Eu tenho medo de dizer a verdade. Tem horas que a parte mais complicada é sair da da realidade. Tem momentos que qualquer metáfora é aplicável. Hoje posso dizer que sou um homem perneta e equivocado. A metáfora serviria como uma luva. Amanhã não sou mais nada. E taí outra metáfora mais correspondente que a outra. Não quero falar disso. A maior parte do tempo eu gasto falando do que poderia dizer. É normalmente medo de dizer a verdade. Hoje estava pensando o que seria se pudéssemos "ler" o pensamento alheio. Será que teríamos que controlar o pensamento também? Mas isso já não é pensar? Ou será que íamos aprender a conviver com as mais duras verdades, como animais que somos? Aprender a dizer você fede, suas secreções me enojam, mas isso não importa nada, porque eu ainda te amo. Além disso, minhas secreções próprias são tão difíceis de entender quanto as suas e talvez, em algum momento, ou sempre, eu tenha me envergonhado tanto delas quanto eu me envergonho em pensar nas suas, no seu cheiro forte e ácido. No final das contas, quando trocamos de posição na cama, não é pra satisfazer nosso conforto, é pra ter certeza que o outro tá bem. Cada fala não é pra expressar qualquer pensamento, é buscar ser aceito pelo outro. E ter companhia. Não questiono seus cheiros, nem me incomodo muito com eles, só quero ter a certeza que os meus são agradáveis pra você.
Madrugada. Estou numa pousada numa cidade de praia. Digito, coço a perna, escrevo isso e aquilo (no outr'o blog). Eis que então escuto um plac. Olho para o chão. No escuro, pouco claro, vejo as patas erguendo o corpo semi-desajustado. Levantos pés inconsciente, minto. Não caiu nenhuma barata. É apenas uma sensação aqui dentro, dentro ruindo. De baratas caindo do teto e causando asco coçeira absurdo e desatino. PESTE.diogo.
Harold Pinter, o grande dramaturgo inglês, morreu. No Natal. Fiquei espantado quando li a notícia. Acho que agora ele é o autor de teatro que eu mais gosto. Resolvi falar um pouco sobre ele, a título de homenagem. Ele é crepuscular e criticou abertamnete o Bush.
A primeira peça que li de Pinter foi A volta ao lar, onde ele reconta a volta do filho pródigo. Na sua versão, o filho bem-sucedido que fora para os EUA, retorna a Londres, ao lar decadente onde vivem seu pai agressivo, seus irmãos (um proxeneta e um boxeador), e seu delicado tio, chofer de táxi – ocupação da qual muito se orgulha. Neste ambiente estas criaturas se agridem e medem suas forças, seu poder. Quando Teddy, o filho bem-sucedido chega acompanhado de sua esposa Ruth, é recebido com frieza. Ruth é agredida verbalmente. Bom, no fim, Ruth se prostitui para a família e Teddy volta para os Estados Unidos sem ela. O personagem que mais me impressiona é Sam, o tio. Quando eu tiver meus 50 ou 60 anos acho que poderei faze-lo. Ele destoa da atmosfera geral, com sua doçura, seus modos polidos. É muito triste, mas sabe das coisas, é atacado pelo irmão, mas parece saber de seus pontos fracos. Numa cena muito curiosa, grita que sua falecida cunhada transava com o amigo do rimão no banco de trás – tendo dito isso, cai no chão. “O teatro de Harold Pinter caracteriza-se por mascarar o absurdo com um desenvolvimento dramático naturalista.”. Na verdade o próprio Pinter já afirmou que o que faz é ouvir, é escrever as coisas como elas realmente acontecem - aliás: fazia...
A minha preferida é Antigamente (ou Velhos tempos): O casal Deeley e Kate espera a vista de Anna, uma amiga, conversam sobre ela. Ela já está ali, a atriz que a interpreta, ou talvez a própria personagem. De repente ela se vira e inicia uma longa fala dirigida ao casal. Anna e Kate mostram que tinham uma relação mais forte, que moravam juntas antes do casamento da primeira. Cada vez mais excluído da lembrança da esposa, Deeley revela que já mantinha um caso com Anna naquela época, mas Kate dá a entender que também tinha um caso com a amiga. Lembranças dos três se misturam e às vezes parece que eles se confundem ou que estavam juntos o tempo todo. Há muita pausas, sempre em momentos estranhos. As informações mais banais ganham peso diante de silêncios constrangedores, e coisas tensas são ditas da forma mais natural. Bom, é isso. Leiam Pinter, é legal. Pode parecer drama psicológico americano com uma pitada de absurdo. E talvez seja isso mesmo.
