosta de repetição?

Corridinha em volta do pátio interno. Davi está ensaiando suas atrizes no caminho que leva até o quarto do rei. Vai estragar tudo. O pio da coruja será a aguda Laíse. Empurrar a parede. Entrei em cena realmente cansada, ofegante. Não Laura, eu não estou forçando a respiração, pero así es se así te parece. Mas concordo que entrei mal. Dispersa. Fui elogiada demais. Me sinto qualquer péssima coisa. Pior ensaio.

Júlio!! Estamos os dois distraídos. Dependo intensamente de ser dirigida. Não sei o que estou fazendo. Pausas que não tiveram nos outros ensaios. Estamos distraídos, rindo de qualquer coisa.

Use mais o espaço. Estava entendendo o espaço como arena. Pedi pra Nina sentar do outro lado, daí seria obrigada a olhar pro outro extremo da sala. Laura explicou o espaço. Tenho enorme espaço vazio pra usar sozinha nesse monólogo medieval (grunido).

Esse ensaio não está rendendo. E eis de repente entra Diogo e fica procurando por qualquer coisa. Eu espero. Ele demora. Esse ensaio tá uma merda e a gente não vai sair daqui.

Numa das paradas Laura disse mil coisas. Não vou lembrar de nada na cena. Ela espera um momento de parada natural pra falar. Em nenhum momento parou por si só, interrompeu.

Na nossa primeira passagem mal consegui tocar no Júlio. Me forcei na segunda a fazer isso, sem qualquer pretensão de ficar cênico. Era imprescindível. Larguei meu texto. Se tiver que ficar com o texto do Júlio terei a obrigação de estar perto dele. Agora a gente vai se engolir.
Laura disse que estou pecando com o texto, concordo. Hoje não é o meu dia. Quero novidades.

Impressões de Ensaio - Ensaio 5 - 13/11/2007

Não tinha sala, fomos ensaiar no campinho, já não estava me sentindo bem, agora essa.

Nina fez o aquecimento que ela tanto precisava. Espero que tenha surtido algum efeito físico. Eu queria sentir alguma diferença. Tô meio morta, acho que quero é dormir.

Coloquei a saia e percebi que tinha esquecido o texto (grunidos múltiplos). Ia já tirando a saia quando sugeri da gente usar um único texto. O que me obrigaria a contracenar. “Tudo bem, a gente pode experimentar.” Devia contar quantas vezes Laura fala isso.

Estou inibida até pra correr. Isso parece o primeiro ensaio. Três vezes a entrada até sentir alguma coisa. Quero gritar pra todos da quadra, mas minha platéia não é o João Caetano. Uh, na terceira vez acho que comecei a criar. E o Júlio está fora, espera.

O monstro da repetição voltou. Vaccari veio assistir. Laura elogiou qualquer coisa, merda, agora vai dar errado. De volta ao primeiro ensaio. Será que o Júlio já contracenou comigo ou ele sempre esteve atuando com a minha insegurança?

O Vaccari capotou. Falam demais. O Júlio achou algo bom, movimento que vem dos ruídos. Devolve um pouco da vida que a gente tem quando entra e se perde. Deve ser horrível ver defunto atuando. Não sei o que fazer.

Mais blablabla. No fim, Júlio não consegue mais achar o personagem. Vai pro canto procurar. Laura encerra o ensaio.

Laura admitiu que tem certo receio de interromper a cena pra indicar qualquer coisa.

Nina não entrou. Talvez resolva muita coisa quando ela entrar.

Próximo ensaio vou tomar guaraná em pó antes. Preciso esquecer o natural. Quero raspar a cabeça também.

Impressões de Ensaio - Ensaio 6 - 27/11/2007

Laura não chega, Júlio não chega. O que vai ser desse ensaio? Tô com medo. E ainda tem que pensar na sala! Não quero viver a vida de ensaios fragmentados por falta de sala.

Sala disponível. Boa sala. Parece que está tudo bem. Nina vai dirigir. Não, Laura chegou. Acho que Nina não quer dar prosseguimento ao seu aquecimento do ensaio passado, pelo menos não fala nada nesse sentido.

Pessoal do Raphael faz uma barulhada!

Um começo falso pra esquentar.

Acho que a Laura fica mais tensa que eu quando toca a ocarina. Ela fica com ar de espera. E interessante como ela tá doida pra falar e não fala. De vez em quando ela faz comentários com a cabeça, como se fosse um sim, não sei.

