O rato morto
...e havia um rato morto dentro de mim. Tive que retira-lo com cuidado, aceitando a responsabilidade sobre sua morte. Porque ele entrou e mim na esperança de habitar-me e se deparou com o vazio. Talvez não tenha morrido de fome, exatamente. Talvez tenha morrido de susto, que do vazio sempre emerge o que é ausente, e o vazio não é não haver – é vestígio. Ou talvez tenha se suicidado diante de uma liberdade absoluta e solitária. E talvez eu também esteja habitando um vazio, talvez o vazio de alguém. E todos estejamos trancados no vazio de Deus. E talvez Deus seja um menino sonhador, cujos pais trabalham fora o dia inteiro. Talvez estejamos na imaginação do menino, ocupando seu vazio. Talvez ele um dia seja atropelado e morra com nós todos. Talvez perca a memória e todos desapareçamos, dando lugar a coisas que nem podemos dimensionar. Talvez estejamos no vazio de seu estômago e determinemos sua fome. Talvez nos vomite um dia, porque posso sentir seu estômago, suas contrações. Estamos entalados na sua garganta! Não vamos deixar que abra a boca e nos diga, nos transforme em sons, em palavras incomunicáveis. Que ele permaneça mudo, e sob nosso comando.
Marcadores: cais
1 Comentários:
Li, Lemos,lerei o que vc escreve.
Às 4:03 AM
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