O melhor café você conhece pelo cheiro

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Rio, 26 de abril de 2008

Suja. Me sinto suja. O crime da falta de autenticidade. Não me importo de mentir. O problema é não ter o controle sobre isso. Minha máscara habitual caiu e se esfarelou. Eu peguei qualquer goma e tentei ainda esconder o rosto_ que deve ser escondido!_ com os farelos disformes. Nada deu certo. Agora tenho uma máscara tão feia que, se pudesse algum dia ver como o meu rosto é, talvez até achasse mais bunito.
Cada passo que dei ontem eu sentia minha farpa entrando mais e mais. A cada minuto o tempo dizia, num dizer nada apressado, que eu não deveria ir contra o autêntico. Quem escuta sussurro de tempo? Do primeiro instante ao último mostrei minha máscara pisada com disfarces de dama voluntariosa. Nada me fez esquecer da mentira. Nem os outros. Nem o tempo, que no lugar de sussurrar passou à tática do boicote. Deixava a mão no rosto e sentia a goma se liquefazendo, os farelos se desprendendo. Como eu queria não ter que ir pra casa e simplesmente sumir no momento exato.
Claro como o Sol me ama eu sei que ele trabalha silenciosamente pra me destruir, e eu o amo por isso. Nada é eterno. Nada ultrapassa o Sol. Nem ninguém eclipsará esse relacionamento, nem que isso me custe a eternidade.
Minha volta, intacta. Só não me escondo agora porque o Sol ainda tá aqui. Resquícios de compreensão. Vai.

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1 Comentários:

  • ...o compositor me disse que eu cantasse ligada no vento
    sem ligar pras coisas que ele quis dizer
    que eu não pensasse em mim nem e você
    que eu cantasse distraidamente como bate o coração
    e que eu parasse aqui, assim.
    (Gilberto Gil)

    Às 9:28 PM  

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