O melhor café você conhece pelo cheiro

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Moonwalker

Eu tinha uma cachorra por engano e estudava num coleginho perto de casa. Eu comia pão com manteiga e açúcar mas ficávamos sozinhas. Ela comia também. Tinha uma poltrona ex-sofá entre as duas camas. A gente era só. Tardes com cortinas fechadas. Ela comia pão também. Metade. A gente se dividia. Tocava o mesmo filme. Que dava medo mas era pra crianças. Com um hoje ex-preto. Ela tinha uma cara triste. Porque era eu que tava vendo. Ela não tinha cor. Porque eu não era colorida. Não lembro se ela latia. Acho que ela chorava.
Teve uma vez que me buscaram de bicicleta na porta do coleginho. Foi bonito. Acho que ralei a perna na corrente. Foi bonito. E não tinha telefone. A gente vendeu: 351-6607. Era verde, que gira. Sala, quarto, corredor. O quarto cabia duas e era tão maior que hoje. Era enorme. A televisão era alugada. Colortel. Quase um uso capião.
Tinha o gravador. Pai gravei o jornal nacional. O barulho da água caindo da pia da cozinha. Tinha até família. Primos. Mãe, pai, irmã, cachorro quente. Pedrita.
Hoje eu. Não sei. Mas que memórias vão ficar? As memórias dos outros?
Eu queria chorar até acabar. Depois começar tudo que tem pra começar e terminar tudo que eu já comecei. E terminar esses também. Queria numerar tudo. Fazer listas organizacionais. Fazer meu mapa astral. Me mudar pra Piaçabuçu. Rasgar meu caderno. Escrever no meu corpo. Me mudar pra Nova Iorque. Sorte.
Hoje temos 1 telefone. Mais 3. Mais 3 meus: 313727028698109588494624923184138513864492114457
Dois dvds. Nenhum cachorro.
Três gatos. Nenhum pão com manteiga e açúcar.
Hoje nem existe ontem. Só em momentos como agora. Raros. Sem poltronas. Sem camas juntas. Ninguém mais me divide.

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