O melhor café você conhece pelo cheiro

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Faz tempo

Se quando chego, já quero partir, para que me movo? Pra onde? Por quem?
Não quero que nada saia do lugar onde está, mas que tudo cresça e se multiplique.
Querida, quando eu tiver dinheiro vou morar com você. Sempre penso nisso.
Tudo tudo tudo nada nada nada.
Sonhar.

Miguel, filho da minha prima, tem quatro irmãos. Miguel era calado. Hoje está vermelho de sol e muito feliz e falante. Disse que gosta de sol: “eu gosto de sol, vocês não sabem não?” Vitória, sua irmã, gosta de ficar descascada. Vitória se desculpa muito e gosta de passeios. Outro dia me mandou um scrap que Gabriel (o mais velho) falou que sou gay e ela não acreditou. Me perguntou se era verdade. Gabriel é falante, agressivo e gosta de vinho, bebeu vinho do meu tio escondido; Vitória é vaidosa e gosta da gente, é um pouco assustada; Miguel é calado, dizem que tem problemas nos nervos, olhos grandes, sorri com modéstia; Daniel é o loiro, cabelos lisos, nariz sujo, está sempre babando, parece ser o mais amado pela mãe e sabe se fingir de morto; Ana Júlia é a bebê, sempre desconfiada, é a Meg.

Todos os que eu gostaria de ver realmente moram longe, não posso sair e marcar uma cerveja de sopetão. Quintino, Cordovil, Taquara, Nilópolis, São Cristóvão, Tijuca, Campos, Friburgo. Só Botafogo ali do lado. Mas somos todos iguais.
“As aparências enganam aos que gelam e aos que inflamam.”

Todo dia o mesmo grande esforço para sentir prazer. Foca-se nos sorrisos, cria-se um cigarro. Sigo.

Faróis no meio da noite. Numa velocidade não real. Uma velocidade de filme.

Já se perdeu o que eu estava quase encontrando. Quem?

Por que corredores você anda nessas tardes vazias? Essas tardes parecem trazer a lua. A lua mais cedo, e cheia, só por ironia.

A noite vazia e ondulante. Depois de se sentir só, percebeu que seus desejos eram caprichos. Caprichos de lua cheia, de verão. As pernas dissociadas da boca cerrada firmemente. Não havia força para ser sensual. A qualquer pré-sinuosidade, a resposta do profundo senso do ridículo. Cigarros e copos servem de coluna. Saiu sem saudade. Sem nada que o prendesse. O que lhe dava tanta fé? O tempo?
Abandonado, o corpo largado, sem tônus, esticado, os ombros abertos, mas os braços colados. Um boneco de Olinda.
Não vai ser em vão.
A necessidade era a de se sentir desejado nos meios. Desejado sexualmente. Nos trilhos do metrô se fazia de menina inteligente. Tímida. Olhava com reserva, rápida. Outro dia foi olhada por dois de forma bem intensa. Estava linda ou muito feia. Sempre havia a possibilidade da feiúra. Apostava na inocência como atenuante para seu deslocamento, sua ignorância social. Não adiantava. Ninguém tem mais tempo. Quem não sabe dançar que sai rápido da roda, que ela só dura até as seis. Depois todos retornam apagados.

Mas talvez nada tenha acontecido. Vai ser amanhã e pode dar tudo certo.

Marcadores:

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]



<< Página inicial