O melhor café você conhece pelo cheiro

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Descrição do café - Relatório I

Rio, 30/04/2009 - 19:17 - durante/depois

Um café preto por favor. Quantas gotas? Sem gotas. Puro. O café tem que ser preto. Puro. Acendo o primeiro cigarro. O café está quente, logo o cigarro representa a espera. Ele embaça meus óculos. Tiro os óculos. Tomo todo o cuidado para os óculos fiquem sobre a mesa, sem arranhar. Sim. Deve haver uma mesa. Para colocar os óculos, o copo de café e poder no durante escrever. O cigarro logo troca de mão. Vai para a esquerda. Porque sou destra. Me ajeito na cadeira. Lembro de alguma professora que disse, de inglês eu acho, que o cotovelo dele estar na mesa enquanto se escreve. Então, ajeito a coluna. Eixo vertical. Por influência da boa postura. O segundo cigarro é aceso. E não acaba, não pedi um duplo. O café sim. Temperatura ideal. Dou uma olhada curiosa em redor, ou ao redor, mas a atenção está na escrita. O ritual terminará quando o cigarro acaba. Acabou. Me queimo nele. Tenho vontade de pedir outro café, não peço. Ou peço. E recomeço. Termino porque termina a página de rascunho. Não termino. Continuo. O ritual pressupõe que eu me levante e leve a xícara. Ou copo de plástico até a lixeira. E fale do filme "Sobre Café e Cigarros". Por isso sinto a necessidade de estar com desconhecidos para poder falar, mas me contenho. Ou não. E falo. Por isso o olhar ou redor. Quando estou sozinha descrevo a mim mesma a questão toda. Não sei porquê. E penso em quando poderei tomar o próximo café. 19:29

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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Não achem que estou ruim

Viva a vida. E viva a contradição.

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sexta-feira, 24 de abril de 2009

Terceira Tentativa - 20 de abril

800 mg de clorpromazina
50 mg de clonazepam
4 250 mg de ácido valpróico
2 mg de nicotina
24 h sem dormir
Alguma coisa de cafeína

Tranquei a porta do quarto à chave. Tinha comido, logo a hipótese de vomitar era quase inválida. Pensei nisso. Mas tomei os remédios em uma ordem que o clonazepam fizesse efeito mais rápido e ajeitei o travesseiro pra evitar refluxo. Por incrível que pareça, eu não consultei o relógio. Estávamos por volta de 5 ou 6 da tarde. Dormi imediatamente.
Acordei e estava com um esparadrapo no braço e uma agulha. O esparadrapo servia para prender a agulha. Da agulha saía soro com outra coisa. Minha mãe estava perto. Mas não lembrava direito de ver ela. Era difícil ver as coisas. Estava como se tivesse de acordado de um sono pesado que não havia sonhos. Reconhecia o lugar. Hospital, óbvio. Mas não um qualquer. Eu já estive lá como acompanhante e minha mãe como paciente. Engraçado isso.
Perguntei a hora 20:00 do dia 21. E exigi que tirassem aquele soro de mim. Dói. E parecia que tinha mais gente da família. Mas era só minha mãe. Eu não conseguia ficar de pé. E tive que ir me forçando. Abrir os olhos em luz e azulejo de hospital, dói. Não conseguia gravar o rosto da enfermeira, e nem ler o que estava escrito no crachá dela.
Não lembro como saí da sala. Mas queria me internar. Se eu atento contra a minha própria vida eu posso ser internada. E doutora Lívia podia assinar embaixo. Tive medo. E me recuperei mais rápido que podia. Tinha que convencer. Esse era meu papel. Pedi para um dos enfermeiros tirarem o esparadrapo de mim, criei certa dignidade no rosto e parti em busca da doutora que cuidou de mim.
Enquanto isso minha mãe me disse que eu estava lá desde 8:00 da manhã do dia 21, quando minha irmã abriu a porta do meu quarto e viram que eu não conseguia melhorar de maneira nenhuma. Preciso de um cigarro nesse segundo. Aliás minha irmã escondeu a chave do meu quarto. Viva a privacidade! Se eu quisesse me matar me atirava da janela, partia pra cima de um carro, espera o meu pai dormir e tomava os remédios dele, que são de pressão e funcionariam muito mais.
Consegui descobrir o rosto e o nome da doutora que cuidou de mim. Foram 10 frascos de soro aproximadamente, porque não havia mais tempo de fazer lavagem. Paula, loura. Falei sobre o meu transtorno, das minhas oscilações e simplesmente pedi pra ir. Ela consentiu. Recebi alta, enfim.