O que você pensaria se eu cantasse fora do tom? Você levantaria e me abandonaria? Empreste-me seus ouvidos E cantarei uma canção pra você E tentarei não cantar fora dos ajustes
Oh, eu consigo com uma ajudinha de meus amigos Eu fico bem com uma ajudinha de meus amigos Tentarei com uma ajudinha de meus amigos
O que fazer quando meu amor está distante? (Ficar só te preocupa?) Como eu me sentirei até o fim do dia? (Você está triste porque só?)
Não, eu consigo com uma ajudinha de meus amigos Eu fico bem com uma ajudinha de meus amigos Tentarei com uma ajudinha de meus amigos amigos.
Você precisa de alguém? Eu preciso de alguém para amar Poderia ser qualquer um? Eu quero alguém para amar
Você acreditaria num amor à primeira vista? Sim, estou certo que isto acontece toda hora. O que você vê quando apaga a luz? Eu não posso te contar, mas eu sei que isto é meu,
Oh, eu consigo com uma ajudinha de meus amigos Eu fico bem com uma ajudinha de meus amigos Tentarei com uma ajudinha de meus amigos amigos.
Você precisa de alguém? Eu preciso de alguém para amar Poderia ser qualquer um? Eu quero alguém para amar
Oh, eu consigo com uma ajudinha de meus amigos Com uma ajudinha de meus amigos
Quantas pessoas. Semana passada, ou retrasada, encontrei uma menina que fazia aula de teatro comigo, há anos atrás. Ela me cumprimentou, me chamou pelo meu nome, falou de sua vida, perguntou sobre a minha. Me despedi e fui embora. Não lembrava e ainda não lembro o nome dela. Dias depois, voltando de Botafogo, lembrei disso, tentei mais uma vez buscar o nome dela, não consegui, mas veio na minha cabeça um dia em que ela me disse alguma coisa bonita depois de uma improvisação em aula. Alguma coisa tão bonita que eu nunca poderia ter esquecido. Mas esqueci, junto com o nome dela.
Hoje é véspera do mais importante feriado cristão e a primeira ligação que atendi no telefone de casa foi de uma outra pessoa que já fez aula comigo. Ele me chamou pelo nome, me desejo feliz Natal, se desculpou por tanto tempo que ficou sem me ligar e pediu o meu número de celular. Essa é umas das coisas que não se podem esquecer também. Junto com o nome dele. Junto com a pessoa.
Ensaiamos algum tempo uma cena. Não lembro o nome, mas lembro de uma frase:”O mundo gira feito uma roda gigante, e eu não consigo pensar em nada, só nisso.” Também não me lembro no que minha personagem só conseguia pensar. Os ensaios pararam quando ele presenciou um assalto num supermercado e levou um tiro no pé. A bala ficou alojada e ele ficou um tempo sem poder andar. Não sei como está hoje. Não perguntei porque tem momentos em que não suporto o imediatismo do telefone. Nem a comunhão mundial dos feriados cristãos.
Os dois episódios, como os omitidos, me fazem pensar que devo dar mais atenção às pessoas. E valor. Humilde e simbólica e inutilmente eu peço desculpa. Por não lembrar do nome do Ney, da Gio, da Helaine, do Rubens, da Nara, da Bianca, do Pedro, do Júlio, da Marymília, do Lucas, da Cynara, do Caio, da Nina, da Dadá, da Simoni, da Maíra, do Diogo, do Tomás. O nome...
"É errado dizer 'eu penso'. Dever-se-ia dizer 'eu sou pensado'. Eu é um outro. Eu estou presente no nascimento de meu pensamento."