Nina trouxe uma outra tradução. Sugestão da gente variar as traduções. Talvez assim a gente se livre do texto que tá impregnado na nossa pele.

Júlio precisa de qualquer coisa pra render. Sugestão dele fazer andando. Não serve. Ele faz parado, olha pras mãos, serve mais.

Eu acabo jogando o meu texto fora por ansiedade boba que ainda tem em mim. Tenho que me controlar pra não usar intenções banais, que só enfraquecem o texto.

Sinto que a Nina tá se coçando pra entrar, realmente desestrutura entrar no meio. Vou falar pra ela começar o próximo ensaio. Talvez ajude. Com pouca sala fomos parar no pátio interno.

Choveu e o ensaio acabou. Júlio e eu estamos com fome de fazer. Isso até que tá divertido, pena que acaba semana que vem.

Impressões de Ensaio - Último Ensaio - 28/11/2007

Porque ninguém chega na hora?

Hoje temos uma sala nossa pra ensaiar.

Nina nos aqueceu. Aquecimento mais divertido: “Parabéns pra você, nessa data querida...”

Vejo coisa nova. Nina e Laura estão trabalhando em conjunto. Uma complementa a outra, a situação parece estar bem harmônica.

A primeira passagem foi bem tranquila, seguimos até bem à frente, sem qualquer interrupção. A cena vai ficar até onde ensaiamos hoje. Se na terça o clima permitir iremos até a próxima página.

Pegar nos punhais, sair de cena, mastigando cada palavra que acabei de dizer foi terrível. Estou sentindo qualquer coisa que eu não sei explicar. Um novo início. Não sei o que está me guiando, mas não me sinto como antes. “Se no seu sono não lembrasse tanto..” e lembra mesmo. Não é nenhum pouco tola a idéia de tristeza. Estou com medo do que pode vir. A cena acabou. Conversamos sobre o que aconteceu. Nina disse que ficou com medo. Eu fiquei com medo, ainda estou. Não consigo falar. “vocês querem fazer de novo?” “Vamo lá que o diabo tá aqui.”

Recomeço. Não consigo me controlar, não sei o que está acontecendo. Estou com medo disso atrapalhar. Na verdade, ajuda.

Júlio pára. Está em busca de qualquer coisa que cole a garganta dele. Laura não sabe como ajudá-lo. Nem eu. Nem Nina.

Depois de ficar com as pernas tremendo, as mãos geladas o estado se dissolveu. Vamos nos preocupar com as buscas de Júlio.

Proponho um novo recomeço pra sentir de novo o estado. Não sinto. Tenho medo de nunca mais repeti-lo e ficar obsessivamente atrás dele. Fim do último ensaio.


Anexo II – Email Cia dos Atores

De: doriamagalha@gmail.com

Para: ciadosatores@terra.com.br

Assunto: Gestão de grupos

Corpo do email:

“Olá,
Sou estudante de Direção Teatral da UFRJ e estou fazendo uma pesquisa que serve ao trabalho final da matéria de Ética no Teatro, ministrada pela professora Adriana Schneider.
O tema desse trabalho é a autogestão de grupos e companhias e sua ligação com a produção de pensamento sobre o "fazer" artístico.
Por conhecer o trabalho do grupo e sua reflexão sobre si, utilizo a Cia dos Atores como um dos meus objetos de análise.
Tenho uma questão e ficaria feliz se pudessem me ajudar:
A gestão do grupo está diretamente ligada ao patrocinador, ou a venda dos produtos como o livro "Na Companhia dos Atores" também é geradora de renda?
Sei da indiscrição da pergunta e talvez da mal colocada abordagem. Espero qualquer resposta já muito satisfeita.
Muito obrigada,
Amanda Doria”

Resposta:

“Cara Amanda
A gestão do grupo depende do Patrocinador, no caso deste ano, a
Petrobras. A venda de livros gera uma renda muito pequena revertida
para gastos na nossa sede.
Espero ter respondido sua pergunta. Qualquer dúvida, não hesite em nos procurar.
abs
Bel Garcia
Cia. dos Atores”

Resposta:

“Bel Garcia,

Obrigado por ter respondido a minha pergunta!

Com sua resposta outras dúvidas me surgiram:

Se a renda dos livros não serve a gestão do grupo, gostaria de saber qual o retorno que o livro trás num sentido menos imediatista? O que ao trabalho do grupo foi acrescentado com a presença do livro, tanto no sentido de abrir portas de patrocinadores quanto no sentido de auto-avaliação das pesquisas já desenvolvidas e as posteriores à produção do livro?