Escrevi isso antes de apagar na cama em casa, novamente:
21/04 às 23:43 3ª tentativa. Mas foi mais que uma tentativa. Foi uma maneira de chamar a atenção. Quando eu sai do terapeuta a vontade era de morrer. Depois fui vendo que a necessidade era de autodestruição. E fui me destruindo. Mas não havia o medo de morrer. Seria bom. Bom. Tô com tanto sono e mesmo assim (não é legível). 23:49 Rubs não chegou ainda. Não quero escovar os dentes também. Quero terminar o meu maço. e Explorar amigos. E explorar estômago. Eu não posso ler o que eu tô escrevendo. Dormir. dormir. Dormir!

Dia 20 foi aniversário da Bianca e eu só lembrei na hora em que escrevia coisas importantes no meu corpo: senha do banco, email, nomes, palavras certas, palavrar erradas. Bianca fazia isso. Eu ainda faço.

Mãe, desculpa se não agüentei, mas dói. Isso eu escrevi nos dedos.

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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Vamos ao trabalho

Baseado em Comédia de Samuel Beckett: Obliterar

obliterar
o.bli.te.rar
(lat obliterare) vtd 1 Fazer desaparecer pouco a pouco, mas deixando alguns vestígios; destruir com o uso; expungir, suprimir: O tempo obliterou os caracteres da inscrição. vtd 2 Fazer esquecer: Nada lhe obliterará os feitos. vpr 3 Apagar-se o que estava escrito: Obliterou-se a legenda do quadro. vtd 4 Obscurecer: O vício oblitera a razão. vtd 5 Macular de caso pensado: "Obliterar um selo" (Laudelino Freire). vtd 6 Med Fechar, tapar (canal ou cavidade), obstruir: Obliterar um orifício. vpr 7 Med Fechar-se progressivamente (canal ou cavidade): O canal obliterou-se. vpr 8 Extinguir-se, ficar esquecido: Estranho ritualismo, que se vai obliterando.

domingo, 19 de abril de 2009

Meu barco era um chapéu

...a minha vida tem dois lados
tem dois lados a minha vida
se não tivesse dois lados
não teria um rio no meio...

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sexta-feira, 17 de abril de 2009

Vazio

Acreditar no vazio e seguir equilibrada nele. É disso que preciso agora. E desculpa são desmentidas no pensamento ou na velocidade da fala. Por isso tenho alguns problemas de pronúncia. Mas é somente me equilibrar. E um dia de cada vez até acabar. Até o último lamejo. A última piscada de olhos.

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segunda-feira, 13 de abril de 2009

Lindas. Queridas. Atrasadas. Saudades




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sábado, 11 de abril de 2009

Apagado o último resquício de luz










Refletor apaga totalmente. Não há esperança de volta. Não são 5 segundos, nem 3. A espera, enfim, acabou. Cortina.

