Sartre por Helaine Nascimento
JEAN PAUL SARTRE
Nasceu em 21 de junho de 1905 na cidade de Paris, um ano antes da morte de seu pai, jovem oficial da marinha, que morreu vitimado por uma febre. Segundo o próprio Sartre, fora esse o maior acontecimento de sua vida " Se tivesse vivido, meu pai teria desmoronado sobre mim e me esmagado”. O filósofo afirmava que graças à ausência da figura paterna, crescera sem superego, portanto livre de agressividade ou desejo de dominação.
Teve uma infância feliz com a mãe e na presença constante dos avós.Sua adolescência foi um pouco conturbada,devido a seus atributos físicos,ou melhor a falta deles.Já com 15 anos se muda para Liceu Henrique IV onde torna-se aluno interno e desenvolve seu gosto pela leitura.
Aos 19 anos,aprovado no exame do ensino secundário, Sartre garante sua vaga no curso de filosofia da Escola Normal Superior. Entre os seus contemporâneos Maurice Merleau-Ponty, Claude Lévi-Strauss, Simone Weil e Simone de Beauvoir. Este ambiente foi a estufa de sua genialidade.Seu intelecto o torna atraente para mocinhas iludidas, o lhe permite superar a feiúra notória e prosseguir como um bonvivent, insaciável em sua fome de conquistas sexuais e em sua sede de cerveja, só superadas por sua gana por livros e conhecimento.Neste período Sartre iniciou com Simone de Beuvoir um “romance”, os dois logo se tornaram amantes, desenvolvendo uma relação que envolvia reciprocidade de críticas agudas e profundas, bem como de conselhos práticos. Ele se torna seu “guru” intelectual e (péssimo) conselheiro de moda, ao passo que ela o convence a tomar banho, trocar de camisa e passar pomada nas espinhas, enquanto o demole com críticas penetrantes e honestas. Estes primeiros tempos dariam pistas de que esse relacionamento seria duradouro.A relação dos dois é definida em termos de liberdade e transparência,Sartre a definiria com termos kantinianos,inspirando-se na distinção entre verdade necessária e verdade contingente,segundo ele sua relação com Simone seria necessária e com outras mulheres contingente.O pacto relacional incluía lealdade absoluta de um para o outro:contariam tudo o que acontecesse,inclusive os casos contingentes.Esse tipo de relacionamento era um escândalo na década de 20.
Após a graduação Simone passa a lecionar e Sartre presta serviço militar durante esses dezoito anos chegou a muitas concepções: para ele Descates estava errado,Kant era inadequado,Hegel não passava de um burguês,teve por pouco tempo um fascínio por Freud,mas logo reagiu,reivindicando a autonomia da mente negada pela psicanálise.Em face da Fenomenologia de Husserl finalmente Sartre encontra a filosofia do sujeito que daria conta da realidade,levando em conta a liberdade do individuo.
Foi para Berlim em 1933 onde iniciou estudo sobre uma filosofia chamada por ele informalmente de existencialismo,termo originado de um filosofo dinamarquês que afirmava ser o “individuo existente” a única base para a filosofia significativa,dizia ele que deveríamos nos sustentar na especificidade da experiência e na sua natureza essencialmente individual, afim de percebermos nossa verdadeira liberdade.
Em 1934 retorna a Paris e começa a redigir suas investigações fenomenológicas,transformando suas anotações em um romance filosofico que mais tarde foi publicado pelo título a Náusea,nem abstrato nem didático,que visa evocar a própria sensação da existência –um mergulho na consciência.
O Muro juntamente com A Náusea foram recebidos com aclamação da crítica,transformando Sartre na mais promissora figura literária da Rive.
Este período coincide com a iminência da Segunda Guerra que,estoura e Sartre é convocado para o exército francês. "A Guerra dividiu a minha vida em duas”afirmaria um Sartre que teve toda a sua percepção transformada pelo evento da guerra. Curiosamente enquanto servia ao exército francês numa estação meteorológica, dedicava-se à leitura de Heidegger. A impenetrável metafísica do alemão absorveu Sartre completamente, pois ele visava escrever uma obra de filosofia realmente grande.