Fico muito satisfeita com a colaboração, espero não estar incomodando.

Desde já agradeço.

Amanda Doria “
Anexo III - Relato Andreza Bittencourt – 24/06/2008

O trabalho construído pelo Grupo Alice 118 ao longo de 10 anos foi dedicado há desenvolver uma pesquisa de linguagem própria a partir da trajetória da diretora Ana Kfouri aliada a experiência de cada ator.

Nos dois primeiros espetáculos os atores e a diretora se dedicaram a encenar autores brasileiros, como Nelson Rodrigues, em Eu Sou Mais Nelson e Hilda Hilst, em H H (informe-se). Em ambos os espetáculos os atores e a diretora estudaram a obra a vida dos autores e a partir desse estudo o roteiro foi construído.

Em Eu Sou Mais Nelson cada ator escolheu um personagem que mais se identificava e recortou diálogos ou construiu monólogos dos textos do autor. Dessa forma, Eu Sou Mais Nelson foi construído com trechos de cenas de várias peças (Álbum de Família, A Mulher Sem Pecado, Os Sete Gatinhos, Dorotéia, Toda Nudez Será Castigada, Beijo no Asfalto e A Falecida ), interligadas por frases de Nelson. Ao longo do processo os atores criavam suas cenas e apresentavam para a diretora. A partir daí, a direção criava a unidade necessária para a concepção do espetáculo.

Em H H (informe-se) o roteiro foi criado a partir de fichamentos que os atores faziam dos textos de Hilda Hilst. Cada ator selecionava trechos que mais se identificavam e a diretora criou o roteiro a partir desses textos que também haviam sido selecionados por ela. Depois do roteiro pronto é que o grupo foi para a sala de ensaio. Em H H (informe-se) o grupo teve o privilégio da própria escritora intervir no roteiro. Um dos momentos mais fortes do espetáculo era de um texto que Hilda Hilst sugeriu.

Festim, terceiro espetáculo do grupo, surgiu da vontade dos atores vivenciarem personagens. Ana Kfouri propôs, então, que cada ator escolhesse um personagem ou personalidade da história mundial. Dessa forma, cada ator escolheu e pesquisou textos, biografias, assistiram a vários filmes e o roteiro foi elaborado a partir de diversos textos, sendo utilizado trechos de vários autores, escritores e poetas, como Adélia Prado, Luis Fernando Verissimo, Rubem Fonseca, Drummond, Mário Quintana, Gregório de Matos, Shakespeare, James Joyce, Nietzsche, entre outros, intensificando cada vez mais a fragmentação de textos já desenvolvida pelo grupo. Nesse período os atores se dedicaram ao longo de 6 meses somente para a criação do roteiro. A idéia criada por Ana kfouri era a de que esses personagens se encontrariam numa grande festa na casa de Narciso (personagem escolhido por um dos atores).

Depois de intensificarem essa pesquisa textual Ana Kfouri propõe ao grupo criar seu quarto espetáculo: Comoção. Mergulhando na investigação corporal encenando um espetáculo onde a idéia foi desenvolvida através da tessitura dos corpos, criando uma aventura através dos estados emocionais do homem e suas conseqüentes ações e reações frente às vicissitudes da vida. Se inicia, nesse momento, uma investigação espacial, ao trabalharem pela primeira vez em uma arena e a relação ator-expectador. Em Comoção o grupo pesquisou por 1 ano e meio. Uma pesquisa de muita técnica e experimentação sensorial. Todos os atores passavam por todos os momentos da vida, desde bebês a idosos passando pela infância, adolescência e maturidade. A pesquisa proposta por Ana Kfouri era a de que os atores vivenciassem estados corporais. Não poderiam ser caricatos. Como exemplo, para que os atores descobrissem os bebês a pesquisa foi toda em cima do estado primitivo, os adolescentes pelo corpo desengonçado, o idoso pela exaustão de movimentos, o peso do corpo e o olhar constantemente recontando imagens da memória. Em relação a proximidade com a platéia, Comoção proporcionou aos atores o início dessa pesquisa que mais tarde é intensificada em Potlatch. Em dois momentos os atores entram em contato direto com a platéia, no primeiro fazem uma brincadeira de mímica onde o público tem que descobrir o que o ator está querendo dizer e o segundo distribuindo bombons e saboreando junto com a platéia.