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Por (22 de março de 2009)

Repeti algumas vezes que sou maior do que este tipo de situação. Conclui que não preciso descer ao nível de outras pessoas para me fazer compreender. Controlei minhas atitudes, não disse nada. Segui em frente como quem controla um carro por uma estrada já conhecida. Ou seja, com toda a calma do mundo, mas também com a fúria e a vontade de chegar o mais rápido possível ao ponto desejado. Fiz de mim curva, contornei a situação para que me sentisse melhor. Nada. Afirmo que não valeu a pena. Pois o que eu queria mesmo era gritar ali, na frente de todo mundo para que todo o mundo pudesse ouvir. Queria dizer que considero este tipo de coisa um absurdo. Que é preciso ter respeito pelas pessoas e saber que nem todas são feitas de ferro. Eu queria subir na cadeira e dizer que me senti traido, que vi os sinais de minha estrada piscarem vermelho e mesmo assim você continuou. Mas não. O ser humano é orgulhoso e, como ele, eu fui também. Brasileira disse que precisamos depositar menos confiança nas pessoas que pouco conhecemos. Eu não sei fazer isso. Como também não sei me passar por forte quando não sou. Não me ensinaram nem nunca procurei aprender também. Por que precisamos sempre manter a postura? Santinha. Eu sou fraco. Pensei sobre o que eu vi ocorrer várias vezes e ainda continuo pensando. Santinha. O melhor é saber que foi uma dupla traição. Os meus chifres são sentimentais, pois não havia nem nunca há de existir algum tipo de relação entre nós que pudesse ter um nome. Ou qualquer tipo de rótulo e afins. Eu fui traido por mim. por me fazer tão crente, amigo e querido. por me fazer pau-para-toda-obra. por me fazer anfitrião, boasvindas, sinta-se em casa. por me fazer campo fértil, balão de festa, algodão doce. por me fazer desejável quando, na verdade, minha alegria e prazer são de montanha-russa. velozes. por me fazer palhaço de meu próprio circo sem platéia. por me fazer planta, avenca, queimada pelo sol e pisada pelas crianças que teimam em brincar no jardim. por me fazer espelho de minha mãe, peso de papel familiar e blusa que falta um botão. sempre. por me fazer carinho e namorar. por me fazer crer que as coisas um dia podem ser melhores do que são hoje. por me violentar, me prender caminhão rua sem saída. A dentista me disse que eu preciso comer mais frutas, melhorar a minha alimentação, cuidar mais da minha saúde. É engraçado, mas ouvindo tudo isso parece que só eu preciso melhorar. Tenha dó. por me fazer ladrão de seu sorriso.

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sexta-feira, 3 de abril de 2009

Sobre morte e afins

Eutanásia - Não quero permanecer vegetal. Prefiro ser. Existir. E não considero qualquer tipo de vida em que eu não possa ter minha liberdade, independência e pensamento livre. Como em Mar Adentro, peço que alguns amigos me digam se estão dispostos à fazer minha eutanásia caso necessário.

Sobre vida - Vivo um dia de cada vez e as coisas estão melhorando. Sinto que o sangue que sai da minha vagina é libertador de alguma forma. E sinto que a partir do ano novo serei nova. E calma. Escrever sem trocar letra, escrever trocando poucas, até o momento de não precisar mais escrever. Morrer.

Amigos - Sei quem está realmente do meu lado. Mas não posso depender de ninguém. E eu conto com alguém especial, que nem morreu por mim nem nada, nem fez qualquer coisa pra ninguém, nem era tão bom assim. Eu dependo de mim mesma. Isso é clichê. Mas eu estou só. Está escrito por trás das paredes azuis do meu quarto velho há muito tempo. Estou só e não posso contar com ninguém. Nem com minha mãe, pra surpresa de muitos.

Interesses - Eles existem. Apesar do meu transtorno. Mas agora está na hora de agir pelo eu, Amanda Doria, ou só Amanda, do que pelo eu transtornado. Terapia serve para alguma coisa. Me esperem na minha direção VI. A V vai ser o tal treino.

Saudades - Sinto algumas saudades, mas elas não dizem respeito a ninguém a não ser ao meu equilíbrio.

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quinta-feira, 2 de abril de 2009

Eu que não estou aí onde estou

Não estou. Cadê meu nome nos créditos?

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