O melhor café você conhece pelo cheiro

sábado, 29 de outubro de 2005

Ninguém sabe o que aconteceu em Senador Camará

Primeira apresentação minha no Teatro Vida foi hoje (ontem), com cinco dias de ensaio. foi num lugar recôndito do Rio de Janeiro, depois de Bangu.
Tava meio tensa de manhã, mandei todo mundo a merda e lugares semelhantes, sem que ninguém merecesse (só meu pai merecia). O Paulo marcou às duas no metrô de Coelho Neto e apresentação só era mesmo às sete, bem coisa do Paulo.. fora isso minha mãe me acordou às sete da manhã pra perguntar se ia ter aula, coisa bem da pirada, sendo que se eu disse que não ia ter aula não ia, mas ela não acreditou em mim: "Mas minha filha, deu no Bom dia Rio que o feriado foi transferido!" Daí não consegui mas dormir. Acordava o tempo todo e sonhava com coisas estranhas. Quando acordei de vez fui pro fervente metrô de Coelho Neto esperar, acho que esperei uma hora sei lá. Estressada passando o texto com o Paulo, que em alguns momentos não tem um pingo de tato. Quando o Vénicio chegou já devia ser três horas. Almoçamos carne seca e carré, arroz feijão, refri. Tanta comida que mal me aguentava em pé, me enchi de café pra ver se acordava e fomos pra onde ia ser a apresentação, um salão de festas, tudo muito arrumadinho. Passamos o texto e tudo foi muito tranquilo. Tomei banho de cano e comecei a me arrumar. Nessa hora eu já previa que não teria muito público, mas eu não contava que a natureza fosse contribuir pra isso. Começou a trovejar. cada estrondo maior que o outro. Seis e meia (eu acho) começou a chover e alguém gritou: é granizo! Achei que fosse um leve exagero, uma brincadeira. Mas fui olhar. É!!!! Tava chovendo gelo!! Pedras enormes. Maior barulheira, correria, griataria. Foi muito estranho... Daí me vei pela cabeça as vezes que eu estava ensaiando a outra cena e primeiro a Luana desapareceu e depois o Ney levou um tiro no pé, pensei que alguma coisa não queria que eu me apresentasse no Teatro Vida. Alguma força superiorrrrr..(aiai..quantabobagem, isso é pra dar suspense..) Com a chuva de granizo os ratinhos, bem pretinhos e magrinhos, começaram a sair do esgoto e deve ter entrado uns três no salão, para nosso desespero. Mas depois vieram uns meninos que tavam na rua e mataram um dele eu fiquei triste, não precisava matar era só espantar.
Mas a cena ia acontecer mesmo assim, nem que fosse pra uma pessoa só, o Paulo tava falando. Continuei me arrumando a chuva de granizo passou e a gente ficou esperando o cara que chamou a gente aparecer pra começar. Acho que a gente começou sem ele mesmo, o sacolão dele, que era na mesma rua tava alagado e tudo. Comecei. Eu era antes do Raphael.
(música)
Se assuste não (bebê se assustou na primeira fila). Não se assuste não (bebê se assustou de novo e deu uma que ia chorar). Eu tô com essa roupa pra i pro samba. Os panu são emprestado. Hoje eu tô que tô. (música)
Grana apertada. Os fundo do bolso furado. Tô que nem camelô fugindo do Rapa, numa incerta.
Tô sem pouso sem decolagem. Coisa macabra, nego. Tô fundida se o mal pega. Mas pensando bem, o negócio é não isquentá as turbina. Vou dizer uma coisa pra vocês: quando a coisa fica fogo lá em casa eu pego a minha fregedeira(erro o texto falo frigedeira no lugar de fregedeira) e vou cuzinhar na vizinha. Vou fazer fumaça em outro fogão. Vou fazer fumaça em outro terreiro. Oh, onde há fumaça há fogo, topedo. (deixa a frigedeira sobre a mesa)
Como é que pode? Como é que pode um chefe de família se sustentar com um salário miserê, com um ordenado desordenado, porra! É, a expressaõ da palavra já diz: ordenado. quer dizer, uma ordem pra gente viver mal. Ordenou falou!
Supositamos que a coisa melhore. Supositamos eu falei supositamos? Ah, desculpa aí. Suponhetemos que a grana melhore.. Bem seja qual for o palavreado o negócio é que os menino tão tudo quase passando fome lá em casa. É sopa e angu o dia todo. Tem sopa e angu saindo até pelos nasal. Ó coisa drástica. Já pensou: sopa e angu saindo pelos narizes? É dinheiro curto é uma bosta. (nessa parte, eu acho, eu errei o texto, pulei uma frase. Devia ter dito: Emprego nada. Tô há um ano e três mesi sem batente. Mas eu fui direto para:) O negócio é ir pro samba (pausa) ou apelar (aí a luz acabou, voltou logo depois) Apelar pra Deus nos ajudar. Ih, mas Deus deve tá com o saco cheio de pedido.. Desliga dessa, brother (aí a luz acabou de vez e eu parei de fazer.)
Daí a gente ficou esperando a luz voltar, mas não voltou. O cara foi pegar as velas e depois o Vénicio chegou e deram a idéia de botar o farol do carro dele pra iluminar o palco. E foi isso que ele fez, sendo que minha cena tem uma música e como a luz acabou no meio o CD ficou preso dentro da bandejinha. Mas ele conseguiu pegar e colocou no carro, abriu a mala pro som chegar no salão todo. De repente começou a chegar um bando de adolescentes, muito animadinhos por sinal, e sentaram na patléia. Morri de medo. A primeira vez da apresentação com cinco dias pra decorar o texto mas mesmo assim (um milagre a conteceu!!!!) eles riram!! Me senti tão bem depois. Alguns minutos que eu acabei a cena a luz voltou. Me senti aliviada.
Resto do texto:
A nossa salvação é a associação de moradores aqui do bairro. Que segura as ponta da gente numa boa. Na hora do sufoco: Deus tá lá. Deus tá lá. Rente que nem pão quente.
Aqui entre nós, heim. Sou a elegância em pessoa. Dá uma olhada aqui na figuraça. Tô parecendo mas estrela de Hollywood do que mulher do povo. Só se for estrela de Hollywood do cigarro. Eu sou estrela: é da porra. É, isso é pra lustra meu ego, enfeitar o meu ganso. Meu marido não tá mais agogand o ganso não, só tá enfeitando. É, com a falta de grana até minha vida sexual caiu de nível, com a falta de dinheiro nem o ganso quer se afogar mais aqui no meu piscinão de Ramos. É, com a carência nem o ganso aguenta. E pra suportar as agruras da vida o negócio é cantar.


P.S.: Acho que perdi meu piercing também...