O melhor café você conhece pelo cheiro

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Dias, Piares, Virão

Eu acordo e imediatamente vou fazer o café. O cheiro do café tomando a casa enquanto eu me ensabôo me faz lembrar você, me faz pensar que é você quem esta a preparar a minha manhã com suas mãos. Saio do banho e deixo o chuveiro a gotejar, isso só para lembrar da sua voz me gritando, pedindo para a torneira eu fechar.
Saio de casa correndo e sempre deixo algo para trás. Faz-me bem ter que subir as escadas de novo para ter você ali na porta, com o casaco ou o guarda-chuva na mão, a minha espera. Então ameaço atravessar em meio ao sinal aberto, só para ter que sentir de novo o seu toque preciso em meu braço, dizendo volte, ainda não vá.
Coloco os óculos de sol num dia nublado e paro no meio de uma praça qualquer, só mesmo para ver você balançar a cabeça desaprovando a minha escolha. Então tiro os óculos e deixo a luz do dia me mostrar a intensidade das suas cores.

No trabalho, interrompo os afazeres várias vezes, atendendo o celular para o qual várias vezes você costuma ligar. Peço desculpas, mas não posso aceitar todos os convites de almoço, afinal, já marquei todos os almoços com você. À tarde, na livraria, leio pedaços dos versos que você me obriga a ler, todos os dias. Quando é hora de voltar para casa, faço todos os seus desejos e compro a pipoca bem salgada de sempre, só para que o algodão doce faça sentido logo depois.

Quando a noite começa a cair, entro no carro e não coloco o cinto de segurança. Isso só para ouvir a sua voz me dizendo o que devo fazer. No caminho até a nossa casa, passo na farmácia e compro o xampu que há dias fiquei de comprar: eu demoro a escolher até encontrar o seu cheiro perdido numa prateleira alta demais de se alcançar.

Quando abro a porta de casa, ouço a mesma e doce ladainha, por isso dou meia volta e deixo os sapatos do dia na soleira da porta, entro descalço e tenho que ir direto ao banheiro, caso contrário posso não ganhar o seu beijo. No banho, ouço de longe o barulho da panela, a fome me lembra que estou vivo. Enxugo-me, não sem antes me confundir sobre qual toalha é minha e qual é sua.
Talvez eu nunca vá saber distinguir o que é meu do que é seu porque nossas cores se completam.
Então vou até a cozinha e esquento qualquer coisa no forno de microondas. Ouço a sua voz que vem do quarto me dizer, não retire antes de apitar. Mas é tarde, eu adoro te contrariar. É prova do meu amor por você. Pego dois garfos, dois copos, mas uma só garrafa. Vou para o nosso quarto e lá está você, parada, me esperando.
A luz no topo oscilando, o corpo menor desde quando o dia começou. Faz quase sete dias que você partiu. Janto sozinho, bebo sozinho. A luz do corredor eu já não deixo acessa. Durmo olhando para você, para aquela flama de luz que me adormece e me pacienta.
Acordo e vou imediatamente fazer o café. Às vezes ligo o som enquanto estou no banho. Gosto de ouvir, de longe, a sua voz acompanhando os versos, as rimas... Todas as nossas metonímias.

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