Começo
Primeiro dia. Comecemos do início: A infância. Estranho ter que ir tão longe pra falar do que se quer dizer agora. Agora quero dizer que me sinto extremamente solitária. Voltemos ao antes. Não sei se sei ou não porquê, talvez suponha, tá eu sei.. era porque era gorda, negra, portanto, feia. Os meninos beliscavam minhas coxas, me feriam. Eu não conseguia fazer nem falar nada. E voltava ferida pra casa sem muitas explicações. Não tinha nenhum amigo durante muito tempo. Aquele colégio era o pior lugar que eu consigo pensar que já estive. Nele eu era muda. Maltratada pelas crianças. Sozinha.
Meu cabelo é duro e nessa época acho que era mais heresia até do que é hoje ter cabelo duro, mas posso estar enganada. Um dia fui de coque para a escolinha, a filha da tia Ive, vizinha que ficava comigo e com a minha irmã enquanto minha mãe trabalhava que fez. Prendeu só com grampos. Os grampos foram saindo e fui me tornando a Maria Bethania aos 3. Lembro de mim chorando, sentada no balanço, esperando que alguém me levasse embora. Essa foi uma das cenas que mais marcaram minha memória.
Um belo dia, uma menina brnaca e loura, chamada Clara, resolveu ser amiga da preta excluída. Então me tornei menos sozinha e mais dependente.
Antes disso: Toda vez que eu tinha que tirar fotos alguém dizia pra eu sorrir. Eu sorria. Mas mostrava o meu lábio cerrado e meu olhar triste. As pessoas nunca gostaram disso.
Depois de arranjar a primeira amiga, fui pra outro colégio. Durante um ano estudei nema escola estrnha, que me lembro de pessoas estranhas. Não me lembro se era feliz ou não. Já por essa época fazia alguma espécie de masturbação pensando no menino que pegava a condução comigo. Ele tinha cabelo tipo Chitãozinho e Xororó, moda na época, era branco e nem sabia da minha existência.
Fui pra outras escolas e mantive relações interesseiras. Gostava de lá porque as pessoas me tratavam bem. Tinha uma menina com paralisia no braço, acho que eles preferiam mexer com ela, talvez eu também mexesse.
Tinha um menino que eu gostava. Agora já era moreno, moreninho. E nunca soube que eu gostava dele. Lá eu descobri que sabia observar para produzir desenhos. Era seis anos. Era uma boa pobre aluna com vários péssimos ricos alunos. Me sentia feliz, minha tia comprava biscoitos caros sem preguntar o preço e me dava. Eu nunca usava a cantina quando ela não tava lá. Ela era professora de Português. As pessoas até gostavam dela. Pessoas com muitas estrelas. Eu no primeiro.
Minha mãe demorava pra me buscar. Era bom porque as crianças esquecidas pareciam comigo. Educação física era complicado. Eu preferia sentar, não correr e pular. Sobrava no queimado porque ninguém conseguia me queimar e eu não queimava ningém. Uma vez ouvi sermão da professora de educação física. Ela tinha o cabelo curto e era bem magra.
Meu cabelo tá bonito em uma foto. Não lembro o que achava do cabelo. Continuava gorda. Comia passatempo de resto de lanche alheio. Era um dos motivos que queria ficar. Na escola velha tinha pastel de queijo, cheirava bem, não lembro se comi um próprio meu. Mas lembro de ter passado mal com presunto e ter me orgulhado muito.
26 de julho de 2008
Meu cabelo é duro e nessa época acho que era mais heresia até do que é hoje ter cabelo duro, mas posso estar enganada. Um dia fui de coque para a escolinha, a filha da tia Ive, vizinha que ficava comigo e com a minha irmã enquanto minha mãe trabalhava que fez. Prendeu só com grampos. Os grampos foram saindo e fui me tornando a Maria Bethania aos 3. Lembro de mim chorando, sentada no balanço, esperando que alguém me levasse embora. Essa foi uma das cenas que mais marcaram minha memória.
Um belo dia, uma menina brnaca e loura, chamada Clara, resolveu ser amiga da preta excluída. Então me tornei menos sozinha e mais dependente.
Antes disso: Toda vez que eu tinha que tirar fotos alguém dizia pra eu sorrir. Eu sorria. Mas mostrava o meu lábio cerrado e meu olhar triste. As pessoas nunca gostaram disso.
Depois de arranjar a primeira amiga, fui pra outro colégio. Durante um ano estudei nema escola estrnha, que me lembro de pessoas estranhas. Não me lembro se era feliz ou não. Já por essa época fazia alguma espécie de masturbação pensando no menino que pegava a condução comigo. Ele tinha cabelo tipo Chitãozinho e Xororó, moda na época, era branco e nem sabia da minha existência.
Fui pra outras escolas e mantive relações interesseiras. Gostava de lá porque as pessoas me tratavam bem. Tinha uma menina com paralisia no braço, acho que eles preferiam mexer com ela, talvez eu também mexesse.
Tinha um menino que eu gostava. Agora já era moreno, moreninho. E nunca soube que eu gostava dele. Lá eu descobri que sabia observar para produzir desenhos. Era seis anos. Era uma boa pobre aluna com vários péssimos ricos alunos. Me sentia feliz, minha tia comprava biscoitos caros sem preguntar o preço e me dava. Eu nunca usava a cantina quando ela não tava lá. Ela era professora de Português. As pessoas até gostavam dela. Pessoas com muitas estrelas. Eu no primeiro.
Minha mãe demorava pra me buscar. Era bom porque as crianças esquecidas pareciam comigo. Educação física era complicado. Eu preferia sentar, não correr e pular. Sobrava no queimado porque ninguém conseguia me queimar e eu não queimava ningém. Uma vez ouvi sermão da professora de educação física. Ela tinha o cabelo curto e era bem magra.
Meu cabelo tá bonito em uma foto. Não lembro o que achava do cabelo. Continuava gorda. Comia passatempo de resto de lanche alheio. Era um dos motivos que queria ficar. Na escola velha tinha pastel de queijo, cheirava bem, não lembro se comi um próprio meu. Mas lembro de ter passado mal com presunto e ter me orgulhado muito.
26 de julho de 2008
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