"Sete regras simples para a vida no esconderijo: Um: nunca confie num policial vestido de abrigo. Dois: cuidado com o entusiasmo e com o amor ambos são temporários da maneira mais ligeira. Três: quando perguntado se você se importa com os problemas do mundo, olhe fundo dentro daquele que o perguntou. Ele não perguntará novamente. Números 4 e 5: Nunca dê seu nome verdadeiro. E se algum dia lhe pedirem que olhe para si mesmo, nunca o faça. Seis: nunca diga ou faça nada que a pessoa a sua frente não possa entender. E número sete: nunca crie nada. Pois será mal interpretado. Vai acorrentá-lo e segui-lo pelo resto da sua vida. E nunca mudará."
Fiz minha listinha também, mas tá nos comentários, porque sou comentador assíduo das postagens de Caio. Esse ano foi muito difícil. Mas acho que amadureci mais um pouquinho e conheci gente muito bacana, uma galera linda da qual vocês fazem parte. É, gostei de vocês. Gosto de estar perto de vocês. E que bom que, mesmo mais distante, ou mesmo meio distante quando estava próximo, ou muito próximo estando próximo, fiz parte de momentos importantes pra vocês. Vocês fizeram parte de momentos importantes pra mim. Amandinha. Amo você porque você permanece, você me agüenta. Isso é muito bonito. E você é exemplar (palavra boa, né? - e-xem-plar). Beijos do pequeno, e que tudo flua!
Amados, estou em sp ainda e volto jájá para nossa terrinha. Este ano vem chegando ao fim e isso significa que já possuimos quse dois anos de convivência. ARTÍSTICA, espiritual, alcoólica, festeira, depressiva, comunicativa, silenciosa, ambiciosa, feliz, triste e sorridente. Desejo um ótimo Noel para todos vocês, que possam comer a vida e brindar muitos copinhos. Não deixem de comprar um presentinho para vocês mesmos, pois isso é o mais importante. Amor próprio é vida. Se sobrar uma graninnha, comprem coisinhas para outros amadinhos da nossa vida. Eu queria fazer um fichamento ótimo de coisas que vivemos mais acho que não consiguirei lembrar de muita coisa, por isso vou escrever o que vem na cabeça.
momentos: .doria me esqueceu na lapa. .pintamos o quarto da doria. .abraços enormes no júlio. .patins pela urca. .balanço com o cais. .mil rosas com miguel. .fantasiados onde todos estavam sem fantasia. .oi td bem oi? .pedro arabela. .direção três. .hyxko2. .galerias. .mensagens. .te amo pra sempre te amo demais. .eu quero ser um lindo sonho pro seu coração. .paleta de cor verde florestinha. .córrego sujo. .priiiiiiiiiiiiii alou chefe. .tom zé. .cap. .bem legal. .tenho que fazer brigadeiro. .brincar de sofrer. .dores.lista.gilete. .café com pão.
são boa lembranças. assim que me lembrar de outras, escrevo mais. escrevam vcs tb. seria ótimo.
A cada dia que passa mais e mais o nó cresce - A vontade de explodir.
Eu quero explodir. Não é sempre. É sempre. Eu quero explodir pra acontecer e explodir para deixar de ser. De existir. Virar pó. Não é sempre que se pode tocar o pulmão com ar. E no momento que ar chega tem muito mais coisa dentro dele do que se diz. Dentro do algo que me toca existe um vazio que a cada instante m corporifica dentro do que eu sou. Sou de mim. Do que eu sou. Me corporificar. Me deixar de ser tão racional quanto querem que sejamos. Quanto querem e somos. E me tornar parte. Sem destaque. Só parte. Mesmo que essa parte seja decadência, comumente conhecida. Mesmo que seja só. Vazio. Me tornar parte do todo pelo nada que me circula e me preenche. Mas não é possível. Nada muda aqui, desde que estou aqui. Mas não creio que não venha a mudar nunca. Mesmo que o vazio só seja felicidade despercebida. Mesmo que o vazio só seja a espera por uma felicidade explosiva. E então continuamos. Bregamente.Continuar reticências continuar reticências simplesmente continuar. Dentro das horas eu constantemente estou, isso porque não quero estar acima... das horas. Eu sei. O que seria estar acima das horas? Eu canso. Paro. Mas todas as paradas são com o fim de continuar.