Com Potlatch, uma homenagem à escritora Hilda Hilst, o grupo intensifica essa pesquisa aproximando ainda mais os pólos ator-espectador e explorando a relação espacial promovendo um espaço de convivência artística, compreendendo na própria apresentação, debates e jogos interativos, de maneira convidativa e informal. Em Potlatch, o grupo extrapola essa pesquisa. O espetáculo começa do lado de fora do teatro. São as rodas das Loris e dos Crassos. Cada ator reúne sua roda e narra um trecho do Caderno Rosa de Lori Lambi (as atrizes) e Contos de Escárnio (os atores). Depois o público é convidado a entrar no teatro e se divide em três rodas. Em cada roda três atores. Esse momento foi muito curioso em nossos ensaios porque nós conversávamos com a platéia sobre a vida de Hilda Hilst. Nos ensaios foi a etapa mais difícil pois tínhamos que conquistar uma naturalidade muito grande num texto que era decorado. Essa proximidade com o público foi um exercício de muitas descobertas pois era preciso fazer um esforço para não fazer esforço. Uma suposta tranqüilidade, um grande fingimento que você não está em foco, que você não está dominando aquele jogo, mas no fundo é você quem faz todo aquele clima se instaurar, é uma contradição, você sai do lugar central, mas continua nele e com mais força ainda.


Anexo IV - Relatório I revisado (18/06/2008)

Objetivo:

Articular a idéia de gestão de grupos com a idéia de pensamento sobre o teatro produzido, seja de dentro do processo (atores), seja de fora (mídia especializada).

Objeto estudado:

Grupo Alice 118

Estratégias:

-Leitura de material cedido pelo grupo:

Clipping, impressões de ensaio

-Entrevistas (presenciais ou não)

Bibliografia:

http://www.anakfouri.com/

http://www.grupogalpao.com.br/novosite/port/home/index.php

http://www.ciadosatores.com.br/home_fr.html


Anexo V – Preços das publicações

Galpão

Livro Diários de Montagem

Relato sobre os processos de montagem de Romeu e Julieta, Partido, Um Moliere imaginário e

Rua da Amargura.

Venda pelo site do grupo: R$ 35,00.

Livro O Palco e a Rua

Livro das pesquisadoras Júnia Alves e Márcia Noé sobre a trajetória do Grupo Galpão, a partir da análise dos espetáculos.

Venda pelo site do grupo: R$ 35,00.

Textos das montagens

Coleção de textos de 10 montagens marcantes da trajetória do Grupo.

Venda pelo site: R$15,00 (cada)

Cia dos Atores

Livro Na Companhia dos Atores - Ensaios Sobre os 18 Anos da Cia dos Atores

De Enrique Diaz.

Editora: Senac Rj

Venda Saraiva: R$ 68,00

(Encontra-se de R$ 78,90 à R$ 53,72, na internet.)

Armazém

ESPIRAIS- Armazém Companhia de Teatro [ 1987 - 2007 ]

Organização: Marcos Losnak + Maurício Arruda Mendonça + Paulo de Moraes

Venda pela livraria da Travessa: R$ 65,00.

Para ver com olhos livres

Livro de imagens.

Venda pelo site do grupo: R$30,OO.


Anexo VI – Trecho dos Diários de Montagem do Galpão

“Belo Horizonte, 17 de agosto de 1992

(...)Diante do povaréu desconhecido, começamos o ensaio depois de quarenta minutos de aquecimento sob a direção do assistente, devido a viagem do diretor. Enfraqueço quando Gabriel ou Arildo se ausentam e creio que também os atores perdem um pouco de seu afã.

