Alice 118
Relato Andreza Bittencourt – 24/06/2008
O trabalho construído pelo Grupo Alice 118 ao longo de 10 anos foi dedicado há desenvolver uma pesquisa de linguagem própria a partir da trajetória da diretora Ana Kfouri aliada a experiência de cada ator.
Nos dois primeiros espetáculos os atores e a diretora se dedicaram a encenar autores brasileiros, como Nelson Rodrigues,
Festim, terceiro espetáculo do grupo, surgiu da vontade dos atores vivenciarem personagens. Ana Kfouri propôs, então, que cada ator escolhesse um personagem ou personalidade da história mundial. Dessa forma, cada ator escolheu e pesquisou textos, biografias, assistiram a vários filmes e o roteiro foi elaborado a partir de diversos textos, sendo utilizado trechos de vários autores, escritores e poetas, como Adélia Prado, Luis Fernando Verissimo, Rubem Fonseca, Drummond, Mário Quintana, Gregório de Matos, Shakespeare, James Joyce, Nietzsche, entre outros, intensificando cada vez mais a fragmentação de textos já desenvolvida pelo grupo. Nesse período os atores se dedicaram ao longo de 6 meses somente para a criação do roteiro. A idéia criada por Ana kfouri era a de que esses personagens se encontrariam numa grande festa na casa de Narciso (personagem escolhido por um dos atores).
Depois de intensificarem essa pesquisa textual Ana Kfouri propõe ao grupo criar seu quarto espetáculo: Comoção. Mergulhando na investigação corporal encenando um espetáculo onde a idéia foi desenvolvida através da tessitura dos corpos, criando uma aventura através dos estados emocionais do homem e suas conseqüentes ações e reações frente às vicissitudes da vida. Se inicia, nesse momento, uma investigação espacial, ao trabalharem pela primeira vez em uma arena e a relação ator-expectador. Em Comoção o grupo pesquisou por 1 ano e meio. Uma pesquisa de muita técnica e experimentação sensorial. Todos os atores passavam por todos os momentos da vida, desde bebês a idosos passando pela infância, adolescência e maturidade. A pesquisa proposta por Ana Kfouri era a de que os atores vivenciassem estados corporais. Não poderiam ser caricatos. Como exemplo, para que os atores descobrissem os bebês a pesquisa foi toda em cima do estado primitivo, os adolescentes pelo corpo desengonçado, o idoso pela exaustão de movimentos, o peso do corpo e o olhar constantemente recontando imagens da memória. Em relação a proximidade com a platéia, Comoção proporcionou aos atores o início dessa pesquisa que mais tarde é intensificada
Com Potlatch, uma homenagem à escritora Hilda Hilst, o grupo intensifica essa pesquisa aproximando ainda mais os pólos ator-espectador e explorando a relação espacial promovendo um espaço de convivência artística, compreendendo na própria apresentação, debates e jogos interativos, de maneira convidativa e informal. Em Potlatch, o grupo extrapola essa pesquisa. O espetáculo começa do lado de fora do teatro. São as rodas das Loris e dos Crassos. Cada ator reúne sua roda e narra um trecho do Caderno Rosa de Lori Lambi (as atrizes) e Contos de Escárnio (os atores). Depois o público é convidado a entrar no teatro e se divide em três rodas. Em cada roda três atores. Esse momento foi muito curioso em nossos ensaios porque nós conversávamos com a platéia sobre a vida de Hilda Hilst. Nos ensaios foi a etapa mais difícil pois tínhamos que conquistar uma naturalidade muito grande num texto que era decorado. Essa proximidade com o público foi um exercício de muitas descobertas pois era preciso fazer um esforço para não fazer esforço. Uma suposta tranqüilidade, um grande fingimento que você não está em foco, que você não está dominando aquele jogo, mas no fundo é você quem faz todo aquele clima se instaurar, é uma contradição, você sai do lugar central, mas continua nele e com mais força ainda.
Marcadores: Direção, Teatro Porrada ou Triste Espetáculo, zazá
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