O melhor café você conhece pelo cheiro

sábado, 10 de janeiro de 2009

Mistério na rua Mineira, São Cristóvão

Bela manhã, saiu de casa e subiu a ruazinha, portando leveza cínica (sua leveza lhe parecia deliciosamente pesada) e furor. Na frente do prédio salmão. Apertou numa campainha e acertou: – Me deu uma vontade louca de saber como você é, quem você é, como é sua casa, sua vida. Vim. (Pausa. Espanto.) – Entra. – Quero saber como é o seu beijo. (Beijo.) – Vamos para o meu quarto. (...)(,,,)(!!!)
A sua boca é um pouco agressiva, esse penteado também é agressivo e estranho e ríspido. Seus braços são bonitos. E seus olhos (!) têm alguma coisa mais misteriosa, algo que não me diz nada de você, diz de mim. O que eles estão trazendo? Foi a forma como você olhou pro meu gato persa-angorá?
– Eu conheço pessoas que te conhecem, sabia? – Qual é o seu nome? – Lucas. – O meu é Rodrigo. – Peixe. – ?! – Eu vi no orkut. E, bem, vou te ver dormir? Não? Então vou embora. Abre a porta pra mim?
Mas... se bela manhã eu saísse do número 27 subsolo 101 e subisse a ruazinha portando – sim, portando! – minha leveza cínica e meu furor? Na frente do prédio salmão que estou vendo daqui. A janela. Essas persianas de bambu se abrem como num mágica. Que mão é esse que as abre mas não olha através? O cachorrinho andava no parapeito antigamente. Era um cachorrinho dessa raça que eu gosto mas esqueci o nome, o que posso dizer é que era pequeno e tinha a cara amassada como se tivesse levado um soco. Detrás da grade ele andava balançando o rabo-cotó. Que cena mais triste, mas que eu desejava que não acabasse nunca. Por mim, que o cachorro passasse seus dias a fio no desespero solitário, no ridículo de passear num parapeito, que prosseguisse nessa atitude patética, para o meu prazer.
A mãe está sempre aqui na frente. É a vizinha do carro vermelho, é como dizem. Conversa com minha mãe Ana e com a vizinha que também é Ana, assim com a outra vizinha do terceiro andar, que não conversa, mas é Ana também.
Há algo maior nisso tudo. Que mistério estou revelando? No que eu pensei no momento exato em que o vi, na minha sala, olhando para o gato, sorrindo, feliz Natal e etc? naquele “instante-já”, qual a imagem mais virgem? E esse cão que poderia não ser dele e pode, assim como a mãe e o carro vermelho e a persiana, cada um pode ser completamente dissociado. Estou quase acreditando que intuição existe. Quase. Explicito tanto os mistérios do sexo que os transformo em teoria, em notas de rodapé.

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