Após apitar duas vezes, Shakespeare recita os versos do prólogo. Eduardo, um pouco sem concentração, erra os baixo da sanfona. Muito preso à marcação complexa, exaurido pelas repetições que requerem rigor e precisão, o ensaio segue desalmado. Mas isso faz parte, espero, de processo, como decorar tabuada, ao final do qual a alma, a fluidez e a liberdade nos esperam. Mercúcio erra na entrada de sua fala. Desanimado, olho o mar preto e concentrado do café. A xícara que prefiro é a que :em asa cheia. Tem uma pequenina, mais charmosa, e que os outros prefere mais. Subindo os olhos, noto que as botinas dos atores estão bonitas mas ainda dificultam os saltos. No chão repousa uma das bonecas feitas pelo Agnaldo, precisando ser melhor trabalhadas pelo ator. Ao lado das latinha enferrujadas do cenário, o guarda-chuva lançado sem magia por Romeu aterriza com estardalhaço. A mão de Arildo passa recolhendo as flores derrubadas. No chão, também cai a máscara de Mercúcio e repercutem os erros de textos. As pernas de uma calça azul e triste como eu passam diante de minha melancolia vestida pela Babaya. Ela faz observações que Arildo anota em seu caderno. Nas coxias, a manipulação do pandeiro pelo Chico desconcentra e perturba todos nós. Junto com Mercúcio, ele sai procurando algo de somenos nas gavetas dos bastidores. Influenciado pelo piso astrológico desta peça, adquiri um livro de cartas celestes que me faz companhia na solidão de hoje. A representação mecânica faz o ensaio transcorrer rapidamente, como quando os atores amarram as pernas de pau, e faz o trágico perder para o cômico. Aos poucos, o mecânico cederá lugar à alma. Alguns risos da platéia estimulam o encontro com uma vitaliidade ausente. Isso ajuda a um processo em curso: fazer os atores sentirem-se mais autores do espetáculo. Ao fundo, Teuda tropeça. Será que o carro está quente para mostrar as entranhas saturninas do sepulcro de Julieta? Teuda entra e sai da "Esmeralda" mais facilmente, "tamanha é a leveza da coisas vãs, senhor". Como o canto de Julieta, os pés do Narrador vão sem energia para realizar o casamento. O desafino é amplo, geral e irrestrito e clama pela anistia de Babaya. Hoje, Teobaldo porta barbicha e bigode. O Galopae, galopae ..., um dos meus indicadores favoritos da tonalidade geral dos ensaios, soa fraco e dito no agudo, sem a gravidade da mulher e só com cinqüenta por cento da nossa Julieta. "É assim mesmo", me diz Arildo. Discordo e acho que não é e nem deve ser como creio se comprovar por ela não nos arrebatar e deixar o espaço aberto para a expansão do cômico catalisar a platéia através da Ama. Quando Julieta tenta engrossar a voz ("esta palavra, desterrado" - soa falso e regride ao agudo ruim e chapado nas falas de menina aos meus ouvidos. Não virou mulher, hoje, e permanece fraca ao se retirar para o quarto, como se poupasse a voz. O assistente ajuda ao protagonista colocar as pernas de pau enquanto Julieta erra suas falas. Triste e irritadiço, estou muito crítico. Graça ao Frei atento, aparecem a mala e o guarda-chuva de Romeu na última hora. Desencanto: substantivo e verbo. Sem dúvida. O elenco está cansado da maratona. Mas é preciso sempre esvaziar para recomeçar e reapresentar tudo sempre como se fosse a primeira vez. permanentemente inaugural. O canto de Shakespeare treme e a fala da Sra. Capuleto engasga. "Inês-peradamente" Julieta erra de novo em ponto crucial e é obrigada a bisar sua resposta à mãe. Erra de novo na fala do veneno, mal acompanhada pelo flautista. Deve estar louca para acabar com o ensaio. O cômico manteve-se e a Ama se destaca, o trágico foi lá para Morro Vermelho e não veio, hoje. É preciso responder à Estefânio. O arrastado do ensaio dá-me ganas de ir embora. O Frei está bem, contudo. Com muito custo, a Veraneio é ligada e o assistente corre para afastar as latas enferrujadas do chão, dando-lhe passagem. Ri-se na morte de Julieta. Na entrada de Romeu no mausoléu, a platéia desconfia o trágico na bela fala do protagonista. O silêncio é tão profundo que ouve-se o barulho de minha caneta correndo sobre o papel. Atentíssima, Babaya ouve o flautista errar e errar de novo. Ao final, Julieta parece recobrar as energias, mas sua mão não consegue segurar a espada de São Jorge do seu punhal, e ele cai junto com a convicção de sua morte. O canto final é débil. Nada me entusiasmou hoje, a começar por mim. Será que errei? Fui crítico demais? ‘Arildo, se eu fosse você dava um esporro, como Gabriel.’ “
Bibliografia:

BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Diário de Montagem: Romeu e Julieta. Belo

Horizonte: Editora UFMG, 2003.

Sites pesquisados:

http://www.anakfouri.com/

http://www.grupogalpao.com.br/novosite/port/home/index.php

http://www.ciadosatores.com.br/home_fr.html

http://www.armazemciadeteatro.com.br/



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