Primeiro fragmento
O momento histórico é de pessimismo, ceticismo e amargura (KUSANO, 1993, 14). Com a Contra-Reforma, para conter os impulsos de outras doutrinas que não a católica, a Igreja se consolida abrindo mão da transcendência (ROUANET, 1984, 35). A vida terrestre e a salvação devem ser olhados de outra maneira, não há mais Deus como fiador do homem. Essas questões devem ser vistas com termos profanos. Estamos agora sujeitos à história. História cega, sem objetivos messiânicos por trás; é sucessão de catástrofes. O homem não é agente da história: é sujeito. A história pertence a natureza. E não há nenhuma justificativa para sofrimentos. “A história não tem sentido e permanece a mesma ou pelo menos repete incessantemente o seu ciclo atroz” (KOTT, 2003, 13). O homem é miserável diante da grandiosidade do destino. É a nova ordem.
Para conter o destino surge a política. O príncipe serve para conter ameaças de rebelião e da guerra civil. “Legitima o poder do rei e minimiza-se a força do único chefe absoluto que existia até então: o papa.” (KUSANO, 1993, 12). O povo clama por príncipes. É um poder absoluto, autoritário, ditatorial e totalmente legítimo aos olhos da época. Não é por força repressora que Segismundo sobe ao poder. Não há qualquer golpe militar. Segismundo recebe a coroa das mãos fervilhantes do povo. “Por fé te aclamemos senhor nosso” (CALDERÓN DE LA BARCA, 1973, 140). O soldado é claro: o rei tentou fugir a natureza, chamou a corte para isso, “mas nós, o povo, sabemos já que temos rei natural” (idem). A queda do monarca é a queda também da sociedade. Ao mesmo tempo que em Vida é Sonho o povo se levanta pelo rei da legitimidade natural, o povo vai atrás de de Laertes, em Hamlet, pela deposição de Cláudio, ao supor que o rei deixou de cumprir o seu princípio fundamental: defender a ordem contra as incertezas da história. O Teatro Barroco se constrói através dessa concepção da história, criada com a visão de imanência, e da contenção dela pela força do príncipe.
O homem barroco deixou a presença apaziguadora, justificativa, de Deus para aceitar a presença do príncipe. O príncipe estabiliza a história. O homem contemporâneo sofre todas as questões de se sentir efêmero, pequeno, ser criado, aniquilado pela história. Mas não tem por fiador nem mais o príncipe. A solidão o torna mais vulnerável ainda. Não pode mais tentar estabilizar a história através de qualquer subterfúgio. Sente-se cada vez mais impotente. As catástrofes se sucedem e cada vez mais as mãos dos homens estão atadas. Não que não tenha ímpetos de finalizar o que o aniquila, mas simplesmente não sabe como. “Não havendo mais um centro fixo no mundo, todas as coisas caem no vazio onde nada pode sustentá-las ou orientálas” (MATOS apud LOPES, ,84).
As possíveis revoluções implodiram. Deus morreu. A política morreu. O homem está mais sozinho que nunca. Os homens morrem pelas mãos dos próprios homens. Há desesperança maior que essa? Reconhece-se a absurdidade: “ A incompatibilidade entre o insistente esforço de racionalização do homem e o mundo não racional que ele habita” (WILLIANS, 2002, 228). O resultado lógico da constatação do absurdo é o desespero, o suicídio. Há os que cedem ao suicídio. Há os que se suicidam vivendo. E há aqueles que vem o suicídio como evasão. O teatro de Camus tem um meio de tentar frear a força catastrófica da história: é apresentado o rebelde. Já Beckett não apresenta qualquer solução. Somos seres aruinados, como Nagg e Nell, vivendo em latões até o apodrecimento total. Estamos condenados a espera. O homem barroco de hoje vê soluções? “o homem da segunda metade do século XX já não tem razões para crer nas ilusões que o moveram cinqüenta anos antes.” (KOTT, 2003, 14). Estamos entregues a imanência, ao desespero que vem da absurdidade e a impossibilidade.