Sob a luz da guerra, o pensamento existencialista de Sartre evoluiu rapidamente. Lançando suas raízes tanto para o empirismo de Hume, quanto para o racionalismo de Descartes, mostrando todas as suas implicações. Desenvolve com radicalidade o conceito da liberdade humana, ante o absurdo. O existencialismo mergulha a filosofia na ação, tornando-se quase uma estratégia de vida.
Quando Sartre se torna prisioneiro do exército alemão, prossegue com seu programa de leituras de Heidegger, em sua terra natal. Ele possuía a chave que levaria o existencialismo a dar o passo seguinte à Fenomenologia de Husserl.
Sua libertação se dá por motivos humanitários e graças a um atestado médico falso que conseguira comprar. Em 1941 se põe a escrever sua obra-prima "O Ser e o Nada", publicada em 1943.A obra causou grande impacto nos círculos filosóficos da França, varrendo os cafés do Quartier Latin e a Rive Gauche, popularizando os lemas niilistas do existencialismo.
Quando a guerra termina, em 1945, o cenário de uma Europa destruída, se torna o pano de fundo propício à compreensão da filosofia existencialista, pois ela falava daquela situação absurda na linguagem do momento. A França, humilhada e carente de heróis, elegeu Sartre o ícone de sua resistência cultural. Chegou mesmo a escrever um livro que explicasse o existencialismo em termos mais acessíveis( O existencialismo é um humanismo - 1946), em razão da demanda popular.
O existencialismo e Sartre se tornaram então, produto francês, tipo exportação. Ambos alcançaram fama em toda a parte. Mas Sartre não se vendeu aos conceitos burgueses de fama e sucesso. Fazia questão de ser imprevisível. Escrevia, escrevia e escrevia, chegando a apelar para a "vida química", que lhe proporcionava a comodidade de manter-se ligado, e desligar-se quando não houvesse mais forças. Seu pensamento continua em evolução. Entende que a liberdade do indivíduo, embora seja uma atitude sustentável em termos de filosofia, dificilmente seria plausível em termos sociais. Em O existencialismo é um humanismo, a compreensão sartriana da liberdade individual se estabelece em termos de responsabilidade social, de engajamento. Isso somado à sua natural antipatia pela burguesia, o aproximou do socialismo, embora ele não se admitisse marxista. Porém em 1952, Sartre torna-se marxista, afirmando que "o marxismo reabsorveu o homem na idéia, e o existencialismo o procura por toda parte onde ele esteja - no trabalho, em casa, na rua”. Não ingressou em nenhum partido, pois seu individualismo não o permitiria. Suas relações com o marxismo se delinearam teoricamente na obra Crítica à Razão Dialética(1960), refletindo em muito o historicismo marxista, cuja crítica determinista do desenvolvimento da civilização e a dialética o atraem intelectualmente.
Em 1964 é agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, ao qual rejeitou, afirmando que "o escritor não se deve deixar transformar pelas instituições. Sua revista Les Tempes Modernes, tornou-se sua voz na França e no mundo, nela Sartre faz pronunciamentos sobre fatos contemporâneos. Os extremistas de direita queriam sua morte, a polícia sua prisão, mas ele tinha no general DeGaulle um aliado que afirmava ser Sartre um grande homem da história e ainda, que não se poderia "prender Voltaire".
A década de 70 é marcada pelos problemas de saúde, preço que teve que pagar por sua opção de "vida química". Assistido de perto por Beauvoir, Sartre ficava cada vez mais debilitado. Falece em 15 de abril de 1980, aos 74 anos.
Seu enterro foi um acontecimento que atraiu milhares de pessoas. O cortejo percorreu lugares marcantes de sua vida, onde produziu, viveu e de onde concebeu o pensamento que seria de toda uma geração. Movimentos radicais em todo o mundo inspiraram-se em seus escritos, embora suas leituras sobre os fatos continuassem mais como idéia do que como realidade. "Aí estava de fato, uma existência fútil num mundo absurdo".
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