Quando o azul escuro do céu passa a azul claro. E mais perto da terra quando as nuvens não se decidem entre tingidas ou não eu sinto. Qualquer coisa que se sente. E se deve sentir. Pra lembrar que minha pele sente frio. Meus ouvidos escutam até os mortos. Meus dedos se comprimem em volta da caneta. Minha boca sente, minha língua sente alguns desgostos. Não se sabe o que é alcançar a paz. Mas tentar é suficiente pra agora. Porque me doem os segundos um após o outro, um após o outros. E não tem fim. De finalidade. Nem fim de terminação. Como falar. Começamos a falar como se pudéssemos parar, querendo. A busca de fazer cessar as coisas, calar a voz, é o que permite o discurso continuar. Cada vez que as nuvens se tingem mais de vermelho se o azul deixa de existir percebemos mais próximas elas da terra, deixando o céu pra trás. Pra nunca. E a gente descobre onde está. E quer ficar mais. Existencialismo é um humanismo. E se depois de tudo isso ainda busco meios de continuar é porque ainda sou humana. E quero ser parte. Constar. Pra sumir. E existo pra querer deixar de existir. Sem culpa.
Casa do meu pai, 21 de dezembro de 2008
1984. Não se pode estar junto. Não se pode porque cada contato pode gerar uma catástrofe. Quando A e B se juntam C se pergunta porque nenhum do dois quer estar junto dele. Daí C procura por alguém, se junta a D. Se formam grupos que não se juntam. E outros grupos vão sendo criados e alguns se juntam. E estar junto pode ser uma catástrofe.
Sem vírgula. Sem ponto. Sem letra maiúscula.
Queria falar sobre:
-Família
-Exclusão de contato
-Sair ou não de casa
-Dormir
Os gatos pulam. Ao descer o peso está todo contido nas patas dianteiras. As patas traseiras não levantam nem poeira. Tõ com dor no calcanhar. Como quando eu trabalhava de pé na farmácia. Quando eles andam eles se alongam, quase o tempo todo. Eles são calmos e de paz. Brigar é sempre evitado. Mas a briga não. Ela tem os olhos mais quietos e mais misteriosos e azuis e serenos e lindos que podem existir, e ela nem faz alarde disso.
Estou começando a conhecer a minha nova família. E como é bom surpresa. Se surpreender com generosidade e paz é a melhor coisa pra hoje.
Depois de ter me surpreendido com mesquinharia, egoísmo nas relações, intolerância, futilidade, superficialidade, mentira, nada melhor agora do que me deparar com paz. Quando tem esse início de paz, todas as outras são artificialmente alcançáveis. Artificial bom. Já que ta tudo bem, porque não fazer com que esse errinho seja cada vez menor? (meus textos estão cada vez mais bregas, nessa minha onda de paz contemplativa). Esse momento tem inclusive contribuído pra que minha necessidade de ficar em casa nem seja uma coisa ruim. E vem logo as decisões de desaparecer, de deixar de ser qualquer coisa em prol da nulidade da paz. Isso ta tão perto da morte. Eu durmo muito tempo também. Ontem me perguntei se tinhaalgum problema nisso. De repente to mal de novo e não. Não. Está tudo bem. A morte. É um detalhe não mórbido hoje.
Outra decisão que eu tomei, um pouco influenciada por um documentário é que não pretendo mais procurar ajuda química. Já pensei em quantas coisas destruí porque estava nos momentos de crise, se é que posso chamar assim. Mas tenho medo de destruir ainda mais, quando o meu controle vier de uma cartela de pílulas. Então, por ora, vou me abster de médicos. Vamos ver até onde vai dar.
Tem quatro dias que não saio de casa. Tem um pijama que não saio de casa. Tem duas folhas que não saio de casa. Tem 12 filmes que não saio de casa. Tem 48 horas de sono que não saio de casa. Tem 15 episódios que não saio de casa. Tem duas pizzas que não saio de casa. Tem muita coisa que não me sai de casa.
Que corra. Corra por mim. Não tenho quase mais nada a temer. Quase nenhum muro que eu não possa me lançar. Nenhum caminhão que eu não possa parar. Nenhuma faca que eu não possa me cortar.
Quando eu me cortei eu vi, com mais clareza ainda, que nada me dói. Isso é frio e doentio. mas também libertador. Quando eu me corto eu me sinto dona. Vulnerável somente à mim.
O ruim de estar em casa é a minha constante alergia e minhas dores no corpo. Mas por isso se pode passar por cima. Um dia eu volto a escrever com nexo.