O melhor café você conhece pelo cheiro

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Terceira Tentativa - 20 de abril

800 mg de clorpromazina
50 mg de clonazepam
4 250 mg de ácido valpróico
2 mg de nicotina
24 h sem dormir
Alguma coisa de cafeína

Tranquei a porta do quarto à chave. Tinha comido, logo a hipótese de vomitar era quase inválida. Pensei nisso. Mas tomei os remédios em uma ordem que o clonazepam fizesse efeito mais rápido e ajeitei o travesseiro pra evitar refluxo. Por incrível que pareça, eu não consultei o relógio. Estávamos por volta de 5 ou 6 da tarde. Dormi imediatamente.
Acordei e estava com um esparadrapo no braço e uma agulha. O esparadrapo servia para prender a agulha. Da agulha saía soro com outra coisa. Minha mãe estava perto. Mas não lembrava direito de ver ela. Era difícil ver as coisas. Estava como se tivesse de acordado de um sono pesado que não havia sonhos. Reconhecia o lugar. Hospital, óbvio. Mas não um qualquer. Eu já estive lá como acompanhante e minha mãe como paciente. Engraçado isso.
Perguntei a hora 20:00 do dia 21. E exigi que tirassem aquele soro de mim. Dói. E parecia que tinha mais gente da família. Mas era só minha mãe. Eu não conseguia ficar de pé. E tive que ir me forçando. Abrir os olhos em luz e azulejo de hospital, dói. Não conseguia gravar o rosto da enfermeira, e nem ler o que estava escrito no crachá dela.
Não lembro como saí da sala. Mas queria me internar. Se eu atento contra a minha própria vida eu posso ser internada. E doutora Lívia podia assinar embaixo. Tive medo. E me recuperei mais rápido que podia. Tinha que convencer. Esse era meu papel. Pedi para um dos enfermeiros tirarem o esparadrapo de mim, criei certa dignidade no rosto e parti em busca da doutora que cuidou de mim.
Enquanto isso minha mãe me disse que eu estava lá desde 8:00 da manhã do dia 21, quando minha irmã abriu a porta do meu quarto e viram que eu não conseguia melhorar de maneira nenhuma. Preciso de um cigarro nesse segundo. Aliás minha irmã escondeu a chave do meu quarto. Viva a privacidade! Se eu quisesse me matar me atirava da janela, partia pra cima de um carro, espera o meu pai dormir e tomava os remédios dele, que são de pressão e funcionariam muito mais.
Consegui descobrir o rosto e o nome da doutora que cuidou de mim. Foram 10 frascos de soro aproximadamente, porque não havia mais tempo de fazer lavagem. Paula, loura. Falei sobre o meu transtorno, das minhas oscilações e simplesmente pedi pra ir. Ela consentiu. Recebi alta, enfim.

Escrevi isso antes de apagar na cama em casa, novamente:
21/04 às 23:43 3ª tentativa. Mas foi mais que uma tentativa. Foi uma maneira de chamar a atenção. Quando eu sai do terapeuta a vontade era de morrer. Depois fui vendo que a necessidade era de autodestruição. E fui me destruindo. Mas não havia o medo de morrer. Seria bom. Bom. Tô com tanto sono e mesmo assim (não é legível). 23:49 Rubs não chegou ainda. Não quero escovar os dentes também. Quero terminar o meu maço. e Explorar amigos. E explorar estômago. Eu não posso ler o que eu tô escrevendo. Dormir. dormir. Dormir!

Dia 20 foi aniversário da Bianca e eu só lembrei na hora em que escrevia coisas importantes no meu corpo: senha do banco, email, nomes, palavras certas, palavrar erradas. Bianca fazia isso. Eu ainda faço.

Mãe, desculpa se não agüentei, mas dói. Isso eu escrevi nos dedos.

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2 Comentários:

  • "Estava como se tivesse de acordado de um sono pesado que não havia sonhos.";...

    Às 6:44 PM  

  • E você me ligou e não falou nada?



    Eu não vou criticar, não posso.
    Viajo esse fim-de-semana com a minha mãe.



    Só mais uma coisa: eu realmente não poderia.

    Às 11:17 PM  

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