O melhor café você conhece pelo cheiro

domingo, 7 de dezembro de 2008

Rhoda

"- Este é meu rosto - disse Rhoda - no espelho por trás do ombro de Susan; este rosto é o meu rosto. Vou agacharm-e atrás dela para ocultá-lo, pois não estou aqui. Não tenho rosto. Outras pessoas têm rostos; Susan e Jiny têm rostos; estão aqui. O mundo delas é um mundo real. as coisas que elas soerguem têm peso. Elas dizem: 'Sim"; dizem: 'Não"; eu, porém, sempre que me movo, ou me transformo, é possível ver através de mim em apenas um segundo. Se encontram uma criada, ela as fitam sem rir. Mas de mim ela ri. Elas sabem o que dizer quando são interpeladas. Riem de verdade; enfurecem-se de verdade; ao passo que eu preciso olhar em volta de mim e fazer o que os outros fazem

(...) A violência de minha emoção atira-me de um lado para outro. Imagino essas pessoas inominadas, imaculdas, observando-me atrás de arbustos. Pulo bem alto para chamar a atenção delas. à noite, na cama, excito sua admiração. Muitas vezes morro trespassada de flechas só para arrancar suas lágrimas. Se elas dissessem, ou se eu reconhecesse pelas etiquetas em seus baús, que estiveram em Scarborough nas férias passadas, a cidade toda ficaria dourada e o calçamento se iluminaria. Por isso odeio espelhos que me revelam meu verdadeiro rosto. Sozinha, muitas vezes mergulho no nada. Preciso firmar meu pé fortemente, senão caio do limite do mundo para dentro do nada. Preciso bater minha mão contra uma porta rija, para me chamar de regresso a meu corpo."

WOOLF, Virginia. As ondas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980, pp. 33-34.

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