O melhor café você conhece pelo cheiro

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Hoje

De vez em quando eu conto uma coisa pra um de vocês, depois não sei mais pra quem foi. E contar de novo é me repetir, vocês se completam. Cada um é um pouco de mim. E depois, nós quatro somos um só. Que não sou eu. Nem qualquer de vocês. Mas ninguém sabe onde eu termino e começa o Rubens, onde a Helaine me começa. Onde a Nara me termina.
Posso, a cada momento, me achar mais parecida com um, mais próxima de outro. Mas somos um só. Sou a indecisão da Nara, a praticidade da Helaine, a incompatibilidade do Rubens. E invejo um pouco de cada um também. Queria fazer amigos com a facilidade que o Rubs faz, queria pular sem pára-quedas igual a ele. Construir cada dia um amanhã diferente porque simplesmente o hoje não combina mais. Queria ver intensamente a estabilidade que ele vê em Jesus. Que eu nunca vou poder ver em qualquer coisa. Eu acho que nunca briguei com a Helaine. Talvez tenha brigado, mas eu não consigo lembrar. Talvez eu tenha dado qualquer bronca nela pra mostrar que de vez em quando temos que ficar bravas pra fazer algum efeito. Mas é tão clara a nossa simbiose. Desculpa pelas milhões de vezes que eu te disse "não vou sair", é que eu não consigo ser mais a mesma. E apesar de parecer que a gente só tem o "desejo interesseiro de se ver" é tudo mentira. Posso te ligar pra dizer oi e ficar duas horas falando oi. A gente gosta e, na maior parte do tempo, pensa nas mesmas coisas. De você eu queria a atitude, a cara de pau, as aventuras. Você é a melhor irmã do mundo.
Narinha é inha mesmo. A parte que eu não posso mostrar. O carinho, a doçura, a sutilieza. E caminhamos juntas em pensar uma, duas, e repensar, ar. Se a Nara analisa todas as possibilidades, eu analiso as dela e as minhas, e as minhas com as dela. O carinho que ela dá é o carinho que eu queria demonstrar. O sacrifício que ela faz é o sacrifício que eu finjo fazer.
Agora é raro a gente estar inteiro. Estamos sempre partidos pela vida que nos odeia. E nosso corpo é fragmentado e fraco. Estou mutilada. Sem unidade estamos perdidos. Eu estou perdida. Como era tão forte e auto-suficiente. Mas que merda de auto-suficiência era essa que só acontecia quando estávamos juntos? Não há mais diversão na minha vida. Desde a primeira partida do Rubs o meu mundo caiu. E eu venho tentando juntar num balde cada gota d'água que eu era construída. Em vão, cada dia ele parte mais e cada vez mais próxima de não ser mais água. Um vidro, vulnerável, uma lamínula, não me toque eu vou quebrar. Nossa falta de criatividade, nossa falta de dinheiro. Nossas obrigações com o dinheiro afastaram vocês duas de mim. Ainda somos as mesmas? Mas raramente respiramos o mesmo ar. Sinto falta de conviver. Hoje sou cada vez mais só. A cadeira e eu. A caneta e eu. O blog e eu. A praia e eu. Os filmes e eu. A morte, eu. A vida nunca será igual a antes. E nem sei mais se antes ela era boa. Mas eu não suporto mais o hoje. E o melhor que eu posso fazer é me anular. Pra não prejudicar meu futuro, minha mãe, vocês. Eu quero partir pra nunca mais voltar. Ouço músicas estupidamente alegres, com cervejas estupidamente geladas e só penso em fatalidades. Atravesso a rua cada vez mais atenta, Amandine Poulain não sabia. Eu sei. Eu espero. Até quando?

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