Somos barrocos até a chegada do príncipe. Ou partida. De fato, abdicamos do príncipe. Nossos heróis morreram, somos somente vítimas de nós mesmos. “Os herdeiros da melancolia são habitantes de uma época em permanente insegurança, sem ídolos, sem paixões utópicas. Sob o Sol cinza, um mundo em permanente trânsito para lugar nenhum. As catástrofes da modernidade são o solo para a retomada do pensar catastrófico do Barroco” (LOPES, 1999, 135). Porém, é claro que admitir tudo isso para simplesmente chegar ao Barroco não me deixa com o espírito harmônico. Estamos sozinhos, entregues ao vazio e somos barrocos. E agora?
Para conter o destino surge a política. O príncipe serve para conter ameaças de rebelião e da guerra civil. “Legitima o poder do rei e minimiza-se a força do único chefe absoluto que existia até então: o papa.” (KUSANO, 1993, 12). O povo clama por príncipes. É um poder absoluto, autoritário, ditatorial e totalmente legítimo aos olhos da época. Não é por força repressora que Segismundo sobe ao poder. Não há qualquer golpe militar. Segismundo recebe a coroa das mãos fervilhantes do povo. “Por fé te aclamemos senhor nosso” (CALDERÓN DE LA BARCA, 1973, 140). O soldado é claro: o rei tentou fugir a natureza, chamou a corte para isso, “mas nós, o povo, sabemos já que temos rei natural” (idem). A queda do monarca é a queda também da sociedade. Ao mesmo tempo que em Vida é Sonho o povo se levanta pelo rei da legitimidade natural, o povo vai atrás de de Laertes, em Hamlet, pela deposição de Cláudio, ao supor que o rei deixou de cumprir o seu princípio fundamental: defender a ordem contra as incertezas da história. O Teatro Barroco se constrói através dessa concepção da história, criada com a visão de imanência, e da contenção dela pela força do príncipe.
O homem barroco deixou a presença apaziguadora, justificativa, de Deus para aceitar a presença do príncipe. O príncipe estabiliza a história. O homem contemporâneo sofre todas as questões de se sentir efêmero, pequeno, ser criado, aniquilado pela história. Mas não tem por fiador nem mais o príncipe. A solidão o torna mais vulnerável ainda. Não pode mais tentar estabilizar a história através de qualquer subterfúgio. Sente-se cada vez mais impotente. As catástrofes se sucedem e cada vez mais as mãos dos homens estão atadas. Não que não tenha ímpetos de finalizar o que o aniquila, mas simplesmente não sabe como. “Não havendo mais um centro fixo no mundo, todas as coisas caem no vazio onde nada pode sustentá-las ou orientálas” (MATOS apud LOPES, ,84).
As possíveis revoluções implodiram. Deus morreu. A política morreu. O homem está mais sozinho que nunca. Os homens morrem pelas mãos dos próprios homens. Há desesperança maior que essa? Reconhece-se a absurdidade: “ A incompatibilidade entre o insistente esforço de racionalização do homem e o mundo não racional que ele habita” (WILLIANS, 2002, 228). O resultado lógico da constatação do absurdo é o desespero, o suicídio. Há os que cedem ao suicídio. Há os que se suicidam vivendo. E há aqueles que vem o suicídio como evasão. O teatro de Camus tem um meio de tentar frear a força catastrófica da história: é apresentado o rebelde. Já Beckett não apresenta qualquer solução. Somos seres aruinados, como Nagg e Nell, vivendo em latões até o apodrecimento total. Estamos condenados a espera. O homem barroco de hoje vê soluções? “o homem da segunda metade do século XX já não tem razões para crer nas ilusões que o moveram cinqüenta anos antes.” (KOTT, 2003, 14). Estamos entregues a imanência, ao desespero que vem da absurdidade e a impossibilidade.
Somos barrocos até a chegada do príncipe. Ou partida. De fato, abdicamos do príncipe. Nossos heróis morreram, somos somente vítimas de nós mesmos. “Os herdeiros da melancolia são habitantes de uma época em permanente insegurança, sem ídolos, sem paixões utópicas. Sob o Sol cinza, um mundo em permanente trânsito para lugar nenhum. As catástrofes da modernidade são o solo para a retomada do pensar catastrófico do Barroco” (LOPES, 1999, 135). Porém, é claro que admitir tudo isso para simplesmente chegar ao Barroco não me deixa com o espírito harmônico. Estamos sozinhos, entregues ao vazio e somos barrocos. E agora?
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