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domingo, 28 de dezembro de 2008

Pinter

Harold Pinter, o grande dramaturgo inglês, morreu. No Natal. Fiquei espantado quando li a notícia. Acho que agora ele é o autor de teatro que eu mais gosto. Resolvi falar um pouco sobre ele, a título de homenagem. Ele é crepuscular e criticou abertamnete o Bush.

A primeira peça que li de Pinter foi A volta ao lar, onde ele reconta a volta do filho pródigo. Na sua versão, o filho bem-sucedido que fora para os EUA, retorna a Londres, ao lar decadente onde vivem seu pai agressivo, seus irmãos (um proxeneta e um boxeador), e seu delicado tio, chofer de táxi – ocupação da qual muito se orgulha. Neste ambiente estas criaturas se agridem e medem suas forças, seu poder. Quando Teddy, o filho bem-sucedido chega acompanhado de sua esposa Ruth, é recebido com frieza. Ruth é agredida verbalmente. Bom, no fim, Ruth se prostitui para a família e Teddy volta para os Estados Unidos sem ela. O personagem que mais me impressiona é Sam, o tio. Quando eu tiver meus 50 ou 60 anos acho que poderei faze-lo. Ele destoa da atmosfera geral, com sua doçura, seus modos polidos. É muito triste, mas sabe das coisas, é atacado pelo irmão, mas parece saber de seus pontos fracos. Numa cena muito curiosa, grita que sua falecida cunhada transava com o amigo do rimão no banco de trás – tendo dito isso, cai no chão. “O teatro de Harold Pinter caracteriza-se por mascarar o absurdo com um desenvolvimento dramático naturalista.”. Na verdade o próprio Pinter já afirmou que o que faz é ouvir, é escrever as coisas como elas realmente acontecem - aliás: fazia...

A minha preferida é Antigamente (ou Velhos tempos): O casal Deeley e Kate espera a vista de Anna, uma amiga, conversam sobre ela. Ela já está ali, a atriz que a interpreta, ou talvez a própria personagem. De repente ela se vira e inicia uma longa fala dirigida ao casal. Anna e Kate mostram que tinham uma relação mais forte, que moravam juntas antes do casamento da primeira. Cada vez mais excluído da lembrança da esposa, Deeley revela que já mantinha um caso com Anna naquela época, mas Kate dá a entender que também tinha um caso com a amiga. Lembranças dos três se misturam e às vezes parece que eles se confundem ou que estavam juntos o tempo todo. Há muita pausas, sempre em momentos estranhos. As informações mais banais ganham peso diante de silêncios constrangedores, e coisas tensas são ditas da forma mais natural. Bom, é isso. Leiam Pinter, é legal. Pode parecer drama psicológico americano com uma pitada de absurdo. E talvez seja isso mesmo.

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