O melhor café você conhece pelo cheiro

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Ontem e hoje

ONTEM
No 804:

...e toda vez que ela telefona eu fico tenso e acho que todos percebem quando desligo. Parece que tudo fica distante.
"Acho que a gente imita muita coisa que já foi."
Eu também acho, Tomás, também fico decepcionado com nossa geração.
Me deixa viver.
Alguém me faça viver.
Aandar até o ponto do ônibus. Chegar lá e o ônibus já ter passado. Uma mala. Um sorriso. Um choro.
Por que hoje a gente está fazendo tanto silêncio? Acho que a gente sempre fez mas às vezes ele incomoda mais.
Eu não esqueço as pessoas.
Hm-hum. Não levanto os olhos do papel.
Como eu queria ser mais livre.
Como fazer para ser mais livre?
Como fazer para ser?
Como fazer para?
Como fazer parar?
A vontade que eu tenho... Se eu fosse fiel a mim, largava tudo. Me abandonava. Mas só sou fiel aos outros.
Meus gestos têm sido rápidos e desassociados da intenção - isso na vida mesmo. Perdi o cuidado com o que pretendo passar.
"Oi bota aqui, oi bota aqui o seu pezinho
Seu pezinho bem juntinho com o meu
Oi bota aqui, oi bota aqui o seu pezinho
Seu pezinho bem juntinho com o meu
Depois não vá dizer que você já me esqueceu
Depois não vá dizer que você já me esqueceu."

HOJE
Aqui:

Outro dia, no telefone, ela perguntou por que minha voz estava daquele jeito, perguntou se eu estava triste. Eu disse: Eu tô sempre triste, mãe. Hoje ela veio conversar comigo. Tentei explicar e não consegui, assim como não tenho conseguido com ninguém. Falei que tenho estudado e ensaiado e que a vida não é só isso, que eu me sinto só. Ela perguntou sobre meus amigos. Eu disse que alguns estavam afastados. Ela perguntou se não era por causa daquilo que eu acho que eu sou. Eu disse que não, não era por isso, era por cauda da falta de tempo, e que eu não acho - eu sou. Disse da minha dificuldade para sair, que tenho medo das pessoas. Ela achou que eu tenho verginha por ser gay. Eu expliquei que não era isso, que tenho me sentido feio, magro, inseguro, estranho. Ela falou que eu tinha que ir num psicólogo e eu concordei. Eu disse que também não estou à vontade com meu grupo, não me sinto bom, tenho vergonha de entrar em cena e tenho perdido a noção da qualidade do meu trabalho. E que me sinto só e preciso de alguém. Ela falou pra eu conversar com o padre Francisquinho. Aí eu percebi que perdi minha mãe também. Apesar dela ser a única aqui em casa a conversar comigo sobre isso, apesar de ter sido tão bonito ela querer me ajudar, percebi que já estamos distantes, em realidades opostas. E que, de certa forma, estou sozinho no mundo. Tenho os amigos, claro. Mas minhas raízes estão todas soltas. Falei do meu pai, que ele sabe, mas finge que não, e quando ele confiamar que eu sou gay ele vai ter alguma atitude estranha. Disse pra minha mãe que meu medo não é só por amor, é também porque ele me sustenta. E me pai já não gosta mais de mim. Ele me ama, mas não gosta. Não tenho nada que possa cahmar atenção nele, se eu não fosse filho dele, eu seria o tipo de pessoa que ele detesta. Quando converso com minha mãe volto uns anos atrás. Tô me sentindo com 15. Choramos abraçados. Ela acha que eu sou triste porque sou "assim", é como ela diz. Cansei de explicar que não. Sentart num banquinho da cozinha se agarrando aos móveis, e chorar, é normal? digo: fazer isso várias vezes, é normal?

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