O melhor café você conhece pelo cheiro

terça-feira, 3 de junho de 2008

Eu já não quero mais.

Por favor, não vá bater à porta, não vá chegar assim, minutos depois do horário marcado.

Eu já não quero e agora rezo, no meu interior, não chegue sequer atrasado. Não chegue.

Eu desisti, meu prazer partiu, quando abri a janela para ver se era você chegando. Se fosse, se tivesse sido, o prazer em você refletido voltava ainda mais quente rumo a minha face. E eu diria da janela, Calma aí que eu vou descer para abri o portão.

Mas não, eu já não quero descer. Quero ligar o televisor e me esquecer. Deixar nele correr a vida, mentirosa, dos outros e apenas acordar no dia seguinte, como fosse possível ausentar-se de si por algumas horas.

E peço que me ligue agora, não para dizer nada, apenas para falar, Foi mal, não deu, não vou poder te encontrar hoje. Você pode amanhã? é o que provavelmente você dirá. E eu responderei categórico, o amanhã é hoje e hoje eu não vou poder.

Porque eu não quero mais. Esvaí meu único desejo desta noite, aquele reservado a você, em um cigarro. De menta. Posso querer algo mais? Talvez um café, uma busca incessante por sentido dentro dessa cabeça que tanto se agitou lavando-se os cabelos. Tudo isso para você, que não veio.

Por isso, eu peço, onde quer que esteja, seja no ônibus vindo para cá, ou num táxi que você achou prudente para não demorar muito: atropele-se. Não venha. Encontre outro qualquer pela rua e sinta o desejo por este novo ser transbordar. Meu desejo por você essa noite morreu. E como você atrasou as coisas, o dia chegou ainda amargurado pela noite não vivida.

Assim, estou vencido pelo resto da semana. Não quero sexo, nem amor, nem paixão. Não quero desculpas, nem mensagens, nem passagem de avião. Eu quero esquecimento. Avançar rumo ao próximo e não mais isso de esperar.

Meu corpo nunca se conheceu tão profundamente depois que você partiu. Sua falta fez-me as lacunas ouvirem. E estão agora todas dizendo, Não deixe que volte! Não deixe!

Por isso, eu não quero mais o nosso hoje que já passou.

Rezo, na religião que inventei neste momento, que não venha mais. Não venha.

E se por acaso insistir, provavelmente direi Saudades! quando te ver chegar. Mas não é bem isso o que quero. E talvez o que quero eu vá somente esconder, dissimular, não te dizer e me matar. Aos poucos. Como morrem os amantes, vou me matar.

Já faz quase uma hora. Espero que se multiplique. A fome abate-me o corpo e desejo agora comer um biscoito, mas não mais me ter com você.

